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    Lava Jato

    Empresas negociam acordo para tirar executivos da prisão

    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO
    FLÁVIO FERREIRA
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    20/11/2014 02h00

    A prisão de executivos de empreiteiras sepultou de vez a ideia de um acordo criminal coletivo, que beneficiasse a todos, mas ao menos duas empresas negociam algum tipo de colaboração com a Justiça para tirar seus diretores da prisão.

    São a Camargo Corrêa e UTC Constran. Três integrantes da cúpula da Camargo podem ficar um mês na prisão: o presidente do conselho, João Auler, o presidente da empreiteira, Dalton Avancini, e o vice-presidente Eduardo Leite. Ricardo Pessoa, presidente da UTC Constran, também está nessa situação.

    Os executivos ficaram em silêncio nos depoimentos à Polícia Federal, mas o advogado de Leite, Antonio Claudio Mariz de Oliveira, explicitou a negociação.

    "Vamos tomar conhecimento de todos os fatos e aí podemos colaborar com um depoimento mais específico na sequência", disse. "Ele [Leite] poderá admitir [atos ilícitos] se forem verdade e colocar a mão à palmatória."

    A Folha apurou que o silêncio foi uma forma de ganhar tempo enquanto a negociação não estiver fechada.

    Um acordo de delação premiada está descartado, mas os executivos podem esclarecer dúvidas e confirmar hipóteses que a Polícia Federal tem. Também já aceitaram pagar multas que podem ultrapassar a casa dos bilhões.

    As negociações, porém, passam por um impasse. Os procuradores querem que os executivos revelem no acordo atividades ilícitas em outras áreas do governo. Os advogados dos executivos consideram inaceitável extrapolar a apuração para além da Petrobras.

    CADA UM POR SI

    Com a implosão do acordo criminal coletivo, que vinha sendo discutido em Brasília e Curitiba por um grupo com cerca de dez advogados, cada empresa passou a adotar uma estratégia própria.

    A Galvão Engenharia e a Mendes Júnior acusaram o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa de ter extorquido as empreiteiras, com ameaças de cortar pagamentos se não houvesse a contrapartida do suborno.

    Essa hipótese chegou a ser discutida por outras empreiteiras, mas as provas eram tantas que elas desistiram da acusação, segundo três advogados ouvidos pela Folha.

    Há ainda empresas, como a OAS e a Sanko, que sustentam que seus negócios com as empresas do doleiro Alberto Youssef foram lícitos: pagamentos de comissão por serviços que foram prestados. A Procuradoria sustenta que as comissões eram propina.

    Outras empresas, como a Engevix, consideram que as prisões são ilegais porque o juiz usurpou a competência do Supremo ao determinar ele próprio o que deveria ser enviado ao tribunal.

    Fora da área criminal, as empresas negociam um acordo coletivo que englobe as ações de improbidade e contra o cartel. As chances são boas, segundo quatro advogados, porque as empreiteiras têm um aliado: o governo federal teme a paralisia de obras se as empresas forem declaradas inidôneas.

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