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    Lava Jato

    Análise: Empreiteiras reagem à estratégia do governo de jogar culpa no cartel

    VERA MAGALHÃES
    DE EDITORA DO PAINEL

    22/01/2015 02h00

    Acusadas de formar um "clube" para dividir obras da Petrobras, as empreiteiras investigadas na Operação Lava Jato reagem e apontam a própria empresa como a responsável por ditar as regras dos acertos que levaram aos desvios bilionários na estatal.

    As primeiras iniciativas para tentar reagir ao que as empreiteiras veem como uma estratégia do governo para poupar a Petrobras de processos internacionais e seus dirigentes atuais de envolvimento nas investigações foram tomadas pelos advogados da UTC, uma das empresas acusadas de integrar o cartel.

    Em artigo publicado nesta semana e em peças anexadas ao processo, a defesa da construtora sustenta que a prova de que era a Petrobras quem detinha o total controle das regras é o comunicado em que a estatal proibiu, no fim de 2014, 23 construtoras de participarem de licitações.

    A tese, que será abraçada também por outras empresas que têm proprietários ou executivos presos, é que as empreiteiras não podem ser responsabilizadas "na pessoa jurídica" pelos desvios, enquanto a diretores da Petrobras são imputados crimes "na pessoa física", preservando a integridade da estatal.

    Os advogados acham que o Ministério Público e o juiz Sergio Moro ajudam, ainda que involuntariamente, a estratégia do governo de poupar a Petrobras e a atual direção, ao apontarem o cartel.

    Avaliam, ainda, que esse caminho poupa os políticos que detinham as indicações dos diretores flagrados em negociatas com o doleiro Alberto Youssef e as construtoras, pois circunscreve os crimes a funcionários que teriam se unido a empreiteiros para "pilhar" a Petrobras, como enunciou Dilma Rousseff nos discursos de posse.

    Para o governo, a reação orquestrada das empreiteiras é mais uma prova do cartel, além de uma tentativa dos corruptores de escaparem incólumes à primeira investigação que os colocou no banco dos réus e atrás das grades.

    Resta saber se, para conseguir tirar seus dirigentes da cadeia e se contrapor à tese que as prejudica, as empresas terão coragem de apontar como funcionavam, segundo sua versão, as engrenagens do esquema comandado pela Petrobras e pelos políticos.

    Até agora, nenhum dos executivos quis apontar nessa direção, até porque as empresas ainda tentam manter sua capacidade de contratar com o setor público, por meio de acordos de leniência.

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