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    No fim da campanha, Dilma se disse 'livre'

    ANDRÉIA SADI
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    02/11/2014 00h00

    A dois dias do resultado da eleição presidencial, Dilma Rousseff já indicava a sua equipe como seria seu futuro governo caso fosse reeleita.

    Em uma reunião após o debate da Rede Globo, no Rio de Janeiro, a presidente confidenciou a um grupo de ministros e assessores que se sentia "livre", sem o compromisso da reeleição –caso eleita–, para agora fazer as coisas do seu jeito.

    O relato foi obtido pela Folha com dois dos participantes da reunião, que aconteceu no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca.

    A reportagem ouviu de outros dois presentes ao encontro uma versão um pouco diferente: a de que a frase "estou livre" se referia ao peso da campanha e de debates na TV, principal momento de tensão para a presidente durante a corrida presidencial.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    A presidente Dilma durante entrevista após debate do 2º turno promovido pela TV Globo
    A presidente Dilma durante entrevista após debate do 2º turno promovido pela TV Globo

    Diante da nova versão, a reportagem voltou aos participantes que relataram a informação original. Ambos reafirmaram o teor inicial –o de que a expressão "livre" se referia à condução do governo, caso fosse reeleita.

    A reunião teve a participação do núcleo duro do comitê presidencial, tendo à frente os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário).

    Para ministros mais próximos, a explicação soou como um sinal de que Dilma, que defendeu o diálogo como principal compromisso de seu segundo mandato, deve manter o estilo centralizador e de poucas consultas para tocar a gestão.

    Nos primeiros dias após o segundo turno, a presidente, de fato, emitiu alguns sinais de que tomaria decisões conforme a sua visão.

    A despeito da expectativa do mercado, não apontou mudanças na equipe econômica, tampouco anunciou medidas na área fiscal. Ela, entretanto, determinou que os ministérios da Casa Civil, do Planejamento e da Fazenda buscassem um corte orçamentário extra para sinalizar seu compromisso com o superavit primário.

    Essa orientação, porém, ficou restrita ao bastidor.

    LULA

    Auxiliares da presidente também interpretaram sua fala como um recado ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que já sinalizou que ficará mais perto do governo, de olho em 2018.

    A falta de indicações sobre o que Dilma fará na área econômica foi recebida dentro de seu partido, o PT, e no próprio governo como indicativo de que a presidente pode até assimilar algumas das sugestões do setor privado e de Lula, mas que a palavra final será sempre sua.

    Uma outra cobrança que Dilma não deve atender é quanto a exoneração do secretário do Tesouro. Petistas, incluindo o ex-presidente, queriam Arno Augustin fora das decisões de governo.

    A presidente, porém, quer tê-lo como assessor especial do Palácio do Planalto, o que pode aumentar seu poder dentro da Esplanada após anos de desgaste devido às chamadas "pedaladas" e outras manobras na área fiscal.

    Outra demanda do PT, a regulação da mídia, tende a ficar engavetada por um tempo, a despeito da grande pressão do partido.

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