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    Lava Jato

    Tesoureiro do PT é levado à PF para esclarecer doações feitas ao partido

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA
    FLÁVIO FERREIRA
    ALEXANDRE ARAGÃO
    DE SÃO PAULO
    JOÃO PEDRO PITOMBO
    DE SALVADOR

    05/02/2015 08h01

    Lalo de Almeida/Folhapress
    O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chega à sede da Policia Federal em São Paulo para prestar depoimento
    O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, chega à sede da PF em São Paulo para prestar depoimento

    O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi levado a depor na Polícia Federal nesta quinta-feira (5) em uma nova fase da Operação Lava Jato, que investiga o esquema de corrupção na Petrobras.

    A polícia esperava obter informações sobre doações ao partido por empresas que mantinham contrato com a Petrobras. "Nem sempre essas doações passam pelo caminho legal", afirmou o procurador Carlos Fernando Lima.

    Segundo o delegado Igor Romário de Paula, Vaccari foi conduzido para esclarecer o "pedido de doações legais e ilegais" ao PT, feito por ele tanto a pessoas que tinham contratos com a Petrobras quanto a quem não tinha. Vaccari chegou à sede da Superintendência da PF em São Paulo, na Lapa, por volta das 9h30 e deixou o local de táxi, às 12h30, acompanhado por um advogado.

    As informações sobre os pedidos partiram de colaboradores da investigação, como o ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco, que firmou acordo de colaboração premiada com a Justiça.

    Na delação, Barusco estima que o PT tenha recebido entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões entre 2003 e 2013 de propina retirada dos 90 maiores contratos da Petrobras.

    O delator disse que o tesoureiro do partido, João Vaccari Neto, teve "participação" no recebimento desse suborno e ficou, até março de 2013, com US$ 4,5 milhões.

    Ainda segundo ele, em outra fase, houve pagamentos até fevereiro do ano passado. O depoimento foi prestado no dia 20 de novembro último e veio à tona nesta quinta.

    A grande dificuldade da Polícia Federal, agora, será identificar essas doações ilegais, feitas na maioria das vezes com dinheiro vivo, segundo o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima. "Isso é muito difícil de rastrear. Essa verificação é que será feita a partir de hoje", afirmou.

    Além dos depoimentos dos colaboradores, a investigação ira atrás de extratos da movimentação bancária dos operadores e empresários envolvidos, além de registros de visitas para a entrega do dinheiro. "A prova, basicamente, será indiciária", afirma Lima.

    Tanto Vaccari quanto o PT negam irregularidades.

    NOVA FASE

    Essa nona fase da Jato –batizada de "My Way", a forma como Barusco se refere a Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras– está dividida em duas partes. A primeira tem como foco o pagamento de propinas na diretoria de Serviços da Petrobras. A outra, o pagamento de propinas na BR Distribuidora, que até então não havia sido diretamente implicada no esquema de corrupção.

    A BR é a subsidiária da Petrobras que atua na distribuição, comercialização e industrialização de produtos de petróleo e derivados, além de atividades de importação e exportação. Segundo a petroleira, a empresa tem mais de 7.000 postos de combustíveis -a maior rede do país.

    A PF afirma que 11 novos operadores, que intermediavam o pagamento de propina a agentes públicos das estatais, foram identificados.

    "São pessoas que têm muita ligação com agentes públicos", declarou o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, que participa das investigações. Ele não quis dizer quais são os outros agentes envolvidos.

    Ao todo, há 25 empresas envolvidas nessa nova fase da operação, sediadas em São Paulo, Bahia, Santa Catarina e Rio de Janeiro –a maioria de fachada, de acordo com as investigações.

    "Esta fase é fruto da análise de documentos e contratos apreendidos anteriormente pela PF. Também contribuíram para esta nova etapa da operação as informações oriundas da colaboração de um dos investigados, além da denúncia apresentada por uma ex-funcionária de uma das empresas investigadas", informou a Polícia Federal.

    As empresas de fachada mantinham contratos envolvendo a diretoria de Serviços, comandada pelo ex-diretor Renato Duque, que já foi preso durante a Lava Jato. Não houve mandados contra ele.

    BR DISTRIBUIDORA

    O núcleo da operação que investiga a BR Distribuidora envolve a empresa Arxo, sediada em Piçarras, no litoral norte de Santa Catarina, que prestava serviços à estatal. Ela produz tanques de combustível.

