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    Um dia após TSE decretá-lo ficha-suja, Maluf manda sua equipe sorrir

    CÁTIA SEABRA
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    25/09/2014 02h00

    Marlene Bergamo/Folhapress
    Paulo Maluf durante entrevista ao Tv Folha, na redação da *Folha*
    Paulo Maluf durante entrevista ao "TV Folha", na redação da Folha

    Paulo Maluf adora contar uma piada em que duas portuguesas reclamam de seus maridos. Maria diz que Manoel já não lhe procura à noite, como fazia na juventude. Joana diz que seu caso é ainda pior: "O Joaquim não me bate mais".

    Maluf aplica a moral da história, de teor machista, à vida pública: é melhor apanhar do que enfrentar a indiferença. Há uma semana, ele repetiu a piada ao empresário Sergio Habib, sócio da JAC Motors e amigo do deputado federal Gabriel Chalita (PMDB-SP), que desistiu da reeleição por causa de investigações sobre sua evolução patrimonial.

    Maluf foi declarado inelegível pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral) uma semana depois dessa conversa com Habib. Mas, diferentemente de Chalita, não desiste. Vai recorrer ao TSE e ao Supremo Tribunal Federal (STF) e hoje mesmo promete fazer uma carreata em São Paulo.

    Engenheiro formado pela Politécnica da USP, ele adora números. Diz que numa carreata é visto por 2.000 pessoas por hora, o que resulta em 12 mil aparições numa jornada de seis horas.

    "Sorrir" foi a orientação que passou aos assessores na manhã de ontem, um dia depois da decisão do TSE de barrar sua candidatura com base na Lei da Ficha Limpa.

    Só que ele mesmo se mostrou irritado com o desempenho de seus advogados. Numa reunião com assessores, Maluf também reclamou da atuação da relatora do seu processo no tribunal, Luciana Lóssio.

    Como o julgamento foi transmitido pela TV Justiça, ele assistiu à sessão no quarto do casarão em que vive no Jardim Europa. Insatisfeito, mandou seus advogados permanecerem em Brasília.

    Além da batalha judicial, o ex-governador de São Paulo terá que enfrentar a resistência de seu próprio partido, descontente com sua concentração de poder.

    O presidente do PP, Ciro Nogueira (PI), duvida da hipótese de o STF reverter a decisão. "O próprio Maluf disse que essa seria sua última eleição", justificou Nogueira.

    Mantida a decisão, Maluf deve perder o controle do partido em abril. Para respaldar a medida, integrantes do PP alegam que, pela praxe, a presidência estadual do PP deve ser ocupada por um deputado federal eleito.

    Nesta quarta (24), indignado com o que assistira em uma hora e meia de sessão, o deputado não exibia o mesmo humor da semana passada, quando encontrou Habib num restaurante em São Paulo. Enquanto saboreava um Chateau Lafite 1966, raríssimo no Brasil e que custa o equivalente a R$ 1,5 mil nos Estados Unidos, Maluf dizia ser "101% elegível".

    Seguindo a lógica de que é melhor ser atacado do que ignorado, listou suas obras à frente da administração pública: "Eu poderia ser como a Erundina e ficar sentado no gabinete", ironizou, dizendo que fez um favor ao hoje prefeito Fernando Hadad (PT) por ter afugentado Erundina da chapa do PT para a Prefeitura de São Paulo.

    Naquela noite, ao elogiar a presidente Dilma Rousseff (PT), disse que a petista tem o defeito de guardar mágoas de desafetos. "Se eu fosse como Dilma, não falaria com 90% de São Paulo".

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    A SITUAÇÃO DE MALUF

    1 – Maluf pode fazer campanha mesmo tendo seu registro indeferido pelo Tribunal Superior Eleitoral?
    Sim. A Lei Eleitoral diz que, enquanto existirem recursos, o candidato tem direito a aparecer no horário eleitoral gratuito de rádio e televisão.

    2 – Apesar de não ter o registro, ele terá seu nome e foto na urna eletrônica?
    Sim. A lista de candidatos que estará nas urnas foi fechada no último dia 18 pelo Tribunal Regional Eleitoral de SP e não será mais alterada

    3 – O que vai acontecer com os votos obtidos por Maluf no dia da eleição?
    Se tiver êxito nos recursos ao TSE e ao Supremo Tribunal Federal, seus votos serão computados normalmente. Caso contrário, os votos serão considerados nulos.

    4 – Votos nulos por falta de registro podem ser validados posteriormente?
    Sim. Caso o TSE ou o STF garanta a Maluf o registro da sua candidatura, mesmo depois das eleições, ele terá os seus votos validados.

    5 – Essa situação já aconteceu no passado?
    Sim. Isso aconteceu com o próprio Maluf na eleição de 2010. Ele teve seu registro indeferido pela Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, mas, em dezembro, conseguiu uma liminar no TSE e pôde ser eleito.

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