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    Lava Jato

    PMDB acusa Planalto de interferir nas investigações

    ANDRÉIA SADI
    NATUZA NERY
    DE BRASÍLIA

    08/03/2015 02h00

    Um dia após ser implicado na investigação da Operação Lava Jato, o comando peemedebista do Congresso partiu para o ataque contra o governo federal, atribuindo interferência do Planalto na elaboração da lista de 34 parlamentares que serão investigados pelo Supremo Tribunal Federal a pedido da Procuradoria-Geral da República.

    O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), foi citado na peça da procuradoria como integrante do "núcleo político" de uma quadrilha formada para desviar recursos da estatal; o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), foi acusado pelo doleiro Alberto Youssef de receber propina por um contrato com a petroleira.

    Ao negar as irregularidades, Cunha afirmou à Folha neste sábado (7) que "o governo quer sócio na lama. Eu só entrei para poderem colocar Anastasia [no rol]".

    O senador Antônio Anastasia (PSDB-MG) é braço direito de Aécio Neves, presidente do PSDB e adversário de Dilma em 2014.

    Cunha e Anastasia aparecem em um mesmo depoimento da Lava Jato, em que o policial federal afastado Jayme Alves de Oliveira Filho, conhecido como Careca, disse ter entregue R$ 1 milhão ao tucano a mando de Youssef. O senador nega.

    Para Cunha, a peça da procuradoria é uma "piada" e foi uma "alopragem" de integrantes do governo, que, segundo acusa, teriam interferido junto ao procurador-geral, Rodrigo Janot, para incluir tanto ele como a oposição na lista.

    "Sabemos exatamente o jogo político que aconteceu. O procurador agiu como aparelho visando a imputação política de indícios como se todos fossem participes da mesma lama. É lamentável ver o procurador, talvez para merecer sua recondução, se prestar a esse papel", postou no Twitter.

    A Folha procurou, sem sucesso, o procurador-geral. Até a conclusão desta edição o governo não havia se pronunciado sobre o caso.

    O mandato de Janot termina em setembro e depende de indicação da presidente e aprovação na Comissão de Constituição e Justiça.

    No Senado, interlocutores de Renan dizem ter certeza que o governo tentou sair do foco da Lava Jato. Para eles, isso poderá levar Dilma Rousseff a ter seu impeachment pedido pela CPI da Petrobras.

    Mas a posição mais radical dos aliados de Renan não encontra eco ainda no campo de Cunha, que em última instância controla a CPI da Petrobras. Ele mesmo afirma ser contra o impeachment.

    Na avaliação dos peemedebistas, a ''manipulação'' da lista teria se dado por meio do ministro José Eduardo Cardozo (Justiça), com quem Janot tem boas relações.

    Editoria de Arte/Folhapress

    PERSEGUIÇÃO

    Quando confrontados com o fato de petistas ligados à Dilma, como Antonio Palocci, aparecerem na lista, peemedebistas alegam que naturalmente aliados do governo seriam listados, para não configurar perseguição pura.

    Para o PMDB, os inquéritos vão se arrastar no tempo e a presidente, aos poucos, entrará mais no foco da crise.

    Sobre a acusação em si de que formou quadrilha para receber propina, Renan disse neste sábado (7) à Folha que "tudo é inconsistente e frágil" e que é inocente.

    Renan e Cunha já entregaram derrotas no Congresso a Dilma. O próximo embate é a provável derrubada do veto da presidente à correção de 6,5% na tabela do Imposto de Renda, nesta semana.

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