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    Na reta final, militantes do PT e do PSDB fazem guerra de paródias

    GUSTAVO URIBE
    LÍGIA MESQUITA
    DE SÃO PAULO

    23/10/2014 02h00

    Com o acirramento da disputa presidencial, até mesmo Chico Buarque, Raul Seixas, Tom Jobim, Lulu Santos e Valesca Popozuda foram parar no vale-tudo eleitoral.

    Os sucessos dos cantores da música popular foram parodiados por militantes e simpatizantes do PT e do PSDB e, na fase final da corrida eleitoral, têm sido usados como munição nas redes sociais contra Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB).

    Nas novas composições, carregadas de críticas e de ironias, a presidente é retratada como a esposa de "Cotidiano", que "mente e faz o diabo na eleição". O senador, por sua vez, foi transformado em uma versão playboy de "Cowboy Fora da Lei", com um "passado muito torto".

    Os ataques têm como foco as denúncias de irregularidades e as áreas consideradas sensíveis no atual governo federal e na gestão do tucano como governador de Minas Gerais (2003-2010).

    A escolha da canção de Chico Buarque para criticar a presidente não foi aleatória. O cantor, como na disputa eleitoral de 2010, anunciou neste ano apoio à candidatura da petista.

    "O Chico Buarque sempre foi defensor da democracia e tenho certeza que ele entende que este é mais um momento da democracia", explica o advogado Gabriel Sousa Marques de Azevedo, de 28 anos, um dos autores da paródia.

    A composição foi feita por integrantes da Turma do Chapéu, coletivo de jovens criado em Belo Horizonte que reúne tucanos filiados e simpatizantes do partido.

    O advogado lembra que, em 1985, Chico Buarque compôs jingle para a campanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando o tucano disputava o cargo a prefeito de São Paulo pelo PMDB.

    "Nós somos fãs dele e a música 'Cotidiano' veio a calhar porque o governo da presidente repete as mesmas coisas há anos e não as cumpre", disse.

    O autor de "Playboy Fora Lei", que preferiu não se identificar, conta que é fã de Raul Seixas desde a adolescência e que escolheu a música pela possibilidade de trocar cowboy por playboy, palavras que rimam.

    "A paródia é uma forma de difundir uma opinião, favorece a memorização e geralmente é cômica. Ela teve o intuito de mostrar de forma descontraída os temas relacionados a Aécio Neves que aparecem nas redes sociais", contou o autor, que, apesar de não ser filiado ao PT, identifica-se como um "militante de nascença" do partido.

    EVITA PERÓN

    As paródias de músicas famosas são recorrentes em campanhas eleitorais. Em 2010, uma versão de "Telephone", da cantora Lady Gaga, viralizou nas redes sociais.

    A composição, feita pelo estudante goiano Paulo Reis, comparava Dilma Rousseff a Evita Perón e dizia que José Serra, então candidato tucano, não era o "cara" e iria perder.

    O professor de Marketing e Comunicação da Universidade de São Paulo (USP), Mitsuru Yanaze, explica que, por se tratarem de composições baseadas em sucessos conhecidos, as paródias chamam mais atenção dos eleitores que outros tipos de conteúdos políticos na redes sociais.

    "Por serem melodias conhecidas, as paródias chamam mais atenção e geram maior identificação por parte das pessoas. E, por isso, elas acabam se interessando mais pelo conteúdo", observou.

    DIREITOS AUTORAIS

    Na campanha deste ano, uma paródia gerou polêmica e foi parar na Justiça de São Paulo.

    A editora de música Sony/ATV Music ingressou com ação contra deputado federal Tiririca (PR-SP) pelo uso não autorizado da música "O portão", de Roberto e Erasmo Carlos, em sua propaganda no horário eleitoral.

    Na paródia, vestido como o cantor Roberto Carlos, o deputado federal pedia votos aos eleitores. "Eu votei, de novo vou votar. Tiririca, Brasília é o seu lugar", cantava.

    O presidente da Comissão de Propriedade Intelectual da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) no Rio Grande do Sul, Rodrigo Azevedo Pereira, explica que o artigo 47 da Lei de Direitos Autorais estabelece que as paródias são livres desde que não se confundam e não sirvam de descrédito para a obra original.

    "O sentido da paródia sempre é de se fazer algo jocoso ou em tom de brincadeira. A meu ver, enquanto tiver esse caráter, ela está permitida pelo artigo", disse.

    -

    VALE-TUDO MUSICAL

    CONTRA DILMA ROUSSEFF

    • "Cotidiano Petista" - Paródia de "Cotidiano", de Chico Buarque

    Todo dia ela faz tudo sempre igual
    Como pode errar tanto a cidadã
    Presidir dando perda total
    Essa dona não pode estar sã!

    Veja vídeo

    *

    • "Beijinho no Ombro ao PT" - Paródia de "Beijinho no Ombro", de Valesca Popozuda

    PT de fora pro desfalque passar longe
    PT de fora para fugir da inflação
    PT de fora e o povo não vai passar fome
    PT de fora e basta de embromação

    *

    • "Tudo Azul com Aécio" - Paródia de "Tudo Azul", de Lulu Santos

    Nós somos muitos
    Não somos fracos
    Não há vermelho nessa multidão

    *

    CONTRA AÉCIO NEVES

    • "Bossa do Aécio: Samba do Avião" - Paródia de "Samba do Avião", de Tom Jobim

    Fui eleito em Minas
    Mas vivo no Rio de Janeiro
    Vou direto para Cláudio
    Lá onde eu tenho terras sem fim
    E um aeroporto feito para mim

    Veja vídeo

    *

    • "Playboy Fora da Lei" - Paródia de "Cowboy Fora da Lei", de Raul Seixas

    Andreia, eu nunca fui perfeito
    Mas pode ser que eu seja eleito
    E alguém pode querer me investigar
    Você controla os jornais
    É minha irmã, meu capataz
    A minha história não pode vazar

    *

    • "Em Minas Gerais" - Paródia do Hino de Minas Gerais

    Em Minas Gerais
    Em Minas Gerais
    Quem conhece Aécio
    Não vota jamais
    Em Minas Gerais

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