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    Lava Jato

    Posto de gasolina no DF motivou operação

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    16/11/2014 02h00

    À primeira vista parece um posto de gasolina como milhares de outros no país.

    Localizado no setor hoteleiro sul de Brasília, a cerca de 3 km do início da Esplanada dos Ministérios, seus 85 funcionários, em turnos, cuidam da lanchonete, da pastelaria, da loja de conveniência e das 16 bombas de abastecimento –que atendem entre 3.000 e 3.500 veículos por dia, segundo os dados fornecidos pela gerência.

    Há também no posto –e aqui o cenário começa a se complicar– uma casa de câmbio de valores, fechada desde a manhã de 17 de março deste ano, quando a Polícia Federal cumpriu ali um dos 81 mandados de busca e apreensão daquele dia.

    Sergio Lima - 14.nov.2014/Folhapress
    Posto da Torre, no qual Carlos Habib Chater operava uma casa de câmbio no DF
    Posto da Torre, no qual Carlos Habib Chater operava uma casa de câmbio no DF

    Era o início da Operação Lava Jato, que investiga uma série de fraudes em licitações e corrupção de servidores públicos na Petrobras.

    Conforme atestam documentos do inquérito da PF, a investigação ganhou esse nome em referência ao Posto da Torre. Por ironia, lá existe uma lavanderia de roupas, mas nem sinal de um lava-jato para carros.

    "Aqui funciona há 50 anos, nunca houve lava-jato", diz o gerente Rogério Frony.

    Em "Breaking Bad", seriado da TV norte-americana de enorme sucesso, um professor envolvido com a produção de droga sintética decide comprar um lava-jato para dar aparência de legalidade ao dinheiro proveniente do crime. No seriado, o negócio é descoberto e ele acaba em maus lençóis. Na vida real não foi diferente.

    O dono do Posto da Torre, Carlos Habib Chater, 45, foi preso em março e até a última sexta permanecia encarcerado na penitenciária de São José dos Pinhais, no Paraná.

    Há cerca de 20 anos Chater tem problemas com a lei. Antes da Lava Jato, ele foi indiciado pela PF e denunciado pelo Ministério Público junto com seu pai, Habbib Salim El Chater, nascido em 1935 na localidade de Karm Asfour, no Líbano, por "operar casa de câmbio sem a devida autorização" do Banco Central.

    Em 2008, o nome de Chater voltou a aparecer em uma investigação da PF que averiguava participação do deputado federal José Janene (PP-PR), morto em 2010.

    Ao longo de meses, desde 2013, ele teve seus telefones interceptados pela PF. Nas conversas, segundo a polícia, surgiram indícios de que Chater operava remessas de dinheiro para o exterior por meio do chamado "dólar-cabo", uma modalidade clandestina e ilegal.

    "Se precisar de uma conta para colocar reais, e depois transferir para outro lugar, eu te arrumo", diz Chater numa das gravações. Ele atuava em conexão com outro doleiro, Alberto Youssef.

    Segundo a PF, o Coaf (unidade de inteligência financeira do governo federal) detectou movimentações financeiras de R$ 124 milhões "em operações financeiras suspeitas" do grupo de Carlos Chater.

    Em depoimento à Justiça Federal, o gerente geral do posto de gasolina, Ediel Viana da Silva, afirmou que no local havia entregas de dinheiro em espécie para políticos de Brasília.

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