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    Chinês comemora anulação de sua expulsão do Brasil pela ditadura

    MARCELO NINIO
    DE PEQUIM

    26/12/2014 12h25

    A decisão do governo de anular a expulsão dos nove chineses presos logo após o golpe de 1964 foi recebida com satisfação pelo jornalista Ju Qingdong, um dos cinco ainda vivos.

    "Claro que fiquei muito feliz. Imediatamente dei a boa noticia a meus quatro velhos companheiros de sofrimento", disse Ju à Folha, por email.

    Ele e os outros oito chineses foram presos no Rio no dia 3 de abril de 1964, suspeitos de tramar uma revolução comunista. Apesar da ausência de provas, sofreram tortura e foram condenados a dez anos de prisão, da qual cumpriram um, antes de serem expulsos do Brasil.

    Em seu relatório, apresentado no último dia 10, a Comissão Nacional da Verdade reconhece a inocência dos chineses e afirma que eles foram vítimas de perseguição política. O jornalista prestou depoimento, em vídeo, à CNV.

    Oito dias depois, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, publicou portaria no Diário Oficial que anula o decreto de expulsão dos chineses, assinado pelo presidente Castelo Branco, em 1965. Dois estavam no Rio como jornalistas da agência de notícias oficial, Xinhua, e os demais haviam viajado ao Brasil como representantes comerciais do governo chinês.

    Embora tenha ficado feliz com a decisão do ministro da Justiça, o jornalista Ju a considerou apenas um primeiro passo para que o governo brasileira repare a injustiça cometida em 1964.

    "Apesar de o caso ainda não estar completamente resolvido, eu acredito que este foi o primeiro passo do governo brasileiro para reparar este erro, e que outros assuntos também serão resolvidos", disse o jornalista aposentado, que vive em Pequim.

    O Caso dos Nove Chineses
    Ciça Guedes e Murilo Fiuza
    livro
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    Um desses temas é o dinheiro confiscado dos chineses quando eles foram presos e jamais devolvido. O total em valores atuais é de R$ 877.756,61, segundo cálculo feito para o livro "O Caso dos Nove Chineses", de Ciça Guedes e Murilo Fiuza de Melo, lançado neste ano.

    Cinquenta anos depois, Ju Qingdong sente a experiência vivida no Rio como uma ferida aberta. Após serem expulsos do Brasil, eles foram recebidos como heróis ao voltar à China.

    "Memórias que ficaram dormentes durante meio século vieram à tona novamente, é difícil expressar tudo em algumas palavras. A verdade prevaleceu, esse é o resultado do esforço conjunto com os amigos brasileiros", disse Ju.

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