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    Lava Jato

    Delatores acusaram atual diretor de estatal de receber 'comissões', diz PF

    AGUIRRE TALENTO
    GABRIEL MASCARENHAS
    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    17/11/2014 20h37

    O atual diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, recebeu "comissões" de empreiteiras que mantinham contratos com a estatal, de acordo com os delatores Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que colaboram com as investigações.

    Sabe-se pela Polícia Federal que Costa e Youssef implicaram Cosenza: a PF tem citado essa informação durante a tomada de depoimento de três executivos presos na sétima fase da Operação Lava Jato.

    A informação consta, por exemplo, no depoimento tomado de Ildefonso Colares Filho, ex-presidente da empreiteira Queiroz Galvão, preso na sexta-feira.

    Ricardo Borges/Folhapress
    José Carlos Cosenza, diretor de Abastecimento da Petrobras, ao lado de Graça Foster
    José Carlos Cosenza, Almir Barbassa (diretores da Petrobras) e a presidente da estatal, Graça Foster

    De acordo com o documento que registrou os depoimentos, o delegado da Polícia Federal Agnaldo Mendonça Alves disse: "Paulo Roberto e Alberto Youssef mencionaram o pagamento de comissões pelas empreiteiras que mantinham contratos com a Petrobras para si, para os diretores [Renato] Duque, [Nestor] Cerveró e Cosenza e para agentes políticos." O delegado, em seguida, perguntou se Ildefonso Colares Filho confirmava a informação.

    Cosenza participou, ao lado da presidente da companhia, Graça Foster, de uma conferência promovida nesta segunda-feira (17) pela Petrobras para divulgação de dados operacionais da empresa.

    Costa foi diretor de Abastecimento da Petrobras e confessou ter contas no exterior com dinheiro de propina. Youssef é doleiro do Paraná e operava uma série de empresas de fachada para pagamentos a agentes públicos e políticos. Ambos fecharam acordo de delação premiada na Lava Jato.

    A mesma pergunta feita a Ildefonso também foi formulada, com variações, ao executivos Carlos Eduardo Strauch Albero e Newton Prado Júnior, ambos da Engevix. Os três negaram ter conhecimento dos pagamentos.

    O executivo Othon Zonaide de Moraes Filho, da Queiroz Galvão, negou saber de propinas a Cosenza ou outros servidores. Disse que conhecia Cosenza porque ele costumava acompanhar o ex-diretor Paulo Roberto Costa em reuniões na petroleira, um relacionamento que ele caracterizou como "estritamente profissional".

    Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa da Petrobras informou: "O diretor de Abastecimento da Petrobras, José Carlos Cosenza, nega, veementemente, as imputações de que tenha recebido 'comissões' de empreiteiras contratadas pela Petrobras, ao tempo que reafirma que jamais teve contato com Alberto Youssef".

    No depoimento à PF, o executivo Albero disse que conheceu Alberto Youssef no final de 2013, quando o doleiro foi ao escritório da companhia para falar com os sócios-proprietários. Depois, em data que não cita, afirmou ter ido "entregar um envelope" para Youssef a pedido "da alta direção da empresa" Engevix.

    Os empresários negaram ter pago propinas e negaram ter conhecimento de um "clube" formado por empreiteiras.

    DOAÇÕES

    Os executivos confirmaram ter sido procurados por partidos e explicaram o sistema de doação de recursos para campanhas eleitorais.

    O executivo da Queiroz Galvão Othon Zanoide de Moraes Filho afirmou que "todos os partidos políticos procuram as grandes empresas atrás de doação de campanha" em ano eleitoral e citou ter sido abordado neste ano pelo tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.

    "Fui procurado pelos arrecadadores de campanha, entre eles me recordo do João Vaccari do PT, mas disse a ele que eu estava com essa empresa e não mexia mais com os negócios da construtora Queiroz Galvão. Fui procurado por diversos políticos e prefiro não falar dos demais, até porque não foi feita nenhuma doação por mim ou por minha empresa".

    O empresário também citou, ao ser questionado se conhecia os tesoureiros e arrecadadores dos partidos, que "o próprio Youssef era um arrecadador do PP [Partido Progressista]".

    Moraes Filho disse que a Queiroz Galvão tinha um comitê, comandado pelo presidente da empresa, para analisar os pedidos de doações. "Eu dava as demandas para o comitê, este se reunia e decidia os valores que seriam doados e para quem ocorreriam as doações", afirmou Othon.

    Também preso e ouvido pela PF, o ex-presidente da construtora Queiroz Galvão Ildefonso Colares Filho contou que reunia a diretoria para análise desses pedidos. "A gente dava para aqueles partidos que mais se caracterizam com as características da empresa, ligados ao crescimento da infraestrutura. Me recordo de doações para o PT, PMDB, PP e mais alguns", disse Ildefonso.

    A Folha procurou João Vaccari, mas não obteve resposta até a publicação desta matéria.

    Colaborou MÁRCIO FALCÃO, de Brasília

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