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    Lava Jato

    Polícia agora procura 'gordinho de 1,75 m' que recebeu R$ 155 mi

    RUBENS VALENTE
    DE BRASÍLIA

    01/02/2015 02h00

    Um morador de Alphaville, em São Paulo, dono de uma empresa de importação e exportação na rua Frei Caneca, "com cerca de 50 anos, meio gordinho, com 1,75 m e cabelo meio encaracolado" é um novo personagem que a Polícia Federal passou a investigar em razão da Lava Jato.

    Contas controladas por esse operador do mercado financeiro registraram depósitos de R$ 155 milhões.

    A PF chegou ao suspeito, apelidado de "Pavão" ou "Paiva", depois que um dos investigados em Curitiba (PR), Lucas Pacce Júnior, 58, que operava com a doleira Nelma Kodama, revelou em depoimento que o homem era "um fornecedor de contas para doleiros, dentre os quais" Nelma, funcionando como "conta de terceiros para pagar importações fictícias".

    Segundo Pacce Júnior, "Pavão" operava "para inúmeros doleiros" no esquema de envio de recursos para fora do país por meio de contratos de câmbio para importação: as empresas simulam importações, mas o produto nunca chega ao Brasil —o único objetivo é a remessa dos dólares.

    "Pavão" cobrava "a média do mercado para o empréstimo de suas contas" bancárias, "em torno de 1% do valor transmitido", mas "deixou de ser mero fornecedor de contas para passar a ser, ele próprio, doleiro, realizando as transações de cabo e câmbio", disse Pacce Júnior.

    Relatórios do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) apontaram que "Pavão" recebeu em contas de suas empresas R$ 155 milhões. Em 2009, o banco Santander de São Paulo avisou o Coaf que o cliente não tem licença para operar câmbio e "não declara atividade em Imposto de Renda".

    Ampliando o raio da apuração, o Coaf informou à Operação Lava Jato que uma rede de empresas que fazem negócios com "Pavão" registraram mais de R$ 200 milhões de movimentação com diversas "incompatibilidades".

    Uma madeireira de Colombo (PR), por exemplo, declarou ao banco um faturamento anual de R$ 15 milhões, porém registrou depósitos de R$ 55 milhões apenas entre dezembro de 2012 e abril de 2013.

    A PF abriu inquérito específico sobre "Pavão". Segundo documento assinado pelo delegado da PF, ele "utilizou-se das contas correntes em nome das empresas Kaizen Cobranças e Kaizen Comércio para circularizar ativos visando dissimular sua origem, bem como por meio de tais contas efetuou depósitos em favor de operações de importação fictícias com a finalidade de esconder remessas espúrias de valores ao exterior".

    A Kaizen, segundo a PF, "é mencionada inúmeras vezes nos Relatórios de Inteligência Financeira das firmas utilizadas pela organização criminosa chefiada por Nelma".
    Para achar "Pavão", a PF foi a um dos endereços citados, mas encontrou apenas "uma 'boate' ou 'bar de dançarinas profissionais', o qual funciona somente à noite".

    A Folha não conseguiu localizar os responsáveis pelas duas empresas Kaizen.

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