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    Lava Jato

    Não se pode fazer especulações políticas com apurações, diz Cardozo

    MARIANA HAUBERT
    DE BRASÍLIA

    05/12/2014 18h27

    O ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) voltou a defender nesta sexta-feira (5) o PT das acusações de que o partido teria recebido, por meios legais, dinheiro da propina paga por empreiteiras em esquema na Petrobras. Ele disse ainda que especular que os recursos tenham sido usados para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010 serve de "revanchismo".

    Cardozo voltou a dizer que há especulações político-eleitorais em torno das investigações da Operação Lava Jato e que tais especulações atrapalham a condução das mesmas. Ele afirmou ainda que cabe ao ministro da Justiça garantir investigações "sejam na Petrobras ou no cartel do metrô em São Paulo".

    "Não se pode fazer especulações políticas com investigações. Atrapalha as investigações e muitas vezes serve a um revanchismo que eu acho que perdeu espaço para a democracia brasileira. E isso afirmo como ministro da Justiça. Cabe a mim defender a democracia e a verdade dos fatos. [...] Agora, não podemos transformar isso, quando um delator fala em 11 partidos que receberam doações legais em uma disputa política eleitoral localizando uma campanha específica", afirmou.

    Luciano Amarante - 15.nov.2014/Folhapress
    Entrevista coletiva do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) sobre operações da PF
    Entrevista coletiva do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) sobre operações da PF

    Segundo depoimento de Augusto de Mendonça Neto, executivo da empresa Toyo Setal e delator da Operação Lava Jato, parte da propina paga para o ex-diretor de Engenharia e Serviços da Petrobras Renato Duque eram "doações oficiais ao Partido dos Trabalhadores". O dinheiro, cerca de R$ 4 milhões pagos por outras empresas, foi para o Diretório Nacional do partido, disse o executivo.

    Nesta quinta-feira (4), Cardozo disse que era incorreto afirmar que o dinheiro do esquema na estatal irrigou a campanha de 2010 da presidente Dilma Rousseff e que era preciso ler o depoimento de Mendonça Neto em conjunto com a delação premiada de Júlio Camargo, também da Toyo Setal. Camargo fala em doações feitas em nome dele para candidatos e diretórios de 11 partidos, dentre eles o PT e PSDB, mas nega que essas doações sejam relacionadas a propinas.

    "O que eu disse não foi em defesa de nenhum partido, foi em defesa dos fatos que constaram de depoimentos. Porque eu ouvi inúmeras declarações que diziam textualmente que aquela situação divulgada aproximava os fatos investigados da campanha da presidente Dilma, do Palácio do Planalto, etc. Mas vamos ver os fatos. [...] Quem disse que essa doação, em primeiro lugar, havia um conluio para recebê-la? Isso não está claro nesse depoimento e por isso está sendo investigado. Em segundo lugar, não está claro que em momento algum [o dinheiro] tenha ido para a campanha da presidente Dilma em 2010 ou para o governador A, B, C ou D", disse hoje Cardozo.

    OPOSIÇÃO

    As declarações do ministro feitas ontem foram criticadas hoje pelo líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). Em nota, o deputado afirmou que Cardozo e o ministro Luis Inácio Adams (Advocacia-Geral da União) atuaram como advogados do PT ao comentar as delações e que estariam pensando em uma indicação para o STF (Supremo Tribunal Federal).

    "Os ministros, talvez pela ansiedade de se cacifarem para a vaga que está aberta no Supremo Tribunal Federal, queiram mostrar serviço e misturem as atribuições de Estado ao papel partidário. É até compreensível que ambos estejam também preocupados com a situação da presidente Dilma, que pode, lá na frente, enfrentar situações mais difíceis ainda, mas não está entre suas atribuições serem advogados do PT. Isso é inadmissível", afirmou Imbassahy.

    Para Imbassahy, se a conduta dos ministros for "uma estratégia para chegarem ao STF", ela é "comprometedora e revela parcialidade". "Se misturam Estado e partido agora, serão eles despachantes do PT no Supremo? Esse reiterado comportamento definitivamente retira a credibilidade necessária ao exercício das suas funções", disse.

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