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    Painel do eleitor: 'Nunca gostei do PT'

    MARCELO COELHO

    22/10/2014 02h00

    A viela onde mora Nadir Gonçalves Vieira, 43 anos, é travessa de uma avenida movimentada na Vila Maria, região norte de São Paulo. "O bairro é tranquilo", diz a empregada doméstica, que vai a pé para o trabalho. "Nunca fui assaltada."

    Para Nadir, o Parque do Trote, inaugurado em 2006 no antigo hipódromo da Vila Guilherme, é outro ponto positivo de sua região. Seu filho menor, de seis anos, aproveita bastante o lugar –onde também se realizam atividades do Festival Revelando São Paulo, evento anual que destaca a cultura tradicional paulista.

    Param por aí, entretanto, os sinais de satisfação de Nadir com respeito aos serviços públicos. Ela esperou oito meses para realizar um exame de mama; terá de aguardar mais tempo para que algum médico avalie o resultado.

    Quando o marido –chapeiro numa padaria– esteve sob tratamento de tuberculose, Nadir podia ser atendida com mais rapidez. "Eu passava com o médico que quisesse", conta.

    Eduardo Knapp/Folhapress
    Nadir Goncalves Vieira em sua casano bairro Vila Maria Alta - SP
    Nadir Goncalves Vieira em sua casano bairro Vila Maria Alta - SP

    A candidata do PT, Dilma Rousseff, "diz que a saúde está uma maravilha", reclama Nadir. "Mas ela nunca passou por um hospital público".

    Quanto ao prefeito Fernando Haddad, "não está fazendo nada". O caçula recebe uniforme escolar da prefeitura, "mas as roupas de inverno só chegaram no final de setembro".

    Nadir paga R$ 805 de aluguel pela casa de quarto, sala, cozinha e banheiro, onde mora com o marido e os dois filhos. Embora sempre tenha morado na Vila Maria, desde que veio de Minas Gerais para São Paulo, aos 18 anos, viu-se forçada a mudar muitas vezes de casa, por causa do aluguel.

    Para obter financiamento no Minha Casa, Minha Vida, Nadir teria de desembolsar uma entrada muito alta: "R$ 50 mil, R$ 60 mil, dependendo do lugar". Ela já paga metade –R$ 300 mensais– da prestação de uma casa em Belo Horizonte, que comprou com a irmã com financiamento da Caixa Econômica. "Estamos pagando há uns 30 anos."

    Nadir chegou a receber o Bolsa Família, durante um período em que esteve desempregada. A nova lei das empregadas domésticas, aliás, teve na sua opinião, um efeito negativo sobre o setor. "Agora só querem diarista." Seus patrões atuais, entretanto, nunca vacilaram na concessão de direitos trabalhistas.

    Seja como for, o Bolsa Família tem dado margem a abusos, diz Nadir. "Conheço muita gente que recebe e vai para o boteco." Sem contar, acrescenta, pessoas na sua cidade natal que possuem "vários imóveis de aluguel e continuam recebendo".

    Ela nasceu em Pedras de Maria da Cruz, cidade mineira de 11 mil habitantes às margens do rio São Francisco, onde seu pai vivia de pesca. Antes disso, como agricultor, ele e sua família passaram fome. Contam que uma irmã mais velha, professora na roça, recebia como salário um prato de comida. Dividia-o com outros dois irmãos. Sem pão, sem café, às vezes sem feijão ou sem arroz, "a mãe vivia com dor de cabeça".

    Nadir não chegou a viver tantas dificuldades, mas era conhecida como "meio-quilo" em Pedras, pela pequena quantidade das coisas que comprava para a família no comércio local. Aos dez anos, cortava tijolos na olaria perto do rio.

    Quando veio a São Paulo visitar as duas filhas que trabalhavam como domésticas, seu pai chorou ao ver que tinham geladeira, televisão, "coisas de rico".

    Nadir tem sobrinhos formados em direito, psicologia e engenharia. Seu filho mais velho, de 21 anos, abandonou os estudos no segundo ano do ensino médio e hoje trabalha como segurança num prédio.

    No primeiro turno, Nadir identificou-se com Marina Silva (PSB), por ter um "jeito simples" e ser "gente como a gente". Nunca votou no PT; "Nunca gostei". Lula "pode até ser sido pobre, mas não tanto como ele diz". Em sua primeira eleição presidencial, Nadir votou em Collor; depois, sempre no PSDB. Fica com Aécio no segundo turno.

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