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    Lava Jato

    Delator diz ter pago R$ 137 milhões em propina e nega esquema com doações

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    FABIANO MAISONNAVE
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

    03/12/2014 14h58

    O executivo da Toyo Setal Júlio Camargo, que fez acordo de delação premiada no âmbito da Operação Lava Jato, admitiu em depoimento à Polícia Federal ter pago R$ 137 milhões em propinas, dos quais US$ 40 milhões à época (R$ 102 milhões no câmbio de hoje) para o lobista Fernando Soares e R$ 35 milhões para Renato Duque, ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras, e Pedro Barusco, ex-gerente da mesma área.

    Camargo mencionou contas na Suíça, no Uruguai, em Hong Kong e na China que teriam sido usadas no esquema. O executivo também afirmou que Soares, conhecido como Fernando Baiano e citado como operador do PMDB no esquema —o partido nega—, era próximo do ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

    Júlio Camargo negou, entretanto, que tenha feito doações eleitorais como pagamento de propina. A fala é oposta à de Augusto de Mendonça Neto, também delator da Toyo Setal, segundo a qual empresas fizeram doações legais ao PT como contrapartida a obter e manter contratos com a Petrobras.

    O delator e suas três empresas de consultoria —Auguri, Piemonte e Treviso—, que segundo ele fechavam contratos com construtoras para intermediar o pagamento de propina na Petrobras, doaram R$ 4,2 milhões nas eleições de 2008, 2010 e 2012, a políticos de 11 partidos.

    O executivo afirmou em depoimento à Polícia Federal que as doações eram feitas "dentro dos limites previstos em lei e de forma espontânea", a pedido dos candidatos ou dos partidos. Com alguns, ele disse ter relações de amizade, como o ex-senador Romeu Tuma (PTB), morto em 2010, e o senador Delcídio Amaral (PT-MS) —que foi diretor de Gás e Energia da Petrobras no governo Fernando Henrique Cardoso, por indicação de Jader Barbalho (PMDB-PA).

    O PT recebeu mais da metade das doações de Camargo, totalizando R$ 2,6 milhões. Em seguida, aparecem PTB, PR e PMDB. O executivo declarou, porém, que nunca fez doações ilegais a candidatos ou partidos nas eleições.

    DELAÇÕES

    Júlio Camargo, executivo da Toyo Setal —empresa que tem contratos de cerca de R$ 4 bilhões com a Petrobras—, foi o primeiro dos executivos das grandes empresas a assinar um acordo de delação, no final de outubro. Ele foi seguido por Augusto de Mendonça Neto, da mesma companhia.

    Os dois afirmaram terem entregue R$ 30 milhões em propina para a diretoria de serviços da Petrobras, comandada por Renato Duque entre 2003 e 2012. As autoridades apontam Duque como o principal operador do PT no esquema.

    O nome de Camargo havia sido citado por Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da estatal, em um documento apreendido pela Polícia Federal na casa dele. No papel, Costa enumera o nome de executivos de fornecedores da Petrobras e a disposição de cada um para contribuir para uma campanha política.

    Após o nome de Camargo, o ex-diretor anotou: "Começa [a] ajudar a partir de março".

    Camargo também disse que o lobista Fernando Soares, apontado como operador do PMDB na Petrobras, recebeu uma comissão de US$ 40 milhões para intermediar dois contratos junto ao ex-diretor da área internacional da estatal Nestor Cerveró.

    Segundo o executivo, o lobista, conhecido como Fernando Baiano, mantinha um "compromisso de confiança" com Cerveró.

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