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    Testes com transposição do São Francisco preocupam comunidades

    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE ENVIADO ESPECIAL A PERNAMBUCO

    09/11/2014 02h00

    Impulsionada por um sistema de quatro bombas –cada uma com peso equivalente a cem carros–, as águas do rio São Francisco molharam pela primeira vez os canais de concreto da transposição.

    Mas a mesma água que começa a percorrer os canais do eixo leste chega fraca nos canos da irrigação das terras do produtor de alface Arilo Farias, 28, e está longe de atingir a casa de Carmélio de Souza, 46, que planta milho e feijão em seu quintal.

    Os primeiros testes da transposição, iniciados há um mês, colocaram comunidades em rota de colisão. Enfrentando forte estiagem há quatro anos, moradores veem com ressalvas o desvio das águas, que, durante os testes, não servirá às comunidades.

    A captação é feita num dos principais reservatórios do rio São Francisco, o lago de Itaparica, que está com apenas 15% do seu volume útil.

    Em Petrolândia, sertão pernambucano, o medo é sentimento recorrente. No perímetro irrigado Icó-Mandantes, pequenos agricultores reduziram a plantação e estão perdendo a produção de coco, melancia, cebola e hortaliças.

    "Estão descobrindo um santo para cobrir outro", diz José Arivaldo Gomes, 30, que, com o início de um racionamento para irrigação, reduziu a área da cebola de quatro para um hectare.

    PROTESTOS

    Moradores de Petrolândia protestaram contra os testes. A Força Nacional atuou para arrefecer os ânimos e garantir o bombeamento das águas.

    Cerca de 120 km ao norte, o leito do riacho do Navio, imortalizado na música de Luiz Gonzaga, é só areia.

    No assentamento de agricultores na zona rural da cidade vizinha de Floresta, Carmélio vê o vaivém de caminhões e tratores que escavam mais um trecho de canais.

    Com a seca, cobra celeridade nas obras, abandonadas em 2012 e retomadas este ano. "Estamos ansiosos. Soube que estão enchendo os canais e não vejo a hora de a água chegar aqui também", diz.

    Diretor do sindicato rural de Floresta, Ricardo Souza diz que alguns "reclamam de bucho cheio": "Se quiserem protestar de novo, vamos contra-atacar. Precisamos dessa água".

    As famílias que dependem da agricultura de sequeiro –sem irrigação– em Floresta sobrevivem de benefícios como o Bolsa Família. Pequenos trabalhos na zona urbana complementam a renda.

    Editoria de arte/Folhapress

    BOMBEAMENTO

    Desde outubro, quando as bombas foram acionadas, o nível do reservatório de Itaparica baixou. O governo nega que seja resultado dos testes.

    Com o início dos testes, 5 mil litros de água por segundo passaram a ser bombeados para os canais. Aumentará para 28 mil com a obra pronta, volume um pouco menor do tratado pelo sistema Cantareira, de São Paulo.

    A obra da transposição atualmente tem 12 mil trabalhadores em atividade e está 66% concluída. A previsão de entrega dos eixos norte e leste é dezembro de 2015.

    A expectativa é que atenda 325 comunidades rurais no entorno dos canais. Ainda não há previsão de quando as ligações de água para as casas dos sertanejos serão feitas.

    A obra, inicialmente orçada em R$ 4,5 bilhões e com entrega prevista para 2012, teve seu custo atualizado para R$ 8,2 bilhões.

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