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    No período 1985-2015, país optou pelo social em detrimento da economia

    GUSTAVO PATU
    DE BRASÍLIA

    15/03/2015 02h00

    Editoria de Arte/Folhapress

    À primeira vista, uma comparação entre o Brasil atual e o dos primeiros dias da redemocratização mostrará progressos inquestionáveis.

    De lá para cá, a renda do país mais que dobrou, e a proporção de pobres na população é hoje pouco mais de um terço da medida há 30 anos.

    As heranças econômicas e sociais mais amargas deixadas pela ditadura militar foram equacionadas: a dívida externa foi renegociada e está sendo paga em dia; a ameaça de hiperinflação foi debelada; a crônica desigualdade entre ricos e pobres apresenta números melhores.

    Um olhar mais atento, porém, e os avanços despertam menos entusiasmo —a começar pela expansão da renda nacional, inferior à do resto do mundo e, especialmente, à dos demais países ditos emergentes no período.

    Editoria de Arte/Folhapress

    A ascensão social ainda é precária. Nas contas do Banco Mundial, mais de um terço da população vive numa faixa intermediária, entre as aflições da pobreza e a estabilidade da classe média.

    E, a despeito das melhoras domésticas, o Brasil permanece entre os líderes dos rankings mundiais de inflação, endividamento público e concentração de renda.

    Tudo somado e subtraído, fica evidente que, com o restabelecimento da democracia, políticos e eleitores escolheram previdência, saúde, educação e assistência como prioridades do Estado —ainda que em detrimento do crescimento econômico.

    OPÇÃO PELO SOCIAL

    "Tudo pelo Social" foi o lema adotado pelo governo José Sarney (1985-1990), o primeiro após a saída dos militares do poder. Mas o mesmo Sarney, diante da profusão de benefícios e direitos incluídos na Constituição de 1988, disse que o país ficaria "ingovernável".

    Dramaticidade à parte, é fato que desde então dificuldades para fechar as contas do Tesouro Nacional convivem costumeiramente com taxas modestas de expansão da economia.

    Nas últimas três décadas, o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu, em média, 2,9% ao ano; nas três décadas anteriores, de predomínio do Estado desenvolvimentista, a média era de 6,5%. A participação brasileira no PIB global caiu de 4%, em 1985, para 2,9% estimados no ano passado pelo FMI (Fundo Monetário Internacional).

    As explicações para tal desempenho opõem as principais correntes de pensamento que se alternaram no governo no período.

    Editoria de Arte/Folhapress

    Entre os mais liberais, aponta-se o peso crescente das obrigações do Estado, que, por exemplo, elevaram a carga tributária de 24% a 36% do PIB, patamar inusitado para o emergente.

    Mais à esquerda, culpam-se os juros, de longe os mais elevados entre as principais economias globais, e seu impacto na dívida pública. As taxas anômalas refletem a precária estabilização da inflação promovida pelo Plano Real, de 1994.

    BONANÇA PASSAGEIRA

    Os conflitos orçamentários mereceram um período de trégua na segunda metade da década passada, quando o país finalmente conseguiu acelerar o crescimento, gastar mais na área social sem desequilibrar as contas do governo e, não menos importante, reduzir a pobreza.

    Entre os anos de 2006 e 2010, o PIB cresceu, em média, 4,4% anuais, impulsionando a arrecadação do governo. Os pobres, segundo critérios do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), passaram de 31% para 15% da população em 2013.

    A bonança, porém, era passageira. Tratava-se do efeito da expansão vertiginosa da economia da China, fenômeno que encareceu os produtos primários, como petróleo, minério de ferro e soja, estratégicos nas exportações brasileiras.

    Encerrado o ciclo de alta dos preços, o crescimento do PIB se foi —e com ele a promessa de ressurreição do Estado tocador de obras e condutor do desenvolvimento, base da primeira campanha eleitoral da presidente Dilma Rousseff.

    Como seus antecessores Sarney, Collor, FHC e Lula, a petista agora lança pacotes de aumento de impostos e corte de despesas públicas, eleva os juros para conter a inflação e procura, sem grande sucesso, uma solução para a escassez de investimentos na infraestrutura do país.

    Editoria de Arte/Folhapress
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