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    'Não vejo crise na esquerda coerente', diz Luciana Genro

    JOSÉ MARQUES
    DE SÃO PAULO

    30/09/2014 02h00

    Lançada pelo PSOL à disputa presidencial após divergências internas que resultaram na desistência do senador Randolfe Rodrigues (AP) em concorrer, a candidata Luciana Genro nega haver uma crise na esquerda e diz que, embora separados, PSOL, PSTU e PCB "trabalham no mesmo sentido".

    Ela culpa "condições desiguais" na cobertura jornalística, estrutura de campanha e horário eleitoral pelo 1% nas pesquisas de intenção de voto e afirma que "cresceria muito mais" se tivesse divulgação semelhante à dos três principais colocados.

    Danilo Verpa/Folhapress
    A candidata do PSOL, Luciana Genro
    A candidata do PSOL, Luciana Genro

    Folha - Ao desistir, o senador Randolfe disse que a esquerda vive "crise". A Sra. concorda?
    Luciana Genro – Eu acho que há pessoas da esquerda que entram em crise quando os seus projetos eleitorais parecem mais distantes. Eu não vejo que haja uma crise na esquerda coerente, mas crises pessoais. O PSOL está muito unido e a minha candidatura foi escolhida por unanimidade na convenção do partido.

    Vocês tentaram articular com o PSTU e não conseguiram.
    Eu trabalhei muito pela aliança da esquerda entre o PSOL e o PSTU, inclusive quando estava de [pré-candidata a] vice do Randolfe. Cheguei a fazer uma carta aberta ao PSOL, PSTU e PCB abrindo mão de ser candidata a vice. Mas o PSTU, o único que respondeu oficialmente ao pedido, disse que não havia viabilidade por divergências programáticas. Eu não sei exatamente que divergências são essas porque a gente nunca sentou para debater o programa, mas acredito que é uma necessidade unir a esquerda toda. Embora a gente esteja com candidaturas separadas, estamos trabalhando no mesmo sentido, não estamos digladiando entre nós.

    As intenções de voto na esquerda autodeclarada não chegam a 2%. Esses candidatos têm representatividade?
    É um desafio muito grande para uma candidatura crescer em condições tão desiguais, não só no horário eleitoral gratuito, mas também nas estruturas de campanha. O PSOL é o único partido com representação parlamentar que tem por estatuto não receber dinheiro de empreiteiras, bancos e multinacionais, que são os maiores doadores, e também pela cobertura desigual da mídia. Eu te asseguro que, se a grande imprensa desse para o PSOL a mesma cobertura –ou pelo menos uma cobertura semelhante– que dá aos três [principais], nós cresceríamos muito mais.

    Apesar das restrições, sua candidatura recebeu dinheiro de um supermercado e de um escritório de advocacia. Por que essa seleção?
    [As restrições] São os segmentos que mais estabelecem relações promíscuas com os partidos. Por isso, o PSOL proibiu esses três segmentos no seu estatuto, mas não proibiu totalmente o financiamento privado, muito embora a gente defenda as doações de pessoas físicas, que podem estimular a população a participar mais ativamente da política.

    Levantamento da Folha apontou que uma de suas bandeiras, de suspensão de pagamento da dívida pública, economizaria menos do que a Sra. diz.
    O montante de dinheiro que o Brasil destina para pagamentos de juros da dívida equivale a 40% do orçamento do país. Boa parte disso é rolagem? Sim. Mas é uma rolagem em que o Brasil está se endividando para pagar dívida. Esse dinheiro poderia ser usado para outros fins.

    O dinheiro da contração de empréstimos...
    E o dinheiro do superávit primário, que são R$ 90 bilhões. Equivalente a tudo o que o Brasil gasta em educação o ano inteiro. Isso acaba sendo dinheiro puro dos impostos brasileiros que vai para o pagamento da dívida. Se a gente fizer uma suspensão do pagamento de pelo menos dessa parte da dívida que vai para os bancos e especuladores, preservando fundos de pensão e pequenos investidores, e fizer uma auditoria, vamos encontrar várias irregularidades desde a contração dessa dívida na época da ditadura militar.

    Como governar tendo uma minoria absoluta no Congresso?
    Nenhum presidente esteve em um partido com maioria. Todos tiveram verdadeiros balcões de negócios no Congresso, sejam ilícitos ou não. Nós não vamos fazer isso, porque vamos apresentar medidas que vão ter respaldo popular, ao contrário dos governos anteriores.

    Eu presenciei isso várias vezes como deputada na Câmara. Em junho de 2013 toda a população brasileira presenciou como os políticos tremeram diante do povo nas ruas, mas nem é necessário mobilizações tão grandiosas. Basta lotar as galerias da Câmara que se consegue aprovar medidas que provavelmente não teriam nenhuma chance de serem aprovadas.

    Nem sempre medidas de um presidente têm apoio popular.
    As minhas vão ter.

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