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    Marcelo Miterhof: Concentração, ajuste e câmbio

    19/02/2015 02h00

    Resposta à pergunta Diante dos sinais de recessão, o BC deveria parar de subir os juros?

    SIM

    Num país tão desigual e de juros elevados, é preciso pensar de novo antes de subi-los, dada a concentração de renda que se promove. Pior se isso é feito em meio a um ajuste fiscal, que é prejudicado pelo governo passar a pagar taxas maiores.

    Mas os juros não atuam via demanda. Eles pouco a alavancam. E a inflação no Brasil é em geral de custo: são mudanças de preços relativos estruturais, como as provocadas pela inclusão social, ou temporárias, como choques agrícolas.

    Os juros altos favorecem a valorização cambial, que diminui os preços dos bens que sofrem concorrência externa, contrabalançando os aumentos de custo.

    Na última década, foi possível reduzi-los, crescendo sob um rígido regime de metas de inflação, pois a alta global das commodities brasileiras tendeu a apreciar o câmbio.

    Porém o cenário cambial é hoje o oposto. Os fluxos comerciais se deterioraram, fruto da queda dos preços das exportações e da longa apreciação que minou a indústria. E voltam sinais de que o EUA pode fazer um aperto monetário.

    Mas as condições para enfrentar a depreciação são melhores que no passado. Como mostram André Biancarelli e Rodrigo Vergnhanini (http://is.gd/5VoTWo), as reservas de dólares são bem maiores, os passivos externos de curto prazo têm peso menor e, de 2002 a 2104, a relação "passivos dolarizados/ativos externos" caiu de 2,3 para 0,8 (a desvalorização agora tende a reduzir liquidamente a dívida). Melhor deixar depreciar.

    Os juros, que subiram cinco pontos percentuais nos últimos dois anos, não precisam dos choques brutais de outrora.

    Isso não torna a desvalorização fácil. São duros seus efeitos sobre preços, salários reais e crescimento, mas a produção local tende a ser privilegiada.

    Vale lembrar que para ter uma moeda depreciada mais fácil é evitar sua apreciação. Juros maiores logo pressionam por revalorizações. Por fim, é preciso discutir novas formas de lidar com sua relação com câmbio e inflação. Não são os juros o instrumento mais apropriado para combater a recessão. Ainda assim, é ruim continuar a elevá-los.

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