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    CPTM afasta gerente ligado a empresas do cartel de trens

    FLÁVIO FERREIRA
    DE SÃO PAULO

    19/10/2014 02h00

    A estatal de trens de São Paulo CPTM afastou seu gerente de Engenharia de Manutenção Henry Munhoz após a Folha revelar e-mails que apontam relações comerciais do funcionário público com empresas acusadas de integrar o cartel do setor que atuou no Estado.

    Após a reportagem questionar a CPTM sobre as mensagens eletrônicas descobertos pelo Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Secretaria Estadual dos Transportes Metropolitanos informou que foi aberta uma sindicância interna para apurar os fatos.

    É o segundo documento obtido pela Folha com indícios de ligações de Munhoz com as empresas denunciadas por participação no cartel de trens que atuou em São Paulo entre 1998 e 2008, em sucessivos governos do PSDB.

    Na edição do último domingo (12), o jornal revelou e-mail de 2001 descoberto na empresa MGE, que também é investigada pelo Cade.

    A mensagem eletrônica apontou que Munhoz, então assistente técnico da CPTM, passou à empresa MGE dados confidenciais sobre os planos da estatal de trens e comprometeu-se a ajudar a companhia privada a viabilizar os projetos de seu interesse.

    Na ocasião, Munhoz e a CPTM negaram favorecimentos à MGE.

    A nova série de mensagens obtida agora pela Folha é de janeiro de 2011 e foi encontrada na empresa Temoinsa, outra das firmas sob acusação.

    Os primeiros e-mails do conjunto recolhido pelo Cade foram trocados entre Munhoz e Rodrigo Lobo, da empresa MPE, que também é investigada nas apurações sobre formação de cartel.

    Em 7 de janeiro de 2011, Lobo enviou um e-mail a Munhoz no qual pediu a apresentação de uma "proposta comercial" relativa a um contrato do Metrô para prestação de serviços de substituição de peças de uma das frotas, no valor de R$ 7,3 milhões.

    O contrato havia sido ganho pela MPE após licitação do Metrô de junho de 2010.

    Em resposta a Lobo no dia 13 de janeiro de 2011, Munhoz afirmou que "o orçamento para a prestação de serviços ficou em R$ 154.800, dividido em 24 parcelas mensais de R$ 6.450".

    Porém, no e-mail o funcionário público sugeriu haver um entrave para a realização do negócio e afirmou que ele poderia ser superado com a participação da Temoinsa.

    A última mensagem da série achada pelas autoridades federais foi encaminhada pelo executivo da Temoinsa Wilson Daré para Lobo.

    Na mensagem, ele apontou a solução para o problema "dos faturamentos solicitados pelo Henry". Segundo Daré, o caminho seria fazer um contrato de prestação de serviços entre a MPE e a empresa Fator, que ele sugeriu ser ligada à Temoinsa.

    "Neste caso nós (a Fator) cuidaremos de repassar os valores em dinheiro", escreveu o executivo.

    Os e-mails que mencionam Munhoz foram encontrados pelo Cade em operação de busca e apreensão realizada em julho do ano passado, em meio às apurações iniciais sobre o cartel dos trens.

    A investigação começou em maio de 2013 após a multinacional alemã Siemens ter informado ao Cade sobre a formação do cartel, do qual admitiu ter participado. Em troca, a empresa espera obter redução de penas ao término do caso.

    O conluio entre as companhias e o pagamento de propinas a agentes públicos para acobertar as fraudes nas licitações de trens também são alvo de apurações do Ministério Público, da Polícia Federal e da Corregedoria da Administração Estadual.

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