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    Lava Jato

    Investigada, UTC tem histórico de contratos suspeitos com a Petrobras

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    25/11/2014 12h16

    Apontada como a coordenadora do "clube" de empreiteiras suspeitas de superfaturar obras e pagar agentes públicos na Petrobras, a UTC Engenharia esteve envolvida em pelo menos outros três episódios polêmicos envolvendo contratos da Petrobras nos últimos anos.

    Em 2010, a Folha revelou que a empresa havia pagado, no ano anterior, uma mesada de R$ 150 mil em doações ao diretório estadual do PT de São Paulo.

    A primeira das parcelas, que totalizaram R$ 1,2 milhão, foi quitada dois dias antes de a UTC fechar contrato de R$ 114 milhões com a Petrobras.

    Na época, tanto a empreiteira quanto a petroleira negaram haver relação entre as doações e o contrato.

    A UTC foi investigada em uma operação no mercado de ações durante o governo Fernando Henrique Cardoso (1994-2002).

    Em outubro de 2002, quatro dias antes de uma licitação na Petrobras, a UTC realizou, segundo investigação da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), uma operação do tipo "esquenta-esfria" na antiga BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros de São Paulo, que se fundiu com a Bovespa em 2008).

    Tal esquema consiste na simulação de prejuízo, pela empresa, para dar saída legal a recursos que pretende pagar a terceiros. A Folha divulgou em 2006 a conclusão do inquérito da CVM.

    Por meio de "ardil", segundo a comissão, a UTC pagou como "prêmio" –os supostos prejuízos de sua operação no mercado de venda de dólares– um total de R$ 1,37 milhão a um dentista que vivia em Portugal, que distribuiu o dinheiro para cerca de 20 pessoas e empresas, por meio de cheques.

    Ouvido pela CVM, o dentista afirmou ter sido "usado", pois teria deixado com um corretor de valores, no Brasil, 40 cheques assinados em branco.

    A UTC assinou o contrato com a Petrobras, no valor de US$ 83 milhões, no penúltimo dia do governo FHC, em 30 de dezembro.

    A UTC tornou-se uma ativa colaboradora de campanhas eleitorais a partir de 2004, tendo feito a maioria de suas doações para políticos do PT.

    Em 2012, por exemplo, dos R$ 18,1 milhões que UTC doou nas eleições, R$ 11,2 milhões foram destinados a candidatos, comitês e diretórios do PT.

    Em 2006, "O Globo" revelou que Ricardo Pessoa era o presidente de uma organização não governamental criada por grandes empreiteiras, a Abemi (Associação Brasileira de Engenharia Industrial), que mantinha um convênio no valor de R$ 228 milhões com a Petrobras para treinamento de mão-de-obra e projetos de educação.

    As notícias enfureceram o então presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli. Ele chamou as reportagens de "mau jornalismo". "É jornalismo marrom", afirmou.

    "O que saiu em 'O Globo' e o que saiu na Folha de S.Paulo é uma completa ilação irresponsável tentando associar situações que não são relacionadas com a ação da Petrobras", disse Gabrielli na época. Ele disse ainda que as reportagens traziam "irrealidades" e "falsidades".

    No depoimento que prestou à Polícia Federal na Operação Lava Jato, Ricardo Pessoa negou irregularidades e o pagamento de propinas a agentes públicos. Acrescentou que sua empresa colabora com campanhas eleitorais desde 1992.

    Ele disse que não há "um partido específico que acolha tais doações, tendo doado a partidos do governo e da oposição".

    Segundo ele, seus contatos maiores no PT eram o tesoureiro nacional, João Vaccari Neto e, no PSDB, com o ex-executivo do Itaú Sérgio Freitas.

    Freitas reconheceu ter feito apenas uma visita a Pessoa, em 2014, para pedir doações que foram declaradas à Justiça Eleitoral.

    Em 2014, a UTC doou R$ 19 milhões a políticos e diretórios do PT e R$ 7 milhões aos do PSDB.

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