Na apuração, votos nulos e brancos produzem o mesmo resultado: são descartados e não exercem influência na ordenação dos candidatos vencedores. Esses dois tipos de manifestação, porém, têm disposições geográficas bastante distintas, peculiaridades de difícil explicação e genealogias que podem ter prejudicado a presidente Dilma Rousseff (PT) no primeiro turno.

Algumas dessas características ficam nítidas em mapas que mostram a distribuição de brancos e nulos da disputa presidencial.

Na eleição do domingo (5), os votos nulos foram registrados proporcionalmente com mais intensidade no Nordeste, no Rio e em alguns pontos dispersos de outros Estados.

	Editoria de arte/Folhapress

Já os votos brancos ocorreram com mais força em São Paulo, no Rio Grande do Sul, numa estreita faixa litorânea de parte do Nordeste e nas áreas expandidas de Belo Horizonte, Rio e Vitória.

Essa diferenciação bem demarcada na distribuição de nulos e brancos foi percebida pelo geógrafo francês Herve Thery, professor visitante da USP, ao fazer estudos cartográficos com dados da eleição.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, tem hipóteses distintas para explicar esses eventos. A maior ocorrência de nulos no Nordeste, onde a escolaridade é mais baixa, seria resultado de uma taxa maior de erro dos eleitores no instante do voto.

Como isso coincide com a área em que a presidente Dilma Rousseff (PT) apresenta melhor desempenho, o fenômeno teria prejudicado mais a petista do que seus concorrentes no primeiro turno.

É um problema que tende a diminuir no segundo turno, um pleito bem mais simples, sem a necessidade de escolha de deputado estadual, federal, senador e, em alguns casos, governador.

Historicamente as taxas de brancos e nulos caem na etapa final.

Já a alta concentração de nulos no Rio teria mais relação com a ideia de um voto de protesto, decididamente contra todos os candidatos.

O Rio talvez seja o Estado em que as manifestações de junho de 2013 tenham mobilizado mais gente e onde os protestos contra governantes locais durou mais tempo. O Estado tem um eleitorado historicamente mais "rebelde".

O voto branco sempre foi mais associado à ideia de desalento com a eleição, indiferença. Isso ajudaria a explicar sua grande incidência em São Paulo, onde um dos fatores mais destacados do comportamento eleitoral é a forte rejeição à Dilma. Outra hipótese, não excludente, é a do voto de protesto em branco.

Mas há ainda um aspecto curioso e de difícil explicação que chama a atenção no mapa dos nulos: a coincidência entre mudança de padrão da taxa de nulo com as divisas geográficas de certos Estados.

Um exemplo é o Rio Grande do Norte, Estado com a maior taxa de nulos para presidente (9,61%). As divisas do Rio Grande no Norte com o Ceará e a Paraíba coincidem exatamente com as divisas de intensidade de voto nulo.

Outro caso desse tipo aparece na linha que separa Alagoas e Pernambuco. A taxa de nulo é claramente maior nos municípios alagoanos.

As divisas geográficas Minas-Bahia, Goiás-Tocantins e Tocantis-Pará também parecem bem demarcadas por padrões diferentes de voto nulo.

Thery e Paulino não têm explicação para isso. A diretora de Comunicação do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Juniana Neiva, não acredita que seja por eventuais campanhas diferenciadas de esclarecimento promovidas por TREs (Tribunais Regionais Eleitorais), pois elas não são tão intensivas a ponto de explicar tantas diferenças, diz.

Para o cientista político Cláudio Couto, a hipótese mais plausível passa pelas dinâmicas das campanhas para governador.

Em Estados com eleições regionais menos envolventes ou motivadoras, a disputa presidencial acabaria "contaminada", afirma ele.