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    Empreiteiras formaram cartel, dizem delatores

    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO
    LEONARDO SOUZA
    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    10/10/2014 02h00

    As empresas que participaram do esquema de corrupção na Petrobras também formaram um cartel para combinar preços e dividir licitações de obras da estatal, segundo o doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa.

    De acordo com o doleiro, as empresas definiam os ganhadores das licitações toda vez que um pacote de obras era lançado e o nome das empresas era submetido a Costa. Nesta etapa, as empresas já ficavam cientes da necessidade de pagar propina, segundo Youssef.

    "Se ela [empresa] não pagasse, tinha ingerência política do próprio diretor e ela não fazia a obra", disse.

    "Toda empresa de porte maior já sabia que qualquer obra que fosse fazer na área de abastecimento da Petrobras tinha que pagar o pedágio de 1%. E 1% também para a área de serviços e engenharia", completou.

    Indagado pelo juiz Sergio Moro se essa condição era claramente apresentada às empresas, o doleiro foi enfático: "era bem colocado sim, muito bem colocado".

    Youssef disse que em geral havia uma negociação para que o valor dos contratos chegasse bem próximo ao teto previsto nas regras da Petrobras.

    O esquema também envolvia aditivos aos contratos, que podiam levar ao pagamento de propinas maiores, em valores correspondentes a percentuais de 2% a 5% dos negócios.

    Em seu depoimento, Costa disse que tentou acabar com o cartel das empreiteiras, mas que não conseguiu devido ao pequeno número de construtoras com capacidade para realizar as obras de grande porte contratadas pela Petrobras.

    "Eu tentei, mas me disseram que eu ia quebrar a cara", afirmou. Ele contou que a estatal de petróleo chegou a contratar algumas construtoras menores, mas que muitas faliram.

    Costa disse acreditar que várias obras no Brasil, como hidrelétricas no Norte do País e usina de Angra 3, tenham sido alvo da cartelização das empreiteiras.

    Segundo ele, em todo o tempo em que esteve no comando da diretoria de Abastecimento, nenhuma empreiteira jamais deixou de pagar a propina. "Houve alguns atrasos, mas deixar de pagar, nunca deixaram".

    Em seu testemunho, Costa disse que as empreiteiras pagavam a propina não só pelo receio de não trabalhar mais para a Petrobras, mas também pelo medo de sofrer retaliação em licitações do governo federal, como ministérios e secretarias.

    "Então, se ela [empresa] deixa de contribuir com determinado partido naquele momento, isso ia refletir em outras obras, porque os partidos não iam olhar isso com muito bons olhos", afirmou.

    DINHEIRO NO EXTERIOR

    Os dois citaram mais de uma dezena de empreiteiras que teriam feito parte do esquema, entre as quais Odebrecht, Camargo Corrêa, OAS e Andrade Gutierrez.

    Youssef disse que Odebrechet, Sanko Sider e Toyo Setal, todas contratadas da Petrobras, fizeram pagamentos de propina no exterior. Na delação, Costa disse ter recebido US$ 23 milhões na Suíça.

    Costa e Youssef mencionaram os nomes de seus contatos nas empresas.

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