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    'Se Pelé ainda jogasse bem, você iria se desfazer dele?', pergunta Suplicy

    MÁRCIO FALCÃO
    DE SÃO PAULO

    27/09/2014 02h00

    Após 24 anos representando São Paulo no Senado, Eduardo Suplicy (PT) considera sua atividade na Casa digna de Pelé. "Se você fosse técnico e Pelé estivesse jogando muito bem, você iria se desfazer dele?", pergunta.

    O petista recorre a relato de situações consideradas um tanto inusitadas para um político, como a mudança por quatro dias de uma casa nos Jardins para a favela de Heliópolis, em 2010, para justificar seu interesse e apresentar suas credenciais para um quarto mandato.

    As cenas são lançadas em conjunto com detalhes sobre discussões a respeito de mudanças no ICMS, renegociações das dívidas dos Estados, reforma política, descriminalização das drogas, debates que permeiam sua rotina no Legislativo.

    Em entrevista à Folha, o petista disse que foi criticado por seu adversário Gilberto Kassab (PSD) por má informação e provoca José Serra (PSDB): "o meu compromisso é permanecer senador oito anos". Ele garante que fica mesmo se receber um convite para ser ministro em um eventual governo Marina Silva (PSB).

    *

    Folha - O PT enfrenta uma das eleições mais difíceis em São Paulo, com alta rejeição do eleitorado ao partido. Qual é o problema?
    Eduardo Suplicy - Eu tenho a convicção de que até 5 de outubro o PT vai melhorar consideravelmente seu desempenho e vai chegar a vitória no segundo turno tanto para o Alexandre Padilha no governo, quanto para a presidente Dilma Rousseff em São Paulo e tenho muita confiança que serie bem sucedido, com todo o respeito aos meus adversários. Os debates entre os candidatos e o horário eleitoral está permitindo que cada um mostre suas qualidades e o PT será reconhecido.

    Mas qual o motivo da rejeição?
    Nós, no PT, não somos perfeitos. Cometemos erros, mas estamos procurando corrigir. O importante é que o partido possa sempre tomar providências para evitar erros que cometemos [referência ao mensalão] e que contribuíram para que houvesse esse desgaste. Ao mesmo tempo, acho que tem uma preocupação do PT de corrigir os malfeitos. Por iniciativa do próprio presidente Lula e da presidente Dilma que constituíram através da CGU, melhor aparelhamento da Polícia Federal e de ações para transparência nos atos da administração, na medida que mostramos que para o PT o procedimento transparente, ético é muito importante, e eu acho que contribuo para isso, acho que vamos nos afirmar cada vez mais.

    Mas o que poder ser feito para evitar a repetição do mensalão e outros casos de corrupção?
    Dentre as maneiras de corrigir os erros, eu por exemplo, tenho feito questão de registrar todas as doações de pessoas jurídicas e físicas, de qualquer natureza para minha campanha. Apresentei um projeto para que houvesse registro em tempo real de toas as contribuições até a véspera das eleições para que os eleitores tenham consciência de qual é a natureza de financiamento de cada partido e cada candidato, mas não foi aprovado.

    O senhor sempre liderou movimentos pela ética, como o fora Collor, como se sente vendo escândalos envolvendo o PT e partidos aliados?
    Tenho procurado sempre agir para prevenir e evitar [corrupção] e obviamente sou solidário a determinação da presidente Dilma de afastar todas as pessoas que tem realizado malfeitos no partido e no governo dela e ela tem sido muito firme.

    Seu adversário, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD) disse que, nos últimos 30 anos, São Paulo não teve bons negociadores no Senado.
    Eu acho que ele está muito mal informado. Se o Gilberto Kassab quiser saber melhor, ele pode se informar com o governador Geraldo Alckmin e com o secretário de Fazenda Andrea Calabi porque em todas as ocasiões em que houve votações de matérias relativas ao ICMS, ao Fundo de Partição dos Estados e de Participação dos Municípios, o projeto de comércio eletrônico, em todas as ocasiões eu atuei de maneira entrosada, em consonância com a Secretaria da Fazenda de São Paulo. Se ele perguntar ao Andrea Calabi, vai poder ouvir o que eu ouvi por duas ocasiões nos últimos meses: 'muito obrigado Eduardo, você foi meu senador aqui'. Por que se não tivesse havido a minha ação na Comissão de Assuntos Econômicos haveria aprovação de projetos prejudiciais para o Estado de São Paulo. E, inclusive, também defendo o projeto de renegociação da dívida do Estado e do município que é de grande relevância para diminuir o peso das obrigações de pagamentos de juros por parte do governo do Estado e do município de São Paulo.

