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    Análise: Não há bom presságio sobre início do governo

    VINICIUS MOTA
    SECRETÁRIO DE REDAÇÃO

    23/10/2014 02h00

    Era uma vez um país em que o desemprego aumentava e o salário diminuía. Nessa época, nesse país, os jovens trabalhadores já se esqueciam dos tempos idos da inflação alta e galopante, que compelia seus pais a malabarismos para esticar o contracheque até o final do mês.

    O Brasil de 2014 está para o de 2002 assim como o de 2002 estava para o de 1990. Doze anos, para uma nação que renova a taxas aceleradas a sua força de trabalho, às vezes funcionam como um ciclo inteiro de experiência.

    Assim como muitos trabalhadores brasileiros em 2002 não tinham ou tinham perdido a memória do ambiente inflacionário, uma parcela importante dos que hoje labutam não sabem –ou esqueceram– o que é viver sob ameaça de desemprego e com a perspectiva de declínio no poder de compra.

    A propaganda eleitoral, em especial a da presidente e candidata Dilma Rousseff, tratou de cevar esse hábito mental enraizado numa década de bonança.

    Talvez desse encontro de águas –o marketing otimista e quase onipresente a estimular uma memória coletiva e recente de sucesso– tenha brotado o resultado surpreendente do Datafolha acerca das expectativas dos eleitores sobre a economia.

    Desde o segundo semestre de 2003, a renda do salário só faz aumentar, e sempre acima da inflação. De lá para cá, a taxa de desemprego nas principais metrópoles, que chegou a 13% dos engajados no mercado de trabalho, vem caindo monotonamente e hoje está próxima de 5%.

    A produção nacional, entretanto, deixou de acompanhar o mercado de trabalho faz quatro anos. O PIB per capita anual cresce 0,7% nesta segunda década do século. Nessa marcha, levará cem anos para dobrar.

    Muito subsídio estatal e muito dinheiro estrangeiro ajudaram a sustentar a boa situação dos trabalhadores até aqui. Mas a sensação dos agentes econômicos é que esses generosos amortecedores estão perto de romper-se. E isso não tem nada a ver com os especuladores que fazem da Bolsa uma montanha-russa oscilando ao sabor de pesquisas eleitorais.

    Atua nessa conjuntura o velho e sublunar princípio da escassez. As notícias do cenário internacional começam a ficar piores para o Brasil. Os preços das exportações estão caindo fortemente e, se a tendência consolidar-se, o teto do crescimento brasileiro vai baixar ainda mais.

    O choque dessa dura realidade contra as elevadas expectativas de um eleitorado acostumado a ventos favoráveis pode mostrar-se terrível para o candidato que vencer no próximo domingo. Não há bom presságio sobre o início de governo, seja ele chefiado por Dilma Rousseff, seja por Aécio Neves.

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