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    Índios tentam invadir Câmara; policial é atingido com flechada

    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    16/12/2014 13h03

    Sérgio Lima/Folhapress
    Índios forçam entrada na sala da Comissão Especial da PEC 215, que trata da demarcação de terras
    Índios forçam entrada na sala da Comissão Especial da PEC 215, que trata da demarcação de terras

    Com pedaços de madeira em mãos, pedras e flechas, um grupo de 200 índios tentou invadir nesta terça-feira (16) a Câmara dos Deputados.

    Um policial militar levou uma flechada no pé e foi levado para o hospital de Base, na região central de Brasília. Outro teria sido atingido por uma pedra e conduzido para o departamento médico da Casa.

    Os índios foram contidos pela Polícia Militar, que teve que usar spray de pimenta contra os indígenas que chegaram a bater troncos e arremessar objetos na porta de vidro de uma das portarias que dá acesso à entrada principal da Câmara.

    Barrado, o grupo mantém a ameaça de invadir a Casa. Pouco depois do meio-dia, eles dançavam e cantavam na porta do prédio.

    Os índios protestam contra propostas que estão em discussão no Congresso sobre demarcação de terras indígenas.

    Quatro índios foram presos pela Polícia Militar sob a suspeita de terem ferido um policial na tentativa de invasão.

    A reunião de uma comissão especial da Câmara que discutia um projeto que transfere para o Congresso a palavra final sobre a demarcação de terras indígena foi cancelada.

    Na semana passada, o deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR) apresentou seu relatório, mas um pedido de vista suspendeu a votação.

    Se for confirmado na comissão, o texto, no entanto, só será analisado no plenário da Câmara pelo novo Congresso, uma vez que os parlamentares entram em recesso no próximo dia 23.

    Na futura composição, a bancada ruralista será ampliada, passando para 260 deputados –atualmente tem 224 votos.

    O parecer do peemedebista prevê que a demarcação das terras indígenas seja feita por lei aprovada no Congresso Nacional, e não mais por meio de decreto do Poder Executivo.

    Com isso, a demarcação será feita por lei de iniciativa privativa do presidente da República. Caberá ao Executivo executar os levantamentos e estudos antropológicos, a respectiva identificação da etnia a ser beneficiada, e propor, por meio de projeto de lei, a delimitação da área indígena. O Congresso deliberará sobre a proposta.

    Pelo projeto, se for sancionada a lei, o Executivo deverá demarcar administrativamente a área, por meio da fixação de marcos limítrofes.

    Atualmente, o processo de demarcação é realizada pela Funai (Fundação Nacional do Índio), antes da palavra final do Planalto. O governo é contra repassar para o Legislativo a definição dessas áreas.

    A proposta é uma ofensiva dos ruralistas contra a fundação, que é acusada de fraudar laudos e inflar conflitos entre índios e produtores.

    O parecer de Serraglio flexibilizou a proposta original da PEC (Proposta de Emenda à Constituição), que inclui a demarcação de terras indígenas entre as atribuições exclusivas do Congresso.

    A Constituição estabelece que são terras tradicionalmente ocupadas pelos índios as por eles habitadas em caráter permanente, as utilizadas para suas atividades produtivas, as imprescindíveis à preservação dos recursos ambientais necessários a seu bem-estar e as necessárias a sua reprodução física e cultural, segundo seus usos, costumes e tradições.

    O substitutivo deixa claro que serão consideradas terras dos índios apenas aqueles que atendiam a esses requisitos simultaneamente em 5 de outubro de 1988.

    INDENIZAÇÃO

    O parecer do peemedebista também obriga o governo a indenizar os produtores. O texto modifica o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, determinando que, se a União não cumprir o dever de demarcar as terras indígenas no prazo constitucional previsto, terá de indenizar o proprietário das terras demarcadas.

    O Ato das Disposições Transitórias estabelece que a União concluirá a demarcação das terras indígenas no prazo de cinco anos a partir da promulgação da Constituição.

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