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    Cortes e estilo de Pezão provocam 'romaria' a ex-governador Cabral

    ITALO NOGUEIRA
    MARCO ANTÔNIO MARTINS
    DO RIO

    11/03/2015 13h05

    Ricardo Borges - 25.fev.15/Folhapress
    O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, durante visita às obras da linha 4 do metrô
    O governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, durante visita às obras da linha 4 do metrô

    Um escritório no Leblon, na zona sul do Rio, se tornou o muro das lamentações do governo estadual. Ao menos três secretários e alguns funcionários do alto escalão procuraram o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) para se queixar de seu sucessor, Luiz Fernando Pezão (PMDB).

    Investigado na Operação Lava Jato, Pezão também tem de conviver com a insatisfação de funcionários que conviveram com Cabral por conta do corte de gastos e as diferenças de estilo. A crise financeira por que passa o Estado expôs falhas na articulação política de Pezão.

    Alguns secretários se queixam de falta de orientação. Afirmam que saem de uma conversa com Pezão sem saber o destino do assunto. Avaliam que o peemedebista busca impor seu estilo e centralizar decisões. Mas a estratégia já provocou danos.

    No início do mês, Pezão foi ao Tribunal de Justiça pedir autorização para utilizar parte dos depósitos judiciais para pagar aposentados. O fundo acumula cerca de R$ 15 bilhões e tem como função resguardar o pagamento de indenizações e multas a pessoas que vencem ações contra o Estado do Rio.

    O pedido é delicado, pois ação no Supremo Tribunal Federal já questiona o uso desses recursos para pagar precatórios.

    Apesar disso, Pezão apresentou o pleito aos 25 desembargadores do Órgão Especial -responsáveis por aprovar o pedido- sem nenhuma consulta prévia. O presidente do Tribunal de Justiça, Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, era o único que sabia do que se tratava o pedido.

    A apresentação surpreendeu os desembargadores. Pezão acabou repreendido, por sequer ter enviado um resumo do pleito aos magistrados.

    Discussões sobre ajuste fiscal também resultaram na saída do ex-secretário de Fazenda Sérgio Ruy, um mês após efetivado no cargo. Ele defendia a suspensão de isenções fiscais por dois anos, mas se irritou com o que considerou indecisão de Pezão.

    O atual governador tem um estilo mais seco do que Cabral. Costuma atender a todos que o procuram, mas algumas audiências duram menos do que dez minutos. Estilo diferente do antecessor, que prezava pelo afago a seus colaboradores.

    "Cabral era mais ágil. Mas o Estado estava nadando em dinheiro, o que facilitava", diz titular de uma pasta que conviveu com os dois.

    BELTRAME

    Um dos que bateram à porta de Cabral foi o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame. Ele ficou insatisfeito com a determinação de corte de gastos determinado por Pezão no início do ano.

    O secretário se queixou de falta de diálogo com o governador e disse ser inviável reduzir os custos. Cabral, contudo, recomendou "paciência" ao secretário, que acabou fazendo os cortes.

    Cabral e Pezão mantém diálogo constante. Elas se intensificaram com a divulgação dos primeiros depoimentos que citam seus nomes na operação Lava Jato. Mas o ex-governador ainda não tentou interferir nas decisões do aliado, que foi seu vice por sete anos e três meses.

    Contudo, o ex-governador tem sido o destino de seus colaboradores insatisfeitos. Pezão demitiu parte da equipe da Subsecretaria de Comunicação Social ligada a Cabral. Também retirou alguns coordenadores da sua campanha e de Marco Antônio Cabral, filho do antecessor.

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