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    Ato no Rio mistura protesto contra Dilma e defesa de golpe militar

    CAIO LIMA
    FABIO BRISOLLA
    FELIPE GUTIERREZ
    LUCAS VETTORAZZO
    LUIZA FRANCO
    MARCO ANTONIO MARTINS
    DO RIO

    15/03/2015 14h01

    O protesto deste domingo (15) em Copacabana, na zona sul do Rio, congregou grupos com críticas distintas ao governo da presidente Dilma Rousseff.

    Houve manifestações pelo impeachment e outras favoráveis a mudanças, mas que consideravam a saída da presidente uma atitude drástica demais. Apareceram ainda defensores de uma intervenção