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    Pilotos de Campos não tinham formação adequada, diz investigação

    FLÁVIA FOREQUE
    DE BRASÍLIA

    26/01/2015 17h10

    Rivaldo Gomes 14.ago.2014/Folhapress
    Peritos e bombeiros trabalham no local do acidente um dia depois da queda do jato com Campos
    Peritos e bombeiros trabalham no local do acidente um dia depois da queda do jato com Campos

    O piloto e copiloto do jato que transportava o ex-governador de Pernambuco e candidato à Presidência da República Eduardo Campos (PSB) não tinham formação adequada para guiar a aeronave. Essa foi a avaliação feita por investigadores do Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que analisam o acidente ocorrido em agosto passado.

    O episódio resultou na morte do presidenciável em agosto passado, e vitimou outras seis pessoas –entre elas, o piloto, Marcos Martins, e o copiloto.

    Chefe da investigação, o tenente-coronel aviador Raul de Souza ponderou, nesta segunda-feira (26), que os profissionais atuavam anteriormente em aeronaves semelhantes, mas precisavam de mais treinamento para pilotar o jato em questão.

    "Para o comandante transitar de uma aeronave para a outra, precisava de um treinamento de diferença. Para o copiloto transitar de uma aeronave para outra, precisava de um curso completo", disse Souza em coletiva de imprensa.

    Ele argumentou ainda que a aeronave do acidente e aquela guiada anteriormente pelo comandante "são de fabricantes e modelos diferentes e precisam de adaptação para transitar entre um e outro".

    A queda da aeronave que provocou a morte do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, em agosto passado, não foi motivada por falhas mecânicas ou colisões em voo, apontam dados coletados pelo Cenipa, órgão da Aeronáutica responsável por apurar acidentes aéreos e elaborar relatórios apontando os principais motivos.

    Os investigadores apontaram ainda que o piloto não seguiu a carta definida para a decolagem e arremetida daquele voo. "Ele não seguiu o caminho recomendado. (...) [Para voar] com segurança, teria que seguir o perfil da carta. Esse é o recomendável", disse o tenente-coronel aviador Raul de Souza.

    O Cenipa ponderou ainda que a pista de pouso em Santos tinha "condições de receber" o jato. "Ela tem dimensões para receber essa aeronave, desde que seja seguido o procedimento conforme o previsto", afirmou o militar.

    O órgão, no entanto, evitou apontar falhas humanas como responsáveis exclusivas pelo episódio.

    Tanto a família de Campos como o PSB afirmaram, em notas enviadas à imprensa, que só se pronunciarão ao fim das investigações sobre o acidente.

    ANAC

    Em nota divulgada nesta segunda (26), a Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) informou que ambos os profissionais possuíam licença e habilitação válidas para operar a aeronave.

    E que em julho do ano passado –um mês antes do acidente– a agência passou a exigir uma habilitação mais específica para operar cada modelo de aeronave, o que deveria ser comprovado no momento de renovação da habilitação.

    "Segundo os registros de voo verificados pela Anac por meio do Sistema Decolagem Certa, o comandante Marcos Martins havia realizado mais de 90 voos no modelo da aeronave C560XLS+ [a do acidente]", destacou a nota.

    A apuração da Aeronáutica mostrou ainda que o piloto não seguiu o plano de voo e informou a posição errada em que se encontrava nos momentos finais do voo.

    "[Para voar] com segurança, teria que seguir o perfil da carta. Esse é o recomendável", disse o chefe da investigação. De acordo com a investigação, no momento do acidente a aeronave estava com velocidade de 600 km/h.

    Apesar de os indícios reforçarem que o episódio foi motivado por falha humana, a Aeronáutica evitou fazer conclusões sobre o episódio.

    Também preferiu não afirmar se um dos motivos para o acidente foi a desorientação espacial do piloto _quando se perde a noção da posição do avião em relação ao solo.

    O órgão, no entanto, já reconheceu que não há evidências de falhas técnicas na aeronave ou problemas externos, como meteorologia e colisão com obstáculos.

    "Não existia nenhuma informação que restringia a operação da aeronave em Santos", afirmou o chefe da investigação.

    O Cenipa não fixou uma data para concluir a análise dos dados coletados e conclusão da apuração. "Um acidente complexo como esse demanda bastante tempo", disse o chefe do órgão.

    METEOROLOGIA

    Não foram identificadores fatores ligados à meteorologia ou tráfego aéreo que afetassem a segurança do voo, assim como problemas nos motores. "Não existia nenhuma informação que restringia operação da aeronave em Santos", afirmou o tenente-coronel Raul de Souza, chefe da investigação sobre o acidente. As informações foram divulgadas nesta segunda-feira (26) em coletiva de imprensa.

    A análise feita até aqui indicou não haver "anormalidades" em sistemas da aeronave, como problemas hidráulicos ou no combustível. "Os dados preliminares indicam que os motores funcionavam perfeitamente", diz o Cenipa.

    O órgão, no entanto, afirma que ainda não há uma avaliação definitiva sobre as causas do acidente. "Não há ainda qualquer conclusão factível em cima do que nós coletamos. E naturalmente nenhuma hipótese foi ainda desenvolvida ou criada", disse o brigadeiro do ar Dilton José Schuck, chefe do Cenipa.

    PILOTOS

    Após reportagem do jornal "O Estado de S. Paulo" apontar que relatório da Aeronáutica trazia Marcos Martins como responsável pelo acidente, familiares saíram em defesa do piloto.

    Carlos Grou, primo de Martins e também piloto, disse ser "fácil culpá-lo quando não se tem provas". "Quando não são encontradas provas na caixa-preta, a culpa sempre recai sobre o piloto, afirmou.

    Para Grou, as informações contidas no CVR (Cockpit Voice Recorder), que registra as conversas dos pilotos, poderiam explicar as causas do acidente. Esse aparelho, porém, não gravou os diálogos da tripulação da aeronave que caiu no bairro do Boqueirão, em Santos, matando, ao todo, sete pessoas.

    O piloto afirma ainda duvidar que Marcos Martins não estava treinado para pilotar um Cessna 560 XL. Segundo ele, seu primo voava há quatro anos num avião XL.

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