• Poder

    Thursday, 02-May-2024 09:50:07 -03
    [an error occurred while processing this directive]

    De ovelha a lobo: Sob pressão, Dilma manteve sangue-frio

    NATUZA NERY
    ANDRÉIA SADI
    BRASÍLIA

    05/10/2014 02h00

    "Não está morto quem peleia, disse uma ovelha cercada por lobos." A frase é ouvida da boca de Dilma Rousseff (PT) nos momentos difíceis ou quando se sente acuada.

    Foi com esse espírito que, no fim de agosto, a presidente recomendou "sangue-frio" à equipe ao ver Marina Silva disparar nas pesquisas de intenção de votos em velocidade impressionante.

    A nova rival saltara 13 pontos em apenas duas semanas, logo após assumir a candidatura ao Palácio do Planalto depois da trágica morte de Eduardo Campos (PSB), no dia 13 de agosto.

    A velocidade da escalada da ex-colega de Esplanada dos Ministérios assombrava o comitê petista de tal forma que, ao menos entre os mais alarmados, havia quem cogitasse uma vitória da adversária ainda no primeiro turno.

    A apreensão tomou conta. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não conseguia esconder a tensão. E disparava telefonemas.

    "Olha, a tia tem que ir para a rua, a tia tem que se movimentar!", ordenava o ex-presidente, usando uma habitual, porém reservada, forma de tratar sua sucessora toda vez que cobra algo.

    A campanha petista ficou a um passo de perder o rumo. Uns aconselhavam esperar o PSDB atacar a nova candidata; outros diziam que não dava para "terceirizar" a campanha. Enquanto não se decidiam, Marina crescia.

    Coube a Dilma o freio de arrumação. "Ela é mais perigosa que os tucanos. Vamos ter de jogar no erro dela", disse a presidente durante reunião de coordenação de sua campanha no fim de agosto.

    Para a presidente, o "perigo" se traduzia em três variáveis bem objetivas: Marina pegava parte do eleitorado petista, sintetizava as manifestações que sacudiram o país em junho de 2013 e atraía o eleitorado majoritário que ansiava por mudanças.

    Mas aquele tamanho todo, aquela força que chegava aos 34% das intenções de voto em poucos dias, dizia a presidente, "não era tão consistente" como supunham assessores.

    Com as baterias voltadas contra a ex-ministra do Meio Ambiente de Lula e explorando ao máximo os erros da adversária, os petistas deram início ao processo de desconstrução de Marina.

    Em um mês, conseguiram isolar Dilma na ponta e empurraram a candidata do PSB para uma disputa com o tucano Aécio Neves, para saber quem passará para a segunda fase da corrida presidencial.

    A candidata petista chega neste domingo sem clareza de quem enfrentará no duelo do dia 26 de outubro. Mas a condição de ovelha que lutava em agosto ficou para trás. Dilma agora é um lobo.

    Sua equipe chamou os ministros que estarão neste domingo em Brasília para participar do pronunciamento que fará após o resultado das urnas ser divulgado.

    A convocação tem o objetivo de demonstrar força, peso político, ao lado de muitos apoiadores na foto oficial deste primeiro turno.

    Também já existem planos para o início da semana. Uma reunião "de arrancada" com eleitos, na próxima terça-feira (7), embora a previsão é de haver mais derrotados, que passarão a se dedicar exclusivamente à campanha, caso o segundo turno se confirme.

    O efeito Marina mudou drasticamente o tom e o ritmo da campanha petista.

    Obrigou Dilma a viajar mais, Lula a sair de casa e a campanha a adotar um discurso mais à esquerda. Movimentos sociais foram convocados e a autoconfiança de uma vitória no primeiro turno, presente no início da corrida, quebrada.

    O discurso contra banqueiros adotado por Dilma em ataques contra Marina chegou a um tal ponto que muitos de seus auxiliares já se preocupam sobre como farão para reconstruir pontes e evitar um segundo mandato conflagrado, caso a petista consiga o direito de sentar no gabinete presidencial por mais quatro anos.

    A mais nova piada da campanha compara a presidenciável do PT à candidata do ideológico PSOL. "Se tivesse mais uma semana de primeiro turno, Dilma ultrapassava Luciana Genro em matéria de esquerdismo."

    -

    DILMA

    Dilma Vana Rousseff, 66 - Natural de Belo Horizonte, é economista pela UFRS. Foi ministra de Minas e Energia e da Casa Civil de Lula e, em 2010, elegeu-se presidente da República

    CONTINUIDADE:

    Eu vou votar pra gente consolidar o que conquistou, ou vou votar pro Brasil ter um retrocesso? Eu vou votar em quem tem experiência de governo ou eu vou votar numa aventura?"

    Dilma Rousseff, Santos (SP), 30.set.2014

    ACERTOS

    • Acertou eleitoralmente na ofensiva contra Marina, apesar de ter distorcido propostas da rival. Conseguiu carimbar na ex-senadora o selo de candidata vacilante e fraca em diversas fatias do eleitorado
    • Conseguiu, com a propaganda eleitoral, elevar a avaliação de seu governo, o que deu lastro para que se mantivesse na liderança de forma mais sólida que os adversários
    • Incorporou, na reta final, o discurso contra a corrupção para tentar amolecer a rejeição em São Paulo

    ERROS

    • Demorou para retomar diálogo com alguns setores, sobretudo o empresarial. Elevou o tom contra o mercado financeiro, dificultando uma reaproxi-mação caso eleita. O anúncio de troca no comando da área econômica e a mensagem de que um "novo governo" terá uma "nova equipe" chegou tarde
    • Não conseguiu acertar uma estratégia eficaz para reduzir sua rejeição em São Paulo, maior colégio eleitoral do país
    • Com medo do escrutínio da imprensa e de adversários, Dilma não divulgou programa de governo, apenas suas linhas gerais

    CINCO PROMESSAS DE CAMPANHA

    1. Combater a inflação, mantê-la dentro da meta oficial (hoje em 4,5%) e continuar com a política de valorização do salário mínimo
    2. Expansão do Mais Médicos, com criação do Mais Especialidades, que promete diminuir filas de espera da saúde com uma rede de unidades que ofereçam consultas, exames e cirurgias
    3. Transformar a prática de caixa dois eleitoral em crime
    4. Lançar o Pronatec 2, nova versão do programa que irá oferecer 12 milhões de vagas para qualificação de mão de obra a partir de 2015
    5. Universa-lização da banda larga, com lei que defina metas de expansão, qualidade e capacidade dos serviços

    -

    [an error occurred while processing this directive]

    Fale com a Redação - leitor@grupofolha.com.br

    Problemas no aplicativo? - novasplataformas@grupofolha.com.br

    Publicidade

    Folha de S.Paulo 2024