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    Dilma fará aceno à esquerda para acalmar bases petistas

    ANDRÉIA SADI
    DE BRASÍLIA
    MARINA DIAS
    CÁTIA SEABRA
    DE ENVIADAS ESPECIAIS A FORTALEZA

    28/11/2014 02h00

    Criticada por formar uma equipe econômica de perfil conservador e escolher uma representante do agronegócio para seu novo ministério, a presidente Dilma Rousseff planeja fazer acenos à esquerda do PT para tentar tranquilizar as bases de seu partido.

    Nesta sexta-feira (28), a presidente participará de um encontro do diretório nacional da legenda em Fortaleza e fará um discurso para agradecer o apoio do PT e reafirmar seu compromisso com as políticas sociais adotadas durante os governos petistas.

    Confirmado nesta quinta (27) como próximo ministro da Fazenda, Joaquim Levy é visto nos bastidores do PT como um economista liberal e contrário à política de valorização do salário mínimo, que tem contribuído para aumentar as despesas do governo.

    Aliados de Dilma também estimularam nas redes sociais manifestações contrárias à indicação da senadora e colunista da Folha Kátia Abreu (PMDB-TO), defensora do agronegócio em seus embates com ambientalistas e indígenas, para o Ministério da Agricultura.

    Nesta quinta, na 3ª Conferência Nacional de Economia Solidária, em Brasília, um grupo na plateia entoou "Kátia Abreu não!" quando Dilma deixava o local.

    Integrantes da cúpula petista dizem que não haverá animosidade no encontro de Fortaleza, que irá até sábado, mas o partido pretende cobrar de Dilma a indicação de ministros comprometidos com bandeiras históricas, como a regulação da mídia e a reforma do sistema político.

    Um documento preliminar elaborado pelo secretário-geral do PT, Geraldo Magela, afirma que a sigla precisa ser "protagonista" diante da necessidade de reformas. Nem que, para isso, tenha que enfrentar partidos aliados.

    "O PT deve impulsionar o processo de mudança que o país exige. Isso poderá nos levar a confrontos e enfrentamentos com partidos aliados no Congresso e até a criar dificuldades para a composição parlamentar. Tais dificuldades não podem impedir o PT de lutar por essas mudanças", diz o texto.

    A proposta afirma que a eleição de 2018 dependerá do desempenho do segundo mandato de Dilma.

    O documento preliminar afirma ainda que o PT deve honrar seu compromisso de combate à corrupção. Citado nas investigações da Operação Lava jato, o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, estará no evento.

    "O PT não dará a trégua que deu a Dilma no primeiro mandato", disse um dirigente do partido, que pediu para não ser identificado. "Agora é preciso fazer alguns acenos para a nossa militância."

    Para os petistas, a escolha de Joaquim Levy não enfrentará resistência do partido se a presidente escolher para outras pastas quadros comprometidos com as reivindicações do PT, mesmo que não sejam filiados à legenda.

    Dilma tem demonstrado que está disposta a refazer pontes com o partido. Nesta quinta, participou de um evento sobre economia solidária a pedido de Gilberto Carvalho (Secretaria Geral).

    Na quarta (26), recebeu o teólogo Leonardo Boff, que assinou manifesto divulgado nesta semana por intelectuais de esquerda que criticam a entrada de Levy e Kátia Abreu no governo.

    O PT reconhece que, para abrir lugar no ministério para outros partidos que a apoiam no Congresso, a presidente terá que reduzir o espaço ocupado pelos petistas.

    Mas Dilma já indicou que lideranças representativas de alas importantes do PT ficarão encarregadas da negociação das bandeiras do partido.

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    O QUE O PT QUER

    As principais reivindicações do partido

    • REGULAÇÃO DA MÍDIA O presidente do PT, Rui Falcão, elegeu como prioridade a "democratização da mídia", com foco no combate aos "oligopólios e monopólios". Dilma considera discutir a regulação econômica da mídia, mas diz que não apoiará propostas de controle de conteúdo
    • REFORMA POLÍTICA O partido defende a realização de um plebiscito para a convocação de uma Constituinte exclusiva para a reforma política. Entre as principais bandeiras defendidas pela sigla está a proibição das doações de empresas a campanhas
    • CARGOS O PT se opôs a duas escolhas de Dilma para a futura equipe: Joaquim Levy (Fazenda) e Kátia Abreu (Agricultura). O partido deve emplacar os nomes do ex-governador da Bahia Jaques Wagner e do deputado Edinho Silva

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    LINHA DE FRENTE

    Petistas que terão força no próximo governo

    • ALOIZIO MERCADANTE - Casa Civil Mais influente auxiliar e braço direito de Dilma, já ocupou outras duas pastas no governo da petista: Educação e Ciência e Tecnologia
    • RICARDO BERZOINI - Relações Institucionais Ex-ministro de Lula, voltou ao Planalto por indicação do ex-presidente com a missão de melhorar as relações de Dilma com o PT e com o Congresso
    • MIGUEL ROSSETTO - Desenvolvimento Agrário Foi titular da pasta de 2003 a 2006, no governo Lula. Reassumiu o cargo em março e se tornou um dos auxiliares mais próximos de Dilma

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