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    Não houve imprudência, mas sim coragem, diz governador do PR

    ESTELITA HASS CARAZZAI
    DE CURITIBA

    27/02/2015 02h00

    À frente de uma grave crise financeira e alvo de greves e protestos, o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB), assumiu, em entrevista à Folha, que gastou mais do que deveria, mas diz que foi por "coragem" de fazer as obras de que o Estado precisava.

    "O que interessa para a população são as obras. As dívidas, nós vamos administrando", declarou.

    O Paraná foi o Estado com o segundo maior deficit em 2014, atrás apenas do Rio.

    Após a reeleição, Richa atrasou o pagamento de férias, cortou funcionários da educação e aumentou impostos, além de propor cortar benefícios dos servidores.

    O governo deve R$ 1,5 bilhão a fornecedores. Acusado de má gestão, Richa nega descontrole e culpa o fraco desempenho econômico do país.

    Eduardo Anizelli/Folhapress
    Beto Richa fala à *Folha* em seu gabinete, em Curitiba
    Beto Richa fala à Folha em seu gabinete, em Curitiba

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    Folha - O Paraná enfrenta uma crise. Gastou mais que arrecadou e teve um deficit bilionário. Faltou planejamento?
    Beto Richa - Houve planejamento, sim. O Paraná hoje é muito melhor que antes. E as dívidas, estamos administrando. O que interessa para a população são as obras.
    Quando eu assumi, herdei R$ 4,5 bilhões de dívidas. Contratei 10 mil policiais, 23 mil professores, recuperei perdas salariais, fiz obras em todos os municípios.
    Sim, atrasamos o terço de férias, a rescisão dos professores. Mesmo assim, é preferível isso do que faltar professor em sala de aula ou não ter policial na rua. Tirei o problema dos paranaenses e trouxe para mim. Vou fazer essa obra, vou contratar policiais. Depois resolvemos a situação. Os problemas foram pontuais. Para a população, foi vantajoso.

    Foi imprudência ter gasto mais do que havia em caixa?
    Não, não foi. Foi coragem. Pergunte lá em Londrina: a maior reivindicação era a duplicação da PR-445. Uma obra de R$ 100 milhões. Os técnicos me disseram: "Essa obra é cara, vai ser difícil..." Aí eu peitei. Vamos fazer.
    Uma parte já foi inaugurada. O segundo trecho foi paralisado por dificuldades financeiras. Mas a obra é uma realidade, e vai ser tocada.
    Se eu não tivesse tido coragem lá atrás, ela não teria acontecido. Se você ficar esperando ter dinheiro em caixa, não vai sair do lugar. A economia se deteriorou, tivemos problemas, mas a obra vai acontecer. É isso que importa para o cidadão.

    Preservar a saúde fiscal do Estado também importa...
    Mas as obras aconteceram e as dívidas estão sendo pagas. Estamos preservando.

    É uma visão mais política do que técnica?
    É uma visão de alguém que tem sensibilidade. E eu estou pagando o preço.

    A presidente Dilma Rousseff (PT) também enfrenta dificuldades. A crise no Paraná enfraquece o discurso da oposição contra o governo federal?
    Não, de forma alguma. Nós estamos todos no mesmo contexto. É uma crise nacional, que atinge a todos.

    Mas como os tucanos poderão falar em austeridade depois do que aconteceu no Paraná?
    Esse é um problema que nos foi imposto. O Paraná não é uma ilha. Todos foram atingidos. Nós fizemos a lição de casa, mas a crise nos afetou. No ano passado, nosso orçamento não se confirmou, porque foi baseado em projeções e expectativas anunciadas pela própria presidente. "A economia está aquecendo, vai crescer 5%..." Não houve isso.

    Aécio Neves acusou a presidente de estelionato eleitoral. O sr. foi reeleito dizendo que as finanças estavam saneadas. É estelionato eleitoral?
    De forma alguma. Nós fizemos o que prometemos, sim.
    Eu disse que nós vínhamos equacionando as dívidas do Estado. Vínhamos. Eu estava saneando as contas e fazendo, investindo. Há contratações, obras. Nada disso existia. O Estado está avançando, e a dívida é administrável.
    No caso da presidente, é diferente. Ela disse que não ia mexer em conquistas de servidores. E mexeu. Ela disse: "Nem que a vaca tussa".

    Mas o sr. é acusado exatamente da mesma coisa.
    Mas ninguém me perguntou se eu ia mexer na previdência. Não falei que não ia mexer. Ao contrário. Chegou um momento que, com a queda de receitas e a economia se deteriorando, não dá mais para sustentar dessa forma.

    Por que deixar esses ajustes para depois da eleição?
    As coisas só se agravaram nos últimos meses de 2014. O primeiro pacote foi apresentado em dezembro, mas já vinha sendo elaborado antes.

    Não teria sido mais transparente falar disso antes?
    O planejamento era apresentar no final do ano.

    Politicamente, o sr. sofreu uma queda de popularidade.
    A vida do governante não é só dar boas notícias. Devemos também ter a coragem de apresentar medidas amargas, impopulares, mas fundamentais. Eu tive essa coragem. Mais para frente, as pessoas vão perceber. Minha popularidade oscilou, mas o que não pode oscilar é a coerência.

    Houve recuos em medidas. Faltou habilidade política?
    Houve um erro, mas foi involuntário. Nós tínhamos urgência em implantar essas propostas. Agora, retiramos e estamos discutindo. Eu sou do diálogo, do entendimento.

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