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    Lava Jato

    Ex-presidente do STF assume interlocução com empreiteiras

    ANDRÉIA SADI
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    17/12/2014 02h00

    O ex-ministro da Justiça e do Supremo Tribunal Federal Nelson Jobim "herdou'' o papel de principal interlocutor das empreiteiras da Operação Lava Jato com o Judiciário, atribuição que era de Márcio Thomaz Bastos até o mês passado, quando o advogado e ex-ministro morreu.

    Segundo a Folha apurou, Jobim tem atuado nos bastidores como uma espécie de consultor sênior'' de algumas das empreiteiras por meio de sua ligação com a construtora OAS, um dos alvos da investigação do esquema de corrupção na Petrobras. Ele auxilia o advogado Eduardo Ferrão no processo, desde antes da morte de Bastos. Ferrão é um dos responsáveis pela defesa da OAS.

    Mas criminalistas ouvidos pela reportagem afirmam que Jobim acaba por ajudar outras empreiteiras por ter acesso a advogados do caso e pontes com o Supremo Tribunal Federal e o Congresso.

    Um advogado relatou um encontro, com a presença de Márcio Thomaz Bastos, em que Jobim fez sugestões com outros criminalistas sobre um acordo com o Ministério Público e as empreiteiras acusadas no esquema da Petrobras. A articulação não prosperou.

    Por ter no currículo passagens pelo governo federal e ter presidido o Supremo Tribunal Federal, Jobim é considerado pelos criminalistas o nome mais credenciado para dialogar com o Judiciário no momento em que os executivos das empresas são alvo de acusações.

    "Dos que estão aí, ele é o maior, sem dúvida'', disse um dos defensores do caso sob condição do anonimato.

    Outro motivo que coloca Jobim como porta-voz'' do grupo é sua proximidade com Teori Zavascki. O ministro do Supremo Tribunal Federal é o responsável pelo processo da Lava Jato na corte.

    Jobim e Teori são amigos de longa data. O ex-presidente do STF defendeu o nome de Teori para o STF ainda na gestão Lula, mas não foi atendido. Foi só na gestão de Dilma Rousseff que o ex-ministro do Superior Tribunal de Justiça foi escolhido para integrar a corte mais importante do Judiciário.

    Criminalistas afirmam que Teori recebeu Jobim nos últimos meses, na companhia de Ferrão. Ele também almoçou com Teori em São Paulo antes da eleição presidencial, segundo a Folha apurou.

    Amigos de Jobim apontam, no entanto, diferenças de estilo entre ele e Bastos.

    Apesar de interlocução com Judiciário, o ex-ministro não tem boas relações com o governo Dilma, que deixou em 2011 após uma polêmica com as ex-ministra Gleisi Hoffmann (PT-PR) e com Ideli Salvatti (PT-SC).

    Outra característica é que Jobim tem menos disponibilidade para as empresas. O ex-ministro foi ao exterior para atender clientes que não estão envolvidos na Lava Jato nas últimas semanas e viajará novamente em meio à denúncia contra as cúpulas das empreiteiras.

    Procurado, Jobim não quis responder aos questionamentos da reportagem. A Folha também tentou, sem sucesso, falar com o ministro Teori. A OAS não respondeu. Ferrão não retornou a ligação da reportagem.

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