    Dois de seus executivos foram presos temporariamente, sob suspeita de pagamento de propina à estatal. Há outro no exterior, mas deve voltar hoje ao Brasil. Os dois executivos presos temporariamente em Santa Catarina são Gilson João Pereira, sócio e presidente da Arxo, e Sérgio Ambrósio Maçaneiro, um dos diretores da empresa. Eles deverão ser levados ainda hoje para Curitiba.

    Um grande volume de dinheiro foi encontrado e apreendido nesta empresa. A PF ainda não sabe qual é o valor.

    No final do ano passado, a Arxo fechou um contrato no valor de R$ 85 milhões para produzir 80 CTAs (Caminhões Tanques de Abastecimento de Aeronaves) com o objetivo de equipar e renovar a frota da Petrobras Distribuidora.

    Um dos operadores do esquema, que vive no Rio de Janeiro, teve a prisão preventiva decretada. Esse operador, segundo a PF, é o elo entre os dois núcleos da nona fase: operava tanto na diretoria de Serviços quanto na BR Distribuidora.

    A Arxo soltou uma nota nesta manhã afirmando que está "prestando as informações solicitadas pela Receita e Polícia Federal".

    "A intenção da empresa é contribuir com o trabalho das autoridades, ajudando-os com todo e qualquer esclarecimento necessário", afirma a nota. As atividades administrativas da empresa foram suspensas, mas a produção da fábrica continua em andamento.

    A BR Distribuidora afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que "ainda não foi comunicada oficialmente por qualquer autoridade ligada a operação Lava Jato sobre as informações divulgadas hoje pela imprensa". A companhia informou que está apurando internamente se tem ou teve contrato com a empresa Arxo, citada nas investigações, e de que natureza seriam esses contratos.

    O advogado da Arxo, Charles Zimmermann, negou que a empresa tenha pago propina ou fraudado licitações. "Não teve, imagina, jamais."

    A Arxo, disse, tinha contratos com a Petrobras havia 12 anos. "Nunca houve qualquer pagamento de propina, absolutamente nenhuma irregularidade. Tudo está contabilizado; não temos nada a omitir."

    Para ele, a empresa está sendo investigada simplesmente por ter contratos com a Petrobras. "É uma operação de dentro para fora", disse.

    Sobre o dinheiro encontrado na Arxo, afirmou que era uma "pequena reserva pessoal" de um dos sócios, João Gualberto Pereira Neto, que estava em férias em Miami –e se comprometeu a se apresentar nesta sexta à polícia.

    "Era um fundo falso, mas fantasiou-se", disse Zimmermann. "Era um dinheiro pessoal, e outros valores destinados ao pagamento de despesas rotineiras da empresa."

    GDK

    A PF também fez busca e apreensão na sede da GDK, empresa de engenharia fornecedora da Petrobras –seu principal cliente– que entrou em recuperação judicial.

    A GDK constrói dutos e instalações industriais. Em 2005 a direção da empresa foi acusada de dar um Land Rover, avaliado em R$ 73,5 mil, para o então secretário-geral do PT, Silvio Pereira. O episódio foi investigado pela CPI dos Correios.

    A Folha não conseguiu contato com a GDK até a publicação deste texto.

    Além de Vaccari, foram alvo de mandados de condução coercitiva em São Paulo o engenheiro Shinko Nakandakari –dono de uma empresa de consultoria que foi usada para pagamento de propina a Renato Duque, segundo comprovante da empreiteira Galvão Engenharia– e o empresário Milton Pascowitch, que foi ouvido sobre movimentações de dinheiro no exterior.

    Foram emitidos nesta quinta 62 mandados –um de prisão preventiva, no Rio, três de temporária, em Santa Catarina, 18 conduções coercitivas e 40 de busca e apreensão. A ação ocorreu ao mesmo tempo em São Paulo, Rio, Bahia e Santa Catarina.

    Confira os mandados por Estado:

    SP 10 mandados de busca e 2 de condução coercitiva (todos na capital)

    RJ 12 mandados de busca, 8 de condução coercitiva e 1 de prisão preventiva (todos na capital)

    BA 2 mandados de busca e 1 de condução coercitiva (todos na capital)

    SC 16 mandados de busca, 7 de condução coercitiva e 3 de prisão temporária nas seguintes cidades:

    • Itajaí: 8 mandados de busca, 5 de condução coercitiva e 2 de prisão temporária
    • Balneário Camboriú: 3 mandados de busca, 1 de prisão temporária e 1 de condução coercitiva
    • Piçarras: 2 mandados de busca
    • Navegantes: 1 mandado de busca e 1 mandado de condução coercitiva
    • Penha: 1 mandado de busca
    • Palmitos: 1 mandado de busca
    Editoria de Arte/Folhapress

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