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    Lava Jato

    Empresários não explicaram repasses de R$ 53 mi a doleiro

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    24/11/2014 02h00

    A dificuldade das empresas de construção civil em explicar pagamentos no valor total de R$ 53 milhões para as empresas do doleiro Alberto Youssef é um dos principais motivos que levaram o juiz federal Sérgio Moro a decretar e, em alguns casos, estender as prisões dos executivos de empreiteiras na Operação Lava Jato.

    "Foi concedido, por este Juízo, mediante intimação, às empreiteiras a oportunidade de esclarecer os fatos, justificar a licitude das transações e apresentar a documentação pertinente. Os resultados foram até o momento desalentadores", afirmou o juiz.

    Um total de 17 relatórios da Polícia Federal, com cerca de 200 páginas, constitui o cerne dos indícios documentais colhidos desde o ano passado contra os empreiteiros.

    Geraldo Magela - 18.out.2005/Agência Senado
    O doleiro Alberto Youssef, durante depoimento na CPI dos Correios
    O doleiro Alberto Youssef, durante depoimento na CPI dos Correios

    São notas fiscais, recibos e comprovantes de depósitos apreendidos nas empresas de Youssef ou obtidos por meio de quebra de sigilo bancário.

    Os relatórios da PF, concluídos no final de outubro, detalham como e quando cada empreiteira fez os depósitos nas contas de Youssef.

    O doleiro disse em seus depoimentos que esse dinheiro, depois que entrava no caixa de suas empresas, era redistribuído a agentes públicos.

    Pelo menos dois dos executivos presos, Sérgio Cunha Mendes, vice-presidente da construtora Mendes Júnior, e Erton Medeiros, diretor da Galvão Engenharia, confirmaram à PF que pagaram propina a Youssef.

    Mendes argumentou que os depósitos foram feitos sob pressão, pois Youssef falava do risco de a empresa perder contratos na Petrobras.

    NOTAS GENÉRICAS

    Nas notas fiscais expedidas por Youssef, as justificativas para os pagamentos são variadas e genéricas. Os serviços são descritos, por exemplo, como "consultoria para implantação de software" ou "assessoria ou consultoria de qualquer natureza".

    O juiz determinou, entre março e novembro, que as empreiteiras explicassem cada um dos pagamentos às empresas de Youssef.

    No caso da Mendes Júnior, a PF havia apreendido notas fiscais que indicavam um total de R$ 8 milhões para empresas de Youssef.

    Para o juiz Sérgio Moro, os contratos e as notas fiscais apresentados tinham suspeita de terem sido produzidos fraudulentamente.

    Já a Galvão Engenharia, intimada duas vezes pelo juiz, não havia se manifestado sobre os pagamentos até o dia em que Moro decidiu emitir os mandados de prisão, no último dia 10 de novembro.

    A Camargo Corrêa, segundo a PF, foi a que mais fez depósitos e recebeu notas fiscais de Youssef, num total de R$ 29,2 milhões.

    COMISSÕES

    Diferentemente da maioria dos outros casos, antes de chegar ao caixa das empresas do doleiro, o dinheiro passou por outras duas firmas, a Sanko Sider e a Sanko Serviços, segundo a PF.

    O sócio-gerente das duas firmas, Márcio Bonilho, admitiu, durante interrogatório, que os serviços para as empresas de Youssef inexistiam. Segundo ele, "os contratos e notas fiscais foram produzidos fraudulentamente para justificar pagamento de comissões a Youssef".

    O juiz observou que as duas empresas Sanko receberam R$ 113 milhões da Camargo (2009-2013) e repassaram R$ 29,2 milhões para Youssef.

    O alto valor do repasse ao doleiro, na interpretação do juiz, "afasta a possibilidade de que se tratem de meras comissões sobre as vendas".

    OUTRO LADO

    A Camargo Corrêa nega irregularidades e diz que serviços foram prestados pelas empresas Sanko.

    Entre 2005 e 2014, a Camargo, diretamente ou por meio de consórcios, manteve um total de R$ 6 bilhões em negócios com a Petrobras.

    Já na UTC Engenharia não foram encontrados depósitos diretos para as empresas de Youssef. A companhia tornou-se sócia do doleiro num empreendimento na Bahia, no valor de R$ 5,3 milhões.

    Além disso, recorreu a Youssef para negociar o pagamento de um precatório emitido pelo Estado do Maranhão.

    Entre 2004 e 2014, diretamente ou por meio de consórcio, fechou R$ 14 bilhões em contratos com a Petrobras.

    Em depoimento à Polícia Federal, o empresário Ricardo Ribeiro Pessoa, dono da UTC, defendeu a legalidade dos negócios e disse que emprestou entre R$ 900 mil e R$ 1 milhão para Youssef.

    A Lava Jato apura um esquema de lavagem de dinheiro que teria movimentado ao menos R$ 10 bilhões.

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