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    Lava Jato

    Prisões da Lava Jato são 'tortura psicológica', diz advogado de Duque

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    FABIANO MAISONNAVE
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    24/11/2014 18h03

    As prisões de executivos e empreiteiros suspeitos de corrupção na Operação Lava Jato são parte de uma estratégia de "tortura psicológica", na opinião do advogado Renato de Moraes.

    Moraes é o defensor de Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, preso pela Polícia Federal no último dia 14. Ele é suspeito de participar da distribuição de propinas em obras da estatal.

    O advogado já tentou obter a soltura de Duque na Justiça Federal, sem sucesso.

    Márcia Foletto - 14.nov.2014/Agência O Globo
    O ex-diretor da Petrobras Renato Duque chega à sede da Polí­cia Federal no Rio
    O ex-diretor da Petrobras Renato Duque chega à sede da Polí­cia Federal no Rio

    "O método de hoje é a tortura psicológica. Cercear liberdade, ameaçar, prender familiares. Ou você está preso, ou ameaçado de estar preso", afirmou Moraes. "A prisão dele [de Duque] só tem um fim: tentar torturá-lo."

    O advogado fez as declarações à Folha na tarde desta segunda-feira (24), em frente à sede da PF em Curitiba, responsável pelas investigações. Outras 13 pessoas estão detidas no local –entre elas, diretores das construtoras UTC, OAS, Engevix, Camargo Corrêa, Mendes Júnior e Galvão Engenharia.

    Para ele, as delações feitas até aqui devem ser vistas com desconfiança. "Os acordos são nebulosos. Um estado que barganha com um suposto criminoso gera uma insegurança muito grande", disse.

    Questionado sobre a comparação entre a Lava Jato e as prisões de Guantánamo, feita em entrevista à Folha pelo advogado do presidente da UTC Constran (também preso), Moraes disse que a considera pertinente.

    "A comparação com Guantánamo pode parecer exagerada, mas não é. Eu comparo aos tempos da ditadura, quando a tortura era institucional", afirmou. "Agora, é a tortura psicológica."

    Moraes disse que as investigações e o processo da Lava Jato deveriam correr em Brasília ou no Rio de Janeiro, sede da Petrobras, e não no Paraná, onde o juiz federal Sérgio Moro conduz o caso.

    ACESSO À DELAÇÃO

    Outros advogados também se queixaram dos trâmites processuais. A defesa de Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, afirmou que a falta de acesso aos depoimentos da delação premiada tem dificultado o trabalho.

    "É uma questão complicada. Estamos trabalhando para ter acesso às delações para uma plena defesa", afirmou o advogado Marlus Arns de Oliveira.

    Leite também está preso na carceragem da PF em Curitiba. Em depoimento na semana passada, por orientação de seus advogados, manteve o silêncio ao ser questionado sobre os contratos da sua empresa com a Petrobras, alegando que não teve acesso aos depoimentos da delação premiada.

    Reportagem da Folha publicada na semana passada revelou que Leite é citado pelo doleiro Alberto Youssef em conversas e mensagens interceptadas na Operação Lava Jato.

    As mensagens sugerem que o vice-presidente da Camargo Corrêa é um dos executivos mais próximos do doleiro. Youssef refere-se a Leite como "leitoso" e reclama de "atrasos" de pagamentos da empreiteira.

    O doleiro voltou a prestar depoimento na tarde desta segunda-feira (24). Na quarta-feira, fará mais um depoimento -teoricamente, o último da delação premiada, segundo a PF.

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