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    Lava Jato

    PF aponta movimentações financeiras suspeitas de Cerveró, ex-Petrobras

    FLÁVIO FERREIRA
    ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA
    SAMANTHA LIMA
    DO RIO

    14/01/2015 08h59

    A Polícia Federal informou que o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró foi preso preventivamente nesta quarta-feira (14) por ter feito movimentações financeiras suspeitas após ser denunciado pelo Ministério Público Federal e responder a uma ação penal por corrupção e lavagem de dinheiro.

    Cerveró foi preso ao desembarcar de Londres, no aeroporto internacional do Galeão, no Rio de Janeiro. Foi encaminhado a Curitiba (PR), chegou à Superintendência da PF por volta das 9h20 desta quarta e foi encaminhado para o IML (Instituto Médico Legal) para fazer o exame de corpo de delito, o que é praxe em casos de prisão.

    Ele estava na Inglaterra desde dezembro, mesmo mês em que a denúncia do MPF foi aceita pelo juiz federal Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato, que investiga corrupção na estatal.

    Editoria de Arte/Folhapress

    O delegado Igor Romário de Paula, da Delegacia Regional de Combate ao Crime Organizado, afirma que Cerveró fez essas movimentações financeiras para conseguir dinheiro vivo, e que isso poderia indicar duas coisas: ou o ex-diretor planejaria uma fuga, ou tentaria tornar seu patrimônio mais líquido, e dessa forma, o blindaria.

    A prisão teve como fundamento "alguns negócios que ele fez posteriormente à saída do Brasil, negócios que financeiramente eram inviáveis e que indicavam a tentativa de liquidar o patrimônio para enviar ao exterior ou aplicar em outros negócios", disse.

    De acordo com ele, em 30 de dezembro o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, órgão ligado ao Ministério da Fazenda) alertou a PF sobre a solicitação de Cerveró de resgate de uma operação ligada à previdência privada que inicialmente tinha valor de R$ 600 mil, mas que no momento registrava prejuízo de R$ 200 mil.

    "As operações realizadas indicam que não é alguém preocupado com investimentos financeiros, mas alguém que estava tentando obter liquidez com rapidez. Poderia ser uma fuga ou tentativa de blindar o patrimônio que ainda não tenha sido bloqueado", disse o delegado.

    O Ministério Público Federal, que fez o pedido de prisão preventiva, destacou haver indícios de que "Cerveró continua a praticar crimes, como a ocultação do produto e proveito do crime no exterior, e pela transferência de bens (valores e imóveis) para familiares. Além disso, há evidências de que ele buscará frustrar o cumprimento de penalidades futuras".

    O MPF afirma ainda que o ex-diretor da Petrobras, após o recebimento da denúncia e durante o recesso do Judiciário, tentou transferir para sua filha R$ 500 mil, mesmo que tal operação financeira incorresse em perda de mais de 20%, segundo dados do Coaf.

    "Cerveró também transferiu recentemente três apartamentos adquiridos com recursos de origem duvidosa, em valores nitidamente subfaturados: há evidências de que os imóveis possuem valor de mais de R$ 7 milhões, sendo que a operação foi declarada por apenas R$ 560 mil. Para o MPF, a custódia cautelar é necessária, também, para resguardar as ordens pública e econômica, diante da dimensão dos crimes e de sua continuidade até o presente momento, o que tem amparo em circunstâncias e provas concretas do caso", informou a Procuradoria.

    Além da prisão, foram feitas buscas em quatro imóveis de Cerveró –dois no bairro de Ipanema e outro em Humaitá, no Rio, e outro em Itaipava, no município de Petrópolis (RJ). Também foi aberto um novo inquérito para investigar se as movimentações financeiras suspeitas configuram lavagem de dinheiro ou evasão de divisas.

    PMDB

    Em delação premiada, o executivo da empresa Toyo Setal Julio Camargo afirmou que o lobista Fernando Soares, apontado como operador do PMDB na Petrobras, intermediou contratos junto a Cerveró.

    Segundo Camargo, o lobista, conhecido como Fernando Baiano, mantinha um "compromisso de confiança" com Cerveró. Na época, a defesa do ex-diretor afirmou que ele nunca recebeu pagamentos para fechar contratos da Petrobras.

    O também ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa, em depoimento à Polícia Federal no ano passado, disse que Cerveró que foi indicado ao cargo por um político e tinha ligação forte com o PMDB. A sigla nega.

    Daniel Derevecki/Reuters
    O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró chega à superintendência da PF de Curitiba (PR)
    O ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró chega à superintendência da PF de Curitiba (PR)

    OUTRO LADO

    O advogado do ex-diretor, Edson Ribeiro, disse não haver razão para seu cliente estar detido e que, se a prisão fosse válida, "Graça Foster [presidente da Petrobras] também deveria ter tido a prisão decretada".

    A presidente da estatal não é alvo de investigação na Lava Jato.

    "Não estou imputando culpa a Graça Foster, mas, se o critério para a prisão de Cerveró foi ter transferido bens para filhos, o critério tem que valer para Graça, que também doou imóveis para os filhos. Ela também era da diretoria da Petrobras na época da compra dos 50% restantes da refinaria de Pasadena, assim como Cerveró era diretor na compra dos 50% iniciais. As decisões são tomadas pela diretoria. Se não vale para Graça, o Ministério Público está prevaricando."

    "Não vejo motivos para sua prisão, uma vez que comuniquei à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal sua viagem e seu endereço no exterior", disse Ribeiro.

    Ele reafirmou que as operações são normais. "Não há ocultação porque não há laranja. São transferências para parentes, que poderiam ser revertidas caso fosse constatada fraude".

    O advogado disse que vai viajar para Curitiba no início da tarde e, quando ler o teor do decreto da prisão, entrará com pedido de habeas corpus.

    PASADENA

    Cerveró foi diretor da área entre 2003 e 2008, e, como tal, esteve à frente da compra dos 50% iniciais da refinaria de Pasadena, no Texas, em 2006. Segundo o TCU (Tribunal de Contas da União), o negócio gerou perdas de US$ 792 milhões à estatal.

    O ex-diretor assinou o resumo executivo classificado como "falho" pela presidente Dilma Rousseff, quando ela justificou seu voto favorável à compra da refinaria, em março de 2014.

    A Petrobras acabou brigando com o grupo belga Astra, de quem era sócio na refinaria. Uma disputa judicial entre ambos arrastou-se entre 2009 e 2012, quando a estatal foi obrigada a comprar os outros 50% no negócio.

    ACUSADO

    Em dezembro passado, o juiz federal Sergio Moro acolheu denúncia do Ministério Público Federal e mandou abrir uma ação penal contra Cerveró pelas acusações de corrupção e lavagem de dinheiro.

    De acordo com o despacho do juiz, a denúncia encaminhada ao Judiciário pelo Ministério Público Federal descreve contratos fechados pela Petrobras mediante propina.

    Um dos casos narra que, "em julho de 2006, Julio Camargo, agindo como representante do estaleiro Samsung Heavy Industries Co, da Coreia, logrou conseguir junto à Petrobras que a empresa em questão fosse contratada para o fornecimento de um navio sonda para perfuração de águas profundas (Navio-sonda Petrobras 1000)".

    O contrato teria sido obtido "mediante o pagamento de vantagem indevida de US$ 15 milhões a Cerveró, então diretor Internacional da Petrobras, com a intermediação de Fernando Soares".

    Em depoimento prestado à CPI da Petrobras, no Congresso Nacional, Cerveró negou as acusações.

    Com reportagem de São Paulo

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