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    Profissionais protestam contra decisão que culpou fotógrafo por tiro no olho

    DE SÃO PAULO

    12/09/2014 10h07

    Profissionais da imprensa –entre eles fotógrafos, jornalistas e radialistas– fizeram um ato de protesto contra o Tribunal de Justiça de São Paulo que considerou o repórter fotográfico Alex Silveira culpado por ter sido ferido por um tiro de bala de borracha no olho, disparado pela Polícia Militar, durante a cobertura de uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, em 2000.

    Em apoio ao repórter fotográfico, que à época trabalhava no jornal "Agora São Paulo", do Grupo Folha, dezenas de profissionais posaram para o ensaio "Os Culpados" com um tapa olho e, nas redes sociais, manifestaram apoio ao colega. O ensaio foi divulgado na noite desta quinta-feira (10).

    Silveira perdeu cerca de 80% da visão esquerda. A Justiça, entretanto, considerou que o profissional foi o culpado pelo ferimento e derrubou, em decisão do dia 28 de agosto, a sentença de primeira instância que condenou o Estado a lhe pagar cem salários mínimos por danos morais e materiais, já que a perda parcial da visão prejudicou seu trabalho.

    Rubens Cavallari/Folhapress
    Profissionais posam com um tapa olho em protesto contra decisão que culpou fotógrafo por lesão
    Profissionais posam com um tapa olho em protesto contra decisão que culpou fotógrafo por lesão

    "O autor colocou-se em quadro no qual se pode afirmar ser dele a culpa exclusiva do lamentável episódio do qual foi vítima", diz a decisão do desembargador Vicente de Abreu Amadei, relator do caso, que foi seguida por outros dois desembargadores.

    A decisão causou indignação entre profissionais do segmento. Em nota, a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) e o sindicato dos jornalistas no Estado criticaram o Tribunal de Justiça.

    "Não apenas o desembargador transforma a vítima em culpado. Ele considera que todo jornalista que cumpra o seu dever de informar assume um risco e está por sua própria conta, desamparado pela sociedade", criticou a Abraji.

    O fotógrafo também lamentou a decisão, em carta publicada no site da Arfoc (Associação de Repórteres Fotográficos e Cinematográficos no Estado de São Paulo).

    "Realmente não consegui encontrar outra forma de explicar tal absurdo. Sim eu estava lá no cumprimento de minha profissão, entendeu o juiz. Sim, foi a polícia a responsável pelo tiro que me atingiu no rosto (bala de borracha). Mas julgou com isso que eu tenho culpa por ter me colocado na frente da bala. (...) E o mais bizarro e perigoso 'pra todos nós': ele entendeu que ao permanecer no local eu 'assumi o risco'", diz, em nota.

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