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    Em Assis Brasil, moradores temem até expulsão em caso de Marina vencer

    FABIANO MAISONNAVE
    ENVIADO ESPECIAL A ASSIS BRASIL (AC)

    04/10/2014 21h01

    Caso Marina Silva se eleja presidente, seu governo obrigará fazendeiros a reflorestar quase metade de propriedades e expulsará os moradores de reservas extrativistas.

    Nenhuma dessas medidas consta do programa da candidata do PSB, mas são repetidas como mantra em Assis Brasil (340 km de Rio Branco), pequena cidade incrustada na tríplice fronteira com a Bolívia e o Peru.

    A fama de ambientalista intransigente é a principal origem a ojeriza a Marina entre os assis-brasilienses. A cidade, um dos municípios mais pobres do Brasil —4.444° lugar entre 5.565 cidades no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM)—, tem como atividade principal a pecuária extensiva, maior responsável pelo desmatamento no Estado.

    Mas o avanço do pasto é limitado pelas unidades de conservação que ocupam 75% do município, do tamanho de três cidades de São Paulo. Parte da população vive na reserva extrativista Chico Mendes e, com o declínio da borracha, tem desmatado ilegalmente para criar gado, apesar do risco de multas e até de expulsão.

    O resultado desse embate é que, em 2010, Marina obteve em Assis Brasil a pior votação em seu Estado natal —convenceu apenas 158 eleitores (4,6%) a votar nela para presidente.

    O percentual ficou bem abaixo da votação no Acre naquele ano, quando Marina obteve 23% dos votos válidos, atrás do tucano José Serra e da petista Dilma Rousseff, percentual considerado baixo por ser seu berço político. "É muito difícil ser profeta em sua própria terra", justificou Marina, em entrevista ao Jornal Nacional.

    "O projeto dela é criar uma lei para replantar 40% das propriedades", afirma a dona de casa Antônia da Silva, 29, em conversa na cozinha da casa de madeira, a cerca de 20 km do centro da cidade, percorridos em uma malconservada estrada de terra. "Podemos até ser expulsos do nosso local", assegura a sogra, Maria Laila Souza, 60, professora do ensino fundamental.

    A família vive em uma área de 68 hectares, dedicada quase toda à pecuária. "O boi é a única coisa que a gente tem para vender quando adoece", diz Souza. Por causa do sistema de saúde precário, a família costuma recorrer à cidade boliviana de Cobija (120 km) para tratamento médico privado.

    PASSADO PETISTA

    O discurso antimarinista é alimentado pelo prefeito da cidade, o tucano Humberto Gonçalves Filho, o Doutor Betinho. Em 2012, ele interrompeu 12 anos de prefeituras petistas, que governam o Acre há quase 16 anos.

    Ecoando a crença de muitos no Acre, o prefeito afirma que Marina, mesmo fora do partido de Lula há cinco anos "é do PT tradicional" e que ambos são contrários à pecuária.

    "Eles não deram condições ao homem do campo. Não querem que ele derrube nada, querem que viva de colar de semente de patuá."

    Doutor Betinho chamou o líder seringueiro petista Chico Mendes, assassinado em 1988, de "maior vagabundo que tivemos na história": "Antes de ser governo, o PT só sabia paralisar o Estado com greve. E o Chico Mendes foi o precursor de tudo isso junto com essa Marina."

    Emparedada entre o PT e o PSDB, a campanha da ex-senadora acriana é completamente invisível nas poucas ruas de Assis Brasil. O representante local do PSB, Jorge Saad Jr., não mora mais na cidade, e a casa da família, na rua principal, tem as paredes tomadas por propaganda do tucano Aécio Neves e de candidatos de sua coligação estadual.

    Apesar disso, até o prefeito admite que Marina terá mais votos neste ano do que em 2010. Em pesquisa do Ibope divulgada em 13 de setembro, ela aparece com 49% em todo o Acre, contra 25% para Dilma e 16% para Aécio.

    Eleitor de Marina após votar em Dilma em 2010, o técnico em raio-X Anderson Marinho, 36 disse que tem ouvido muitas declarações de voto para a conterrânea. "O Acre precisa ser enxergado por alguém que conhece o Estado."

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