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    Procuradoria acha carcereiro da Casa da Morte

    ADRIANO BARCELOS
    DE DO RIO

    12/11/2014 00h00

    Identificado e ouvido pelo Ministério Público Federal no último fim de semana em Fortaleza, o carcereiro da Casa da Morte de Petrópolis, na região serrana do Rio, deverá prestar depoimento também para a Comissão Estadual da Verdade fluminense.

    "O que se sabe é que havia um revezamento das equipes que atuavam na Casa da Morte. Ele [Lima] seria o único quadro permanente do local. É um arquivo vivo, que viu e ouviu tudo", disse o presidente da Comissão Estadual da Verdade, Wadih Damous.

    Antônio Waneir Pinheiro Lima, de 71 anos, é soldado reformado do Exército e tomava conta dos presos políticos que eram encaminhados para as instalações militares chamadas de CIE (Centro de Informações do Exército).

    Reprodução
    Antônio Waneir Pinheiro Lima, o Camarão, nos anos 1970
    Antônio Waneir Pinheiro Lima, o Camarão, nos anos 1970

    O CIE constituiu-se em um dos mais sanguinários centros de tortura e execução de detentos estabelecidos pelo regime militar brasileiro (1964-1985) e para lá eram encaminhados presos tidos como líderes dos grupos de resistência à ditadura.

    O número de pessoas que morreram na Casa da Morte é desconhecido, mas as estimativas são de pelo menos 20 vítimas. Com vida, apenas uma presa saiu: Inês Etienne Romeu, militante da VPR (Vanguarda Popular Revolucionária), hoje com 72 anos. Torturada e presa por 96 dias em 1971, Inês relatou em 1979 os abusos sofridos.

    Na ocasião, teve especial destaque em seu relato a atuação de Lima na Casa da Morte. Segundo ela, o soldado a estuprou duas vezes enquanto esteve encarcerada. Na época, ela disse que o autor dos abusos se chamaria "Wantuir" ou "Wantuil", e que seu apelido era Camarão.

    Lima –ou Camarão–, é do Ceará, mas continuou vivendo no Estado do Rio mesmo após a desativação do CIE, que operou entre 1971 e 1974. Desde o início de 2014, ele tinha conhecimento de que o Ministério Público Federal e a Comissão Estadual da Verdade estavam em seu encalço.

    Os investigadores obtiveram então informações de que Lima viveria no município de Araruama (RJ). Antes que fosse possível chegar até ele, o militar deixou a cidade e fugiu para o Nordeste.

    "Conseguimos localiza-lo em Araruama e ele percebeu que estava sendo alvo das atenções do MPF e nossas, o que o fez parar no Ceará. Vamos tentar muito ouvi-lo", afirmou Wadih Damous.

    Lima era homem de confiança do principal responsável pela Casa da Morte, o tenente-coronel Paulo Malhães, que morreu durante um assalto em abril deste ano. Responsável por implementar o CIE, Malhães assumiu em entrevistas e depoimentos que as violações aos direitos humanos que ocorreram em Petrópolis.

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