A presidente Dilma Rousseff (PT) repudiou nesta segunda-feira (20) tentativa de se responsabilizar o governo federal pela falta de água no Estado de São Paulo.

"Qualquer tentativa de transmitir responsabilidade para o governo federal nós olharemos com grande estranheza. Não acredito que as estruturas do governo do Estado podem atribuir a nós qualquer responsabilidade ou qualquer omissão na ajuda. Nós ajudamos em todas as circunstâncias", afirmou a presidente em entrevista coletiva concedida a jornalista na capital paulista.

Em evento em Caeté (MG) nesta segunda, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) afirmou que "talvez tenha faltado" maior atuação federal no caso e fez críticas à ANA (Agência Nacional de Águas).

"Meu governo não vai terceirizar responsabilidades, vai assumir as suas e agir em parceria. Serei parceiro do Alckmin para enfrentar essas e outras questões", criticou o tucano.

Desde domingo (19), Dilma passou a culpar, no horário eleitoral, os governos do PSDB em São Paulo pela crise hídrica no Estado, ressaltando as tentativas de ajuda do governo federal e supostas recusas da gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Questionada sobre o uso do tema na propaganda na televisão, a presidente diz que não explorou a questão de forma eleitoreira.

"Eu não vou explorar de forma eleitoreira no seguinte aspecto: eu não ia falar sobre a questão da água. Até agora não falei. Podia ter falado. Lamento, já que trataram desse jeito, porque é lamentável a questão da água aqui", disse.

REUNIÃO COM ALCKMIN

Dilma relatou que recebeu avaliações sobre os efeitos da seca em São Paulo em fevereiro deste ano e que, em março, recebeu Alckmin em uma audiência no Palácio do Planalto.

"Quero registrar que o governador sempre tratou essa questão em alto nível", pontuou. "Eu disse pro governador: 'O senhor deveria fazer obras emergenciais porque tudo indica que esta seca se prolongará e vocês não têm capacidade de abastecimento de água suficiente'", contou a petista.

Segundo a presidente, Alckmin disse que não queria fazer obras emergenciais, mas que gostaria que São Paulo fosse enquadrada em RDC (Regime Diferenciado de Contratação), tendo em vista negociações com o Rio de Janeiro para a transposição de água do rio Paraíba do Sul.

Dilma afirmou que, recentemente, foi procurada pelas empresas envolvidas na construção do sistema São Lourenço -obra do governo estadual para abastecer a região metropolitana de São Paulo-e que elas lhe pediram um financiamento de R$ 1,83 bilhões a juros subsidiados. Segundo Dilma, o dinheiro "será liberado ainda essa semana, talvez amanhã".

O contrato para a PPP (Parceria Público Privada) do sistema São Lourenço foi fechado com o governo estadual em agosto deste ano. A obra foi orçada em R$ 2,21 bilhões, valor que será bancado integralmente pela empresa vencedora da licitação, uma parceria entre as empreiteiras Andrade Gutierrez e Camargo Correa. O sistema pretende ampliar a capacidade de água tratada para a Região Metropolitana de São Paulo em 7% até 2018.

"O que a nós foi pedido, nós fizemos", afirmou. Questionada sobre promessa de desonerar empresas de saneamento básico, Dilma disse que a medida não mudaria "uma vírgula" na questão da água. "Isso é a chamada parte da questão que não é a verdade."

A presidente comparou a situação hídrica do Estado com a que resultou em um racionamento de energia elétrica em 2001, no governo de Fernando Henrique Cardoso.

"Concordo que essa seca é mais intensa que a de 2001 e a de 2002, quando houve um ano de racionamento. Se a situação nossa [de geração de energia elétrica] hoje fosse similar àquela época, teria um racionamento 'brabo'. Por que não houve? Porque passamos a planejar o crescimento e o investimento no setor elétrico", disse Dilma.

Questionada se houve mudança no tratamento dado pelo governo de São Paulo à questão hídrica antes e depois das eleições, a petista amenizou: "Eu acho que o governador estava esperando que chovesse. Acho que ele esperava que chovesse".

OUTRO LADO

O presidente do PSDB em São Paulo, Duarte Nogueira, avaliou as declarações da presidente como "mentirosas" e "eleitoreiras".

Segundo ele, o governo federal se omitiu e não avisou Alckmin sobre o risco de desabastecimento no Sistema Cantareira. "Ela afirma que alertou o risco em fevereiro. Isso é mentira. A publicidade do governo de São Paulo sobre oferta de bônus na conta de água já era veiculada em janeiro e eles não chegaram a antever isso", disse.

Segundo ele, a presidente não cumpriu promessa de 2010 para retirar tributos das empresas de saneamento básico e o PT não incluiu a questão da segurança hídrica em plano lançado em 2003. "Se tivessem reduzido a carga tributária, as empresas poderiam ter investido mais na segurança hídrica", alegou.

"E a ANA [Agência Nacional de Águas] só autorizou o uso da reserva técnica [volume morto] às vésperas da eleição, o que me parece uma atitude eleitoreira."