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    Sem rival evangélico, PT consegue a Comissão de Direitos Humanos

    MÁRCIO FALCÃO
    DE BRASÍLIA

    12/03/2015 12h37

    Sérgio Lima/Folhapress
    O deputado Paulo Pimenta (PT-RS, centro) foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara
    Paulo Pimenta (PT-RS, no centro), eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara

    Numa sessão que reeditou antigos embates e sem adversário da bancada evangélica, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS) foi eleito nesta quinta-feira (12) como presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara.

    Candidato único, o petista recebeu 14 votos favoráveis e 3 em branco.

    Em seu discurso, fez um aceno aos parlamentares religiosos, pregando uma convivência harmoniosa entre os vários segmentos da sociedade e defendendo que "todas as pessoas têm o mesmo valor".

    "O papel político [da comissão] e que seus representantes devem ser uma voz atuante na luta contra as diversas formas de exclusão e de discriminação. Não podemos admitir a fragilização da cultura dos Direitos Humanos. É urgente que se promova o debate necessário à constituição de novas formas de convivência fundadas nos princípios da solidariedade, da sustentabilidade, da diversidade e da inclusão", afirmou.

    Para evitar que Pimenta enfrentasse rivais da bancada religiosa –maioria na comissão–, o PT atuou e conseguiu que os líderes partidários trocassem três deputados que articulavam candidaturas avulsas: Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), aliado do pastor Silas Malafaia, Anderson Ferreira (PR-PE) e Pastor Eurico (PR-PE).

    Diante do movimento para esvaziar as candidaturas alternativas e rachados, os religiosos decidiram recuar e confirmar a eleição do petista. Sóstenes até pensou em recorrer ao STF (Supremo Tribunal Federal), mas acabou desistindo.

    O colegiado tem sido objeto de desejo dos religiosos porque trata de questões ligadas a temas progressistas, como aborto e orientação sexual.

    Segundo Sóstenes, os deputados evangélicos decidiram que a bancada não vai fechar nomes paras as vice-presidências. O cargo tem relevância porque, na ausência do presidente, o vice assume o posto e pode ditar o ritmo da sessão e até colocar propostas em votação.

    A discussão sobre as vices dividiu o grupo. Uma ala propõe lançar candidatos e disputar no voto os cargos, sendo que a outra avalia que o melhor é não ter representante no comando do colegiado. "Pode parecer um alinhamento que não há", afirmou o deputado Marcos Rogério (PDT-RO).

    FELICIANO

    Esse é o segundo desentendimento na bancada que, nesta quarta, pressionou o deputado Marco Feliciano (PSC-SP) a desistir de um acordo com deputados petistas para o comando.

    Ele negociava viabilizar seu nome para uma das vice-presidências do colegiado. O acerto também previa o deputado Jean Wyllys (PSOL-RJ), adversário político do pastor, com outra vice-presidência.

    O desentendimento surgiu porque o acordo envolvia Wyllys, desafeto da bancada. Feliciano foi cobrado pelos colegas teve que negar qualquer acerto.

    A sessão foi dominada por uma troca de provocações entre os deputados religiosos e os ligados a causas gays. Após uma intervenção de Jean Wyllys (PSOL-RJ), Pastor Eurico provocou afirmando que a bancada não pode ser tratada como homofóbica.

    "Homofobia é patologia clínica. É diferente do que se trata aqui. Eu discordar de algo não faz eu querer odiar ou matar as pessoas. Os discursos que aqui são feitos sempre são agressivos", afirmou.

    A deputada Erika Kokay (PT-DF) saiu em defesa. "Alguns acham que homofobia é aquela que deixa marca, rasga a pele, mas também é construída nos púlpitos, nas tribunas do nosso país. O discurso não é inocente. A violência das palavras transborda e vai desumanizando."

    Feliciano também entrou na discussão e afirmou que a comunidade evangélica também sofre preconceito. Ele afirmou que na escola foi vítima de discriminação por ser evangélico e "gordinho". "Onde está a intolerância? Eu sofri preconceito na escola por ser evangélico, gordinho e ainda estou vivo", disparou.

    Ele acusou os deputados ligados as causas gays de terem abandonado a comissão sob sua presidência em 2013 e reclamou da linha defendida pelos colegas. "Queremos mostrar nosso posicionamento político. A comissão tem que ser de direitos humanos e não dos manos."

    Sóstenes Cavalcante acusou o PT de "estuprar e violar partidos", ao articular substituições de parlamentares na comissão, e disse que o partido tem preconceito contra deputado evangélico.

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