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    Com 'ficha limpa' como mantra, Crivella tentará apoio para derrubar PMDB

    ADRIANO BARCELOS
    DO RIO

    06/10/2014 01h41

    Quem esperava a repetição de um velho filme na política do Rio, aquele em que o senador Marcelo Crivella (PRB), 56 anos, aparece nas primeiras pesquisas como líder nas intenções de voto e, a dias das votações, vai murchando, murchando, murchando até perder a eleição, ficou frustrado –ou surpreso.

    Em uma reação que parecia improvável há algumas semanas atrás, saiu de cena o candidato apático e veio para a linha de frente um adversário combativo para o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) no segundo turno.

    Terminou o primeiro turno com 20,26% dos votos válidos. Pezão teve 40,57%. Anthony Garotinho (PR), o terceiro colocado, somou 19,73% dos votos.

    Ao lançar a própria candidatura, em julho, Crivella explicava por que acreditava em um desfecho diferente: desta vez, a rejeição era menor.

    No período de alianças, o senador passou em branco. Não atraiu nenhum parceiro e ficou restrito ao tempo de TV do PRB, de cerca de um minuto.

    Para administrar com sabedoria o tempo escasso, Crivella –bispo licenciado da Igreja Universal e sobrinho do líder máximo da instituição, Edir Macedo– trouxe para o seu lado o marqueteiro Lula Vieira, que ajudou a tirá-lo do segundo turno para a prefeitura do Rio como responsável pelo programa de TV de Fernando Gabeira (PV) em 2008.

    Sem exposição e orientado por Lula, o senador repetiu como mantra que era ele "o único ficha limpa" da eleição. Poderia ser uma frase banal, mas teve impacto junto ao eleitorado do Rio.

    Com o passar do tempo, para manter a rejeição domada, a ligação - sanguínea e espiritual - com a Igreja Universal foi minimizada na campanha de Crivella. O candidato só toca na questão da igreja se perguntado.

    A aparência cansada (que alimentou rumores, infundados, de que ele estaria doente) e uma fala monótona e arrastada nos primeiros debates indicavam que, outra vez, Crivella naufragaria.

    As pesquisas comprovavam o esvaziamento. O Datafolha de 15 de julho, por exemplo, indicava Crivella em primeiro com 24% das intenções de voto, empatado com Garotinho. Em 25 de setembro, Crivella tinha apenas 17%, enquanto o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) liderava com 31%, seguido por Garotinho (23%).

    RECUPERAÇÃO

    Sem grande alarde, a campanha de Crivella foi se recuperando. O candidato passava ileso por escândalos, enquanto os rivais entravam na mira do TRE-RJ (Tribunal Regional Eleitoral): só Garotinho, foi alvo de cinco ações por irregularidades eleitorais.

    Pezão teve de lidar, por exemplo, com a prisão de um coronel da PM de seu governo supostamente envolvido no achaque a empresários na zona oeste do Rio.

    Com os adversários enredados, Crivella começou a explorar também a diferença de condições, como o tempo de TV entre ele e os adversários. Reforçou o discurso de que Pezão, com quase 10 minutos de TV, produzia "uma minissérie" por dia.

    Bateu também no custo da campanha do rival - em setembro, o governador havia declarado arrecadação de cerca de R$ 13 milhões, enquanto Crivella afirmava ter recebido apenas R$ 787 mil.

    É possível dizer que a reação do senador foi beneficiada por dois fatores. Um deles, a queda de Garotinho nas últimas semanas: parte do voto evangélico, que forma a base de ambos, migrou para Crivella. O outro, os resultados medíocres da campanha de Lindbergh Farias (PT) e o fortalecimento do voto anti-PMDB, verbalizado por PT, PR e pelo próprio Crivella, mas incorporado por ele na reta final.

    DEBATE

    A virada do senador evangélico sobre Garotinho e Lindbergh começou a ficar clara no debate da TV Globo, na terça-feira passada.

    Primeiro, quando Crivella e Lindbergh engataram uma dobradinha no primeiro bloco e o candidato do PRB saiu atacando Pezão e reforçando a ideia de que o governador representa o antecessor dele, Sérgio Cabral (PMDB), protagonista de escândalos e alvo dos protestos de rua que sacudiram a cidade em junho de 2013.

    Hábil e inspirado na Globo, chegou a forjar um nome para a união que repercutiu nas redes sociais: era o "Cabrão".

    "O povo queria o candidato anti-Cabral. Transformam o Cabral/Pezão, e o povo na rua diz que é o Cabrão".

    APOIO

    Na saída do debate, já estava claro que Crivella levaria o apoio de Lindbergh e, possivelmente, de Garotinho.

    No caso do PT, o presidente estadual do partido Washington Quaquá já indicava, no sábado, que o apoio será definido rapidamente.

    Quando o resultado se confirmou, Crivella já saiu telefonando para os derrotados. Promete não entregar nacos do poder por apoios, mas diz que quer todos a seu lado.

    Na coletiva de celebração do segundo turno, na noite do domingo, o candidato deu mostras do tom duro que adotará no combate ao PMDB do Rio, que segundo ele "está no poder há 30 anos" e prometeu rever contratos assinados pelo atual governo.

    "Apoio não significa interferência. Nós vamos compor governo com os melhores."

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