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    Servidor do planalto foi quem alterou perfis de jornalistas na Wikipédia

    MARIANA HAUBERT
    FERNANDA ODILLA
    FILIPE COUTINHO
    DE BRASÍLIA

    11/09/2014 17h15

    Um servidor lotado no Palácio do Planalto, filiado ao PT, foi o responsável por alterações feitas em perfis de dois jornalistas no Wikipédia, enciclopédia virtual colaborativa.

    De acordo com nota divulgada pela Casa Civil nesta quinta-feira (11), o servidor Luiz Alberto Marques Vieira Filho foi identificado e admitiu ser o autor das modificações pela comissão de sindicância aberta por ordem da presidente Dilma Rousseff para apurar o caso.

    Na nota, contudo, o Planalto não informa se ele agiu por conta própria ou a mando de alguém.

    Em agosto, a assessoria de imprensa da Presidência divulgou uma nota em que dizia ser "tecnicamente impossível" identificar o autor das modificações porque não haveria mais registros dos acessos feitos no período.

    Vieira Filho, 32, é filiado ao PT de Ourinhos (SP) desde 1999, de acordo com registro do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). A Folha não conseguiu localizá-lo.

    Servidor concursado do Ministério da Fazenda, o petista recebe remuneração bruta de R$ 22 mil, o que inclui o valor do cargo comissionado como chefe da assessoria parlamentar do Ministério do Planejamento, segundo registros do Portal da Transparência de julho.

    Ele ocupa o cargo comissionado desde maio de 2014 e, segundo Planalto, já pediu desligamento. A exoneração do servidor ainda não foi publicada.

    Na época em que fez as mudanças no Wikipédia, em maio de 2013, Vieira Filho exercia o cargo de assessor na SRI (Secretaria de Relações Institucionais) da Presidência da República, à época comandada pela ministra Ideli Salvatti (PT).

    Segundo a nota do Planalto, o servidor assumiu, durante as investigações, a autoria das alterações dos perfis dos repórteres Míriam Leitão, colunista de "O Globo", e Carlos Alberto Sardenberg, da CBN e Rede Globo, em maio do ano passado.

    O servidor responderá agora a um processo administrativo disciplinar, que tem prazo de 30 dias, prorrogáveis por mais 30 para ser concluído. O processo pode levar à sua demissão.

    Reportagem de "O Globo" publicada em 8 de agosto, mostrou que o endereço de IP 200.181.15.10, da Presidência, realizou mudanças nos perfis dos jornalistas com o objetivo de criticá-los, além de elogiar ministros do PT.

    O IP foi usado para associar Míriam Leitão ao banqueiro Daniel Dantas, afirmando que a colunista teria feito "a mais corajosa e apaixonada defesa" dele, e para desqualificar suas análises econômicas.

    Já em relação a Carlos Alberto Sardenberg, a rede do governo incluiu comentários para atacar o jornalista pelo fato de ele ser irmão do diretor da Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), Rubens Sardenberg.

    "A relação familiar denota um conflito de interesse em sua posição como colunista econômico", escreveram.

    ENTENDA O CASO

    As mudanças nos textos dos jornalistas ocorreram em maio de 2013 com o objetivo de criticá-los. Alterações em páginas de políticos também foram feitas no período.

    No final de julho, a Folha revelou que esse mesmo endereço de IP foi usado para incluir elogios na página sobre o ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, candidato do PT ao governo paulista. A página do vice-presidente, Michel Temer (PMDB), também foi alterada, com a retirada de informações.

    A comissão de investigação foi criada por ordem da presidente Dilma Rousseff em 11 de agosto e concluiu seus trabalhos nesta quinta-feira (11).

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