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    Líder no Rio, Romário investe em campanhas 'relâmpagos' pelo Senado

    ADRIANO BARCELOS
    DO RIO

    03/10/2014 13h20

    "O quê? Ele passou por aqui? Não acredito!", disse Márcia Carneiro, 23, quando questionada se tinha visto que Romário, ex-jogador, deputado federal e candidato do PSB ao Senado, caminhara pela rua principal da pequena Engenheiro Paulo de Frontin, cidade com 9,6 mil eleitores, localizada a pouco mais de 120 quilômetros da capital fluminense.

    A incredulidade de Márcia tem razão de ser. O jeito Romário de fazer campanha é uma espécie de blitzkrieg: tudo muito rápido.

    Pelo menos cinco carros em comboio, com a equipe de TV da campanha, e ao menos 20 pessoas para distribuir panfletos, estacionam no local do corpo a corpo.

    Na panfletagem, atuam especialmente mulheres. O uniforme delas é composto por calças justas escuras e camisetas amarelas e verdes que lembram imediatamente a da seleção brasileira.

    Romário desce do carro, cumprimenta eleitores rapidamente. Fala pouco. Sua voz vem do autofalante potente dos carros, que de tempos em tempos repetem uma gravação em que o candidato cumprimenta os eleitores com um "E aí, Peixe?", diz que "tá na área" e pede votos para chegar ao Senado.

    Enquanto isso, posa para incontáveis 'selfies' e autografa camisetas de todos os clubes em que jogou - especialmente Vasco e Flamengo. As maratonas são intensas, e ele chega a percorrer quatro ou cinco municípios em poucas horas.

    Leonardo Carrato - 11.set.2014/Folhapress
    Campanha Romário pelo interior Fluminense
    Campanha Romário pelo interior Fluminense

    Romário lidera as pesquisas, com folga, desde o início da campanha. No último levantamento do Datafolha, divulgado nesta quinta (2), ele aparece 31 pontos percentuais à frente do ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM). Tem 51%, contra 20% do adversário.

    Em Mendes, cidade de 15 mil eleitores, Rosilene Martins, 40 anos, tentou falar com Romário sobre a filha de 4 anos, que tem Síndrome de Down. O tema é caro ao ex-atacante —que também tem uma filha, Ivy, portadora da síndrome—, mas ele não deu atenção a ela. Minutos depois, o limite físico chegou e ele encerrou a visita à cidade por ter passado mal: consequência do calor.

    "O mundo não tem culpa disso (de a filha dela ter Síndrome de Down), mas não posso me calar", disse Rosilene, com uma ponta de frustração no olhar.

    CRÍTICAS À COPA E À CBF

    Neófito há quatro anos, o jogador se questionava sobre o futuro na política —mas teve um mandato de destaque, que forjou a imagem de bom deputado. Uma de suas bandeiras foi a visão crítica dos gastos com a Copa do Mundo, discurso que caiu na simpatia das redes.

    Em quatro anos, apresentou 20 projetos, a maioria propondo benefícios aos portadores de deficiência, mudanças no Código Penal ou fiscalização dos gastos nos eventos esportivos, além de propostas como a PL-6756/2013, que propõe regulamentar as profissões relacionadas à cultura hip hop.

    Romário sabe que o futebol ainda é o que sustenta sua popularidade. O jingle de campanha, um funk pegajoso, não deixa dúvidas: "Com a bola no pé ele mostrou como é que se faz/ deu muita alegria ao povão brasileiro que sofre demais/ a alegria voltou, pra marcar mais um gol/ Romário senador..."

    ENTRA E SAI DO PSB

    A breve carreira política do deputado foi marcada também por desavenças políticas. Eleito pelo PSB, ele chegou a deixar a legenda por alguns meses em 2013. Queria espaço, o que a direção do partido no Rio não concedia. Para tê-lo de volta, Eduardo Campos (PSB), patrocinou a saída da cúpula do partido no Estado e afastou o então presidente Alexandre Cardoso.

    Para garantir liberdade total de movimentos, o rearranjo do PSB fluminense incluiu dar ao próprio Romário a presidência regional naquele momento.

    Decolou nas redes sociais pelas críticas impiedosas aos gastos com a Copa e ao governo Dilma Rousseff. Os conchavos pragmáticos e sua moeda preferencial —os minutos de TV—, porém, tragaram o candidato para dentro da chapa de Lindbergh Farias (PT), que concorre ao governo do Rio. Crítico do PT, acabou fazendo aliança em nome do tempo de TV.

    A medida rendeu exposição, mas foi condenada por muitos de seus seguidores nas redes sociais. O burburinho foi tão forte que o socialista foi obrigado a lançar uma carta em que "explicava" a aproximação com Lindbergh.
    O texto, divulgado no Facebook, dizia: "Por mais que vocês achem que é possível, uma candidatura ao Senado sem coligação com um candidato a governador é inviável. Um exemplo prático, minha candidatura avulsa, sem apoio, teria apenas 30 segundos de tempo para apresentar minhas propostas na TV. Com a coligação serão dois minutos e meio".

    Explicações dadas, o constrangimento seguiu evidente. Romário e Lindbergh participaram poucas vezes de atos de campanha juntos.

    DISPUTA COM CÉSAR MAIA

    Seu principal adversário, o ex-prefeito do Rio Cesar Maia (DEM), centrou ataques na pouca experiência política do ex-atacante. Na réplica dos programas de TV, Romário retruca dizendo que o principal adversário é "ficha suja" por ter tido o registro de sua candidatura indeferido pelo TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral).

    Maia dizia, como uma espécie de slogan, que "Não se faz um senador da noite para o dia". Romário respondia: "Quando eu entro em campo, é para jogar limpo. Não se faz senador da noite para o dia. E ninguém deixa de ser ficha suja de uma hora para outra".

    Ainda que Câmara e Senado tenham características e propósitos diferentes, as promessas de Romário não são muito diferentes do que ele já vem defendendo em Brasília. O slogan reforça isso: "No Senado, minha voz vai ser ainda mais forte".

    Romário tem seis filhos, com quatro mulheres diferentes. Foi casado por três vezes, mas atualmente está separado. A vida pessoal dele é mantida longe dos olhos dos eleitores.

    O socialista rejeitou todos os pedidos de entrevista encaminhados pela Folha. O argumento, segundo os assessores, é de que Romário desenvolveu um forte vínculo com seu público nas redes sociais e nos programas de rádio e TV. Quanto à ausência nos debates, na avaliação do candidato, o seu formato "pouco contribui para a decisão de voto do eleitor".

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