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    Após ser escolhido para a Fazenda por Aécio, Arminio Fraga vira alvo do PT

    DAVID FRIEDLANDER
    MARIANA CARNEIRO
    DE SÃO PAULO

    16/10/2014 02h00

    "Ele não gosta de salário mínimo", disse a presidente Dilma Rousseff (PT), num comício na Bahia. É da turma do arrocho e ameaça o Bolsa Família, repete o PT na internet, no rádio e na televisão.

    Apresentado pela campanha de Dilma como inimigo dos mais pobres e das conquistas sociais obtidas nos últimos anos, o economista Arminio Fraga, 57, virou um dos alvos a serem atacados na equipe de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno das eleições presidenciais.

    Armínio entrou na mira porque chefiou o Banco Central no segundo mandato de Fernando Henrique Cardoso, de 1999 a 2002, fase que o PT associa a desemprego, juros altos e recessão. Por causa do currículo no mercado financeiro, petistas diziam que ele era a "raposa tomando conta do galinheiro".

    Zô Guimarães - 29.ago.2014/Folhapress
    O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central
    O economista Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central

    Arminio é tudo o que o PT gostaria de ter para alimentar a ideia de que a eleição é uma guerra de pobres contra ricos. Indicado por Aécio como seu ministro da Fazenda se for eleito, Arminio ficou milionário fazendo carreira no mercado financeiro.

    Doug Kanter - 27.ago.2002/AFP
    *MERCADO:* Com o ex-patrão George Soros
    MERCADO: Com o ex-patrão George Soros
    Jamil Bittar - 19.ago.2002/Reuters
    *GOVERNO:* Em 202, na equipe de FHC
    GOVERNO: Em 2002, na equipe de FHC
    Sérgio Lima - 7.jan.2003/Folhapress
    *TRANSIÇÃO:* Em 2003, conversa com Palocci
    TRANSIÇÃO: Em 2003, conversa com Palocci
    Erbs Jr. - 10.out.2014/Folhapress
    *ELEIÇÃO:* Na semana passada, com Aécio
    ELEIÇÃO: Na semana passada, com Aécio

    Trabalhou anos em Nova York com o megainvestidor George Soros e estudou em boas escolas particulares do Brasil e dos EUA. Diz que conseguiu amealhar "há muito tempo" uma poupança que o permitiria deixar de trabalhar. Mora num condomínio de luxo no Leblon, bairro nobre do Rio, e viaja com frequência ao exterior.

    Os amigos dizem que ele leva uma vida pacata. Armínio gosta de ver filmes em casa com a mulher, dirige o próprio carro e às vezes vai a pé ao trabalho. Diz que não tem iate, helicóptero nem apartamento em Nova York. Seu passatempo mais caro é o golfe do fim de semana.

    Em 2010, já rico, Arminio fez o negócio de sua vida. Vendeu por US$ 550 milhões (R$ 1,3 bilhão a valores de hoje) o controle da Gávea, sua gestora de investimentos, ao banco americano JP Morgan.

    Ele e os sócios receberam metade da quantia quando fecharam o negócio. A outra parte terminará de ser paga no ano que vem, quando acaba a exigência de que o economista administre a Gávea.

    Se Aécio ganhar e Arminio se mudar para Brasília, terá que abrir mão de parte desse dinheiro. "Me custaria alguma coisa, mas isso não seria um problema. Eu gosto do que faço e dos meus sócios, mas é uma causa nobre e todo mundo entenderia", diz.

    Arminio se engajou no projeto de Aécio há dois anos, influenciado por FHC. Com o início da campanha, entrou no time de vez. Troca ideias com o candidato por telefone, email e pessoalmente. Dá palpites nos debates, reuniu 50 pessoas para formular o programa econômico e participou de reuniões para apresentar Aécio a empresários e investidores.

    Arminio não é remunerado pela participação. Segundo pessoas próximas, ele gosta da política, embora não seja filiado a nenhum partido. Em 2008, pediu votos na TV e deu conselhos ao então candidato à prefeitura do Rio, Fernando Gabeira (PV).

    "Ele é bem intencionado. É bom ver alguém como ele inquieto com a situação e disposto a assumir responsabilidades", diz Gabeira.

    A passagem pelo BC que os petistas tanto criticam é, por ironia, o trabalho que fez dele um dos economistas brasileiros mais respeitados no exterior. Ao deixar o cargo, em 2003, foi convidado para ser diretor do Banco da Inglaterra. Ele também entrou numa lista oferecida a Barack Obama com nomes para presidir o banco central dos EUA, o Fed.

    CRISES

    Armínio assumiu o BC com a economia à deriva: inflação em alta, dólar desgovernado e empresários e investidores pessimistas.

    Abandonou a paridade do real em relação ao dólar sem deixar que a inflação voltasse. Montou uma estrutura diferente de tudo que se conhecia no país, baseada num modelo adotado em poucos lugares, como Nova Zelândia e Israel: o sistema de metas de inflação, em vigor até hoje.

    Com o país em recessão e o desemprego em alta, ele elevou a taxa de juros de 25% para 45% ao ano. Após seis meses, porém, a economia voltou a crescer, a inflação amansou e os juros baixaram para 19%. Arminio enfrentaria mais duas crises, em 2001 e 2002. A última provocada pela aversão dos investidores à eleição de Lula.

    Com a vitória do PT, o economista trabalhou para acalmar os mercados. Lula ficou bem impressionado com ele e chegou-se a cogitar mantê-lo no BC alguns meses, conta o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci no livro "Sobre formigas e cigarras".

    Agora, se Aécio for eleito presidente, Arminio diz que sua tarefa imediata será restabelecer a confiança dos empresários para que voltem a investir. O primeiro passo seria tratar a inflação e as contas públicas às claras, o oposto do que ele diz que o governo Dilma faz.

    Descrito pelos petistas como o economista da recessão, Arminio diz querer evitá-la no ano que vem. "Não vai ser um ano fácil, mas acredito que é possível evitar uma recessão. Pensamos nisso o tempo todo"

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