    O que motivou a crítica?
    Má informação e desconhecimento. Não por falta de oportunidade porque, por exemplo, quando Gilberto Kassab assumiu a prefeitura convidei para visitar o Parque Ibirapuera num domingo e na oportunidade apresentei a ele as vendedores e vendedoras autônomas de lá. Contei como sugeri aos vendedores constituir uma cooperativa que foi altamente bem sucedida. E isso é atividade de um senador. Nesse mesmo dia, entreguei meu livro Renda de Cidadania: a saída é pela porta. Se ele tivesse lido, parece que não leu, ele teria visto e ficaria sabendo que eu fui o senador que apresentei o primeiro projeto de garantia de renda mínima. Qualquer estudioso de economia pode dar seu testemunho que sou um dos responsáveis pelos projetos de combate à pobreza. Desde os anos 70, estudiosos acompanharam a elaboração do primeiro programa de garantia de renda mínima no qual resultou naquilo que hoje é o Bolsa Família.

    A principal crítica a sua candidatura é que o senhor já está há 24 anos no Senado e busca mais oito anos. Não é importante a alternância de poder?
    O horário eleitoral de meus adversários não reconhecem que em todos os oito anos do Prêmio Congresso em Foco sempre estive entre os cinco melhores senadores. No levantamento feito há 21 anos pelo Diap [Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar] todos os anos fui escolhido dentre as 100 melhores cabeças, considerando todos os congressistas, há somente cinco parlamentares presentes em todas essas edições. Em trabalho realizado por dois PHDs brasileiros de Harvard, levando em conta cinco critérios, como representatividade, campanha responsável, ativismo legislativo, fidelidade partidária e debate parlamentar, que elaboraram uma equação, aquele que foi qualificado como melhor senador de 2007 a 2014 fui eu. Eu acho que eles deveriam ter maior responsabilidade e mostrar conhecimento do que se passa no Senado.

    Mas não é importante oxigenar o Legislativo?
    Se você fosse um técnico de um time e neste time Pelé, Neymar, Ronaldinho Gaúcho e Romário estivessem ainda jogando muito bem, você iria se desfazer desses jogadores? São três institutos que mostram que eu sou considerado dentre os melhores senadores e exatamente por causa disso, por consenso, o PT resolveu me indicar novamente para que eu seja senador. Nesta semana, eu andei a pé na Avenida Paulista e em cada quarteirão fui parado por dezenas de pessoas que, espontaneamente, diziam que vão votar em mim. Para ser justo com o candidato José Serra, teve uma senhora que acompanhada de três franceses que disse: eu gosto muito de você, mas vou voltar no Serra. Isso é próprio da democracia.

    O senhor é cortejado pela presidenciável Marina Silva (PSB) como um bom quadro para atuar em um eventual governo. Conversaram sobre isso?
    Isto não. Eu e Marina Silva somos amigos e nossos laços se estreitaram muito ao longo dos anos quando fomos colegas no Senado. Quando marina formou a Rede [partido que não conseguiu aval da Justiça Eleitoral] e pediu a muitos senadores de outros partidos que assinassem o direito da Rede se tornar partido, no primeiro dia, compareci e assinei, mas expliquei que continuaria no PT, embora ela tivesse me convidado mais que uma vez para ser membro da Rede. Sou a favor da fidelidade partidária.

    Mas faria parte do governo dela?
    Eu quero afirmar que o meu compromisso é de ser um senador pelos próximos oito anos. Tenho sido um senador nos últimos 24 anos sem qualquer interrupção. O meu compromisso é permanecer senador, então, é compromisso sério que assumo.

    É uma provocação a José Serra (PSDB) que já interrompeu mandatos para buscar outros projetos políticos?
    É natural que as pessoas perguntem se ele vai de fato ser senador por oito anos, uma vez que nas ocasiões que assumiu cargos tem sido frequente ter aceitado ser o ministro ou candidato a outros postos. O meu compromisso é de ser senador pelos próximos oito anos se Deus preservar a minha boa saúde.

    Não deixaria o Senado nem mesmo por convite de Marina para ser ministro?
    Quero assumir esse compromisso agora de continuar no Senado. Com qualquer que seja o presidente, espero que seja a Dilma, o meu compromisso é de ajudar ao máximo nas realizações do objetivo importante de realizar as instituições da renda básica de cidadania.

    Uma das principais discussões no Senado é sobre a redução da maioridade penal. O senhor é contra?
    Eu sou contra a redução da maioridade penal porque eu acho que nós temos que dar muita atenção aos motivos que levam a criminalidade de adolescentes. As medidas socioeducativas precisam ser aperfeiçoadas. Não podemos permitir que lugares como a antiga Febem e a Fundação Criança sejam escolas de crime. É preciso que sejam efetivamente escolas de reintegração das pessoas em atividades produtivas de estudo, de formação profissional, as mais adequadas. Também é preciso que as penas para aqueles que cometeram crimes graves serem caracterizadas por penas alternativas. Por exemplo, se uma pessoa cometeu falta grave, assassinou uma pessoa, essa pessoa ainda menor precisa ter a possibilidade de realizar atividades. Se tem propensão para aprender e até ensinar pessoas a se alfabetizarem, ensinar matemática, português ou geografia, entre outras. Em vários países hoje, você tem formas de penas alternativas que são transformadoras. Eu acredito que através da garantia de uma renda para todos, de medidas educativas e penas alternativas terá muito melhor condição de diminuir a criminalidade.

    O senhor é a favor de suspender acordos de cooperação e financeiros com países vizinhos para combater o tráfico?
    Eu acho que não é este o caminho. Acho que o melhor seria o José Serra ouvir o presidente Fernando Henrique Cardoso que tem estudado este tema de forma mais aprofundada e que chegou a conclusão com outros estudiosos do tema, inclusive ex-presidentes de diversos países, que a criminalização das drogas tem levado a mais adversidades e a maior criminalidade e superlotação dos presídios. Melhor será se nós, com respeito aos países das Américas, viéssemos a estudar com atenção a experiência pioneira, que será iniciada em janeiro, instituída pelo presidente do Uruguai José Mujica que está dando novo tratamento à maconha, inclusive permitindo a utilização da maconha medicinal, mas inclusive, com melhor controle por parte do Estado por todo o consumo da cannabis.

    Defende a descriminalização de outras drogas?
    Acho que devemos estudar com muita atenção as recomendações desta comissão de ex-presidentes e estudiosos da questão. Eu estou aberto para a possibilidade. Lá no Senado Federal, estamos estudando a descriminalização do uso, distinguindo muito bem que apenas o uso de drogas não deva ser considerado como crime, isso como primeira etapa.

    Qual o ponto central de uma reforma política para o senhor?
    Eu estou de acordo com a campanha de eleições limpas e combate à corrupção para a extinção de contribuição de pessoas jurídicas, e que precisará ser substituída por maior financiamento público de campanha. Eu propus no primeiro trimestre votarmos o projeto do senador Jorge Viana proibindo doações de pessoas jurídicas e dei parecer favorável para limitar a R$ 1.700 por pleito a doação de pessoa física. Esse ano, são cinco pleitos: presidente, governador, senador, deputado federal e deputado estadual. É uma quantia razoável. Tem ainda a transparência em tempo real pela internet de todas as contribuições de tal forma quando chegar a véspera da eleição isso se torne do conhecimento de todos os eleitores.

    E o voto distrital?
    O voto distrital misto eu acho interessante porque tem vantagens para melhorar o conhecimento do representante. Mas há, entretanto, inúmeros representantes cujas as ações vão além de seu distrito. Se eu próprio hoje fosse candidato a deputado, eu tenho certeza que estaria representando bem o Estado e não apenas o distrito.

    Qual o valor da renda mínima que o senhor propõe para cada brasileiro?
    Se fosse hoje para fazer transição do Bolsa Família, como tendo em conta a parte do Brasil Carinhoso que assegura a toda e qualquer pessoa cuja renda não atinja renda de R$ 154, que ela tenha R$ 77, para que a renda básica de cidadania, precisaríamos começar com um limite hoje que seria de R$ 80 reais e mais e mais com o progresso do país.

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    SERRA X SUPLICY

    Confira as propostas dos dois principais candidatos que disputam vaga no Senado pelo Estado de São Paulo

    DROGAS

    • Serra: Interromper cooperação com países que favorecem o contrabando de entorpecentes para o Brasil e criar campanha educacional contra o consumo dessas substâncias
    • Suplicy: Defende o estudo de medidas para a descriminalização das drogas, com medidas para distinguir que só o uso de drogas não deve ser considerado crime

    MAIORIDADE PENAL

    • Serra: Aumentar o período de internação de menores de 18 anos para dez anos em casos de crimes hediondos
    • Suplicy: Reforçar medidas socioeducativas e adotar penas alternativas para menores que cometerem crimes graves

    REFORMA POLÍTICA

    • Serra: É a favor do voto distrital em municípios com mais de 200 mil eleitores a partir de 2016 e da "cláusula de barreira" (para diminuir o número de partidos)
    • Suplicy: É a favor do voto distrital misto e da extinção do financiamento privado para campanhas

    SAÚDE

    • Serra: Aumentar a parcela do governo federal no financiamento do SUS e fixar prazo máximo de seis meses para a aprovação de novos genéricos
    • Suplicy: Acompanhar a execução de pesquisas para tratamento de doenças raras

    EDUCAÇÃO

    • Serra: Trazer investimentos do governo federal para ampliar o ensino técnico e propor projeto que permita, para gastos com educação, a mesma dedução de Imposto de Renda autorizada para saúde
    • Suplicy:Trabalhar pela expansão do ensino de tempo integral para todas as crianças, adolescentes e jovens de São Paulo

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