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    Painel do eleitor: Nada mudou após último debate

    MARCELO COELHO
    COLUNISTA DA FOLHA

    26/10/2014 02h00

    O debate entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB), na noite desta sexta (24), não mudou as opiniões dos sete eleitores convidados pela Folha a acompanhá-lo na Redação do jornal. Todos haviam sido entrevistados para a série "Painel do Eleitor", publicada ao longo da campanha no caderno "Eleições 2014".

    Às vésperas do primeiro turno, o eletricista e encanador Paulo Rodrigues de Brito ainda estava indeciso; rejeitando o PSDB "mais do que o PT", acabou votando em Marina Silva (PSB) na ocasião.

    Nesta sexta, ele era dos mais silenciosos entre os que viam o debate. Reclamava da "falta de propostas" de Aécio e concluiu: "Na dúvida, que fique tudo como está".

    Bem mais enfática na sua torcida por Dilma, a costureira Teresa de Souza Gomes pontuava de exclamações irônicas as tiradas de Aécio.

    Bruno Poletti/Folhapress
    *Cláudia Sampaio Fernandes*. Vota em: Dilma. _Tem de fiscalizar [sobre possíveis abusos no Bolsa Família, programa do governo criticado por outros eleitores]_
    Cláudia Sampaio Fernandes. Vota em: Dilma. "Tem de fiscalizar [sobre possíveis abusos no Bolsa Família, programa do governo criticado por outros eleitores]"
    Lalo de Almeida/Folhapress
    *Ancelmo Aldon*. Vota em: Aécio. "Quem está dentro da máquina sempre tem as respostas. Não há como comparar o que aconteceu há 12 anos e agora"
    Ancelmo Aldon. Vota em: Aécio. "Quem está dentro da máquina sempre tem as respostas. Não há como comparar o que aconteceu há 12 anos e agora"
    Lalo de Almeida/Folhapress
    *Valter de Souza Fontes*. Vota em: Dilma. "A Dilma tem razão: quem se candidata tem de apresentar suas credenciais, mostrar o que foi capaz de fazer"
    Valter de Souza Fontes. Vota em: Dilma. "A Dilma tem razão: quem se candidata tem de apresentar suas credenciais, mostrar o que foi capaz de fazer"
    Raquel Cunha/Folhapress
    *Antonio Maciel da Silva*. Vota em: Aécio. "Quem pôs o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT], o José Dirceu, a turma toda lá? Foram eles mesmos!"
    Antonio Maciel da Silva. Vota em: Aécio. "Quem pôs o Delúbio [Soares, ex-tesoureiro do PT], o José Dirceu, a turma toda lá? Foram eles mesmos!"

    Num de seus momentos retóricos mais bem-sucedidos, o tucano enumerou propostas para o combate à corrupção. A principal, disse Aécio, não dependia de leis nem iniciativas policiais: estaria realizada quando a vitória de sua candidatura tirasse o PT do governo. "Ha, ha, quero ver!" reagiu Teresa, confiante no sucesso de Dilma.

    O tema da corrupção, e mais especificamente o escândalo da Petrobras, não foi dos mais divisivos entre os participantes do encontro. Os próprios eleitores não vendem, muitas vezes, seu voto?

    "Na minha terra é o que tem de mais comum", diz o aecista Antonio Maciel da Silva, soldador, nascido no Ceará.

    O empresário Ancelmo Aldon, de Cajamar, considera que as coisas não são diferentes no Sudeste. A própria boca de urna, diz ele, é na verdade compra de votos disfarçada. Quando um candidato contrata pessoas para agitar bandeiras, o dinheiro pago serve para garantir que familiares do contratado votem conforme a encomenda.

    Antonio Maciel reage às explicações de Dilma sobre o mensalão. A candidata petista argumentava que, ao contrário do governo FHC, as administrações petistas não engavetaram os inquéritos e os processos. "Mas quem pôs o Delúbio, o José Dirceu, a turma toda lá? Foram eles mesmos!", exclama o aecista.

    Mas "até entre os apóstolos de Jesus tinha um corrupto", responde um dilmista.

    O tema não desperta tanta veemência, porém, quanto o Bolsa Família. Ao contrário do que declara seu candidato, alguns aecistas são visceralmente contra o programa. É o operário Antonio quem, novamente, toma a palavra.

    Falta dinheiro para a previdência, diz ele, porque nossos impostos vão para sustentar gente de 20 anos lá no Nordeste. Tudo melhorou muito por lá, respondem. "Eu sei o que é pobreza e sofrimento", reage o cearense. "Mas, se a nossa vida melhorou, é porque a gente trabalhou."

    Pró-Dilma, a cabeleireira Claudecir Sampaio Fernandes Dinis (Cláudia, como prefere ser chamada) admite possíveis abusos no Bolsa Família, "mas tem de fiscalizar".

    COMPARAÇÕES

    Os convidados se dividem quando o assunto são as comparações entre os governos de FHC e do PT. Seguindo a própria argumentação de Aécio, seus apoiadores insistem que o momento é de apresentar propostas para o futuro.

    O dilmista Valter Fontes, psicólogo, discorda. "A Dilma tem razão: quem se candidata tem de apresentar suas credenciais, mostrar o que foi capaz de fazer." A quantidade de números e realizações que a petista apresenta nos debates talvez seja o motivo para alguns eleitores recorrerem à ideia de "firmeza" quando avaliam seu desempenho.

    "Quem está dentro da máquina sempre tem todas as respostas", rebate Ancelmo, que acrescenta: "Não há como comparar o que aconteceu há 12 anos com o que acontece agora". Os problemas e as circunstâncias eram outras, e toda comparação perde com isso, argumenta.

    Mas ele próprio concorda que o debate foi pobre em propostas para o futuro. "Não agrega nada". Os demais eleitores tendem a concordar.
    Conforme circulam os temas da segurança pública, educação e reforma política, com suas repetições, a pequena plateia na Redação da Folha mantém os olhos fixos na tela de TV, mas sente-se vagamente um ar de sacrifício em alguns dos participantes.

    As perguntas dos indecisos selecionados pela Globo recebem elogios. "Boa pergunta", diz Teresa quando o tema é de que modo se financiará a Previdência com uma população que envelhece rápido. "Tinham é de pôr essa molecada para trabalhar", diz alguém quando se fala em tráfico.

    Promessas de investimento em saneamento e educação tendem a causar ceticismo. A questão não está no envio do dinheiro, mas em quem o recebe do lado de lá. Para o nordestino Antonio, sua região continua dominada pelos coronéis ("não os militares da ditadura, os novos").

    Para Ancelmo, empresário nascido em Sergipe, os pequenos municípios vivem uma espécie de "Bolsa Família" com os repasses do governo federal, sem condição de investir sua parte em infraestrutura -e, à falta dessa contrapartida em forma de colaboração financeira própria, não têm como se beneficiar de grandes projetos.

    Fontes encerra o encontro apontando a necessidade de que o sistema político seja reinventado, quem quer que vença a eleição. "Há uma insatisfação geral, e o PT tem de pensar no que aconteceu."

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