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    Coaf diz que Brasil é exemplo no combate à lavagem de dinheiro

    EDUARDO CUCOLO
    DE BRASÍLIA

    12/01/2015 02h00

    O Brasil pode sofrer sanções internacionais por causa da falta de uma legislação que trate do crime de financiamento do terrorismo, mas, em relação à lavagem de dinheiro, serve de exemplo internacional, diz o presidente do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), Antonio Gustavo Rodrigues.

    Para Rodrigues, as descobertas em relação à Operação Lava Jato e outras ações da Polícia Federal reforçam essa avaliação: "Do ponto de vista de crítica ao sistema que o Brasil está sujeito, é quanto à questão do financiamento ao terrorismo. A Lava Jato, se ela gerar alguma coisa, é elogio".

    Sérgio Lima/Folhapress
    Antonio Rodrigues, presidente do Coaf
    Antonio Rodrigues, presidente do Coaf

    Na Lava Jato, desde 2011, foram produzidos 108 relatórios pelo Coaf, com dados sobre cerca de 4.000 pessoas físicas e 4.000 jurídicas.

    Segundo ele, o órgão tem pouco a acrescentar ao caso e está debruçado hoje sobre indícios de irregularidades que serão investigados e devem aparecer na imprensa daqui um ou dois anos: "A parte fácil do trabalho é a nossa, que é cruzamento de informação. Aí começa o trabalho mais difícil, obter as provas".

    Cobrado em relação à dificuldade em se condenar pessoas por esse tipo de crime, Rodrigues afirma que o problema não está na descoberta da irregularidade, mas no sistema judicial brasileiro e no perfil desses clientes.

    O TCU (Tribunal de Contas da União), por exemplo, fez em 2005 uma auditoria no Coaf e questionou o baixo número de condenações.

    "Não é o Coaf que investiga, que denuncia, que julga. É um crime que não deixa vestígio tão claro, como homicídio. Muitas vezes envolve clientes ricos, com bons advogados", diz Rodrigues.

    Segundo ele, esse é um dos motivos pelo qual ainda existe no país a figura do doleiro.

    "O doleiro era há muitos anos atrás uma figura tolerada pela sociedade para compensar as limitações de câmbio. Todo mundo tinha o seu doleiro de estimação. Como é que eles continuam operando? Aí já não sei responder."

    No cargo há quase 11 anos, com uma equipe de apenas 50 funcionários e atuação restrita, Rodrigues afirma que não reivindica mais pessoal ou mais poderes, para não competir com outras áreas investigativas. Em 2014, o órgão produziu 3.100 relatórios. Cerca de dois terços para colaboração com outros órgãos.

    Mesmo com tantas operações deflagradas nos últimos anos, a criatividade dos grandes criminosos não tem sido tão grande. Rodrigues afirma que o sistema bancário continua sendo o principal canal para a lavagem do dinheiro.

    Os bancos são a principal fonte de informações do órgão: "Você pode lavar dinheiro com joia e obra de arte, mas é um mercado restrito e, na hora de vender, é uma dor de cabeça, tem um pedágio mais alto. No banco você de deposita R$ 100 e saca R$ 100. E ainda tem os juros", afirmou.

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