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    Lava Jato

    Presos da Lava Jato usaram celular e comeram costela, diz delator

    FLÁVIO FERREIRA
    MARIO CESAR CARVALHO
    DE SÃO PAULO

    09/03/2015 14h50

    O ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa disse em depoimento de delação premiada que um telefone celular e comida fora do padrão da carceragem, como costela, foram entregues aos presos na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, onde estão os acusados na Operação Lava Jato, que investiga esquema de corrupção na estatal de petróleo.

    Costa ficou detido no local até 1º de outubro do ano passado. Ele deixou a carceragem após fechar acordo de delação premiada.

    No depoimento, o ex-diretor da Petrobras disse ter visto um celular na cela 3, onde estavam o doleiro Alberto Youssef e o advogado Carlos Alberto Pereira da Costa. Youssef afirmou ter providenciado a entrada do aparelho na carceragem, segundo o depoimento do ex-dirigente da estatal.

    Paulo Roberto Costa relatou que então usou o celular entregue nas celas para falar com a família dele por duas vezes.

    O aparelho não ficava o tempo todo na carceragem, era entregue a Youssef e depois recolhido, segundo Costa.

    O preso que mais usou o aparelho foi doleiro Raul Srour, que já foi libertado após pagar fiança, afirmou o ex-dirigente da estatal.

    Segundo o relato, Youssef era o único que tinha dinheiro na carceragem e pagava comida para os presos, que era entregue pelos carcereiros. Em uma ocasião foi entregue costela, segundo Costa.

    No testemunho, o ex-diretor da Petrobras disse que um carcereiro chamado Benites pediu doações sob o argumento de que as contribuições eram para um asilo que contava com a ajuda dele. Costa disse que atendeu ao pedido, e a filha dele fez dois depósitos, de R$ 1 mil e R$ 2 mil, para uma conta indicada por Benites.

    O ex-diretor da Petrobras revelou também que abriu a empresa Costa Global para fins "lícitos", mas acabou recebendo suborno de empreiteiras na conta dessa empresa por meio de contratos simulados de prestação de serviços. Ele citou um contrato da Camargo Corrêa de R$ 3 milhões, assinado em março de 2013, no qual a prestação de serviços se resumiu, segundo Costa, "a três reuniões de planejamento estratégico com esta empresa, para as quais seria justo receber por volta de R$ 100 mil".

    Ainda segundo Costa, a Camargo Corrêa celebrou outro contrato com a empresa dele, de R$ 6 milhões, sobre o qual diz não se lembrar direito qual era o motivo, mas que poderia ser de "vantagens indevidas atrasadas".

    O executivo contou que o dinheiro da Costa Global foi usado para comprar uma casa em construção no condomínio Porto Belo, em Angra dos Reis, no valor de R$ 3 milhões, e uma lancha de R$ 1,1 milhão.

    As informações aparecem num resumo da delação de Costa, enviada ao STF (Supremo Tribunal Federal) pelo Ministério Público Federal para ser usada nos inquéritos sobre os políticos. O STF tornou público esse resumo nesta segunda-feira (9).

    A Polícia Federal não havia se pronunciado até este momento sobre o celular que Costa disse ter usado na cela em Curitiba nem sobre o pedido de comida fora do padrão pelos presos.

    O advogado Antonio Augusto Figueiredo Basto diz que a PF já investigou o uso de celular dentro da cela e concluiu que Costa usou "muito mais" o aparelho do que Youssef.

    Sobre os supostos pedidos de comida, o advogado disse: "Posso garantir que o meu cliente nunca comeu costela lá dentro".

    A Camargo Corrêa diz que está à disposição das autoridades para colaborar com as investigações.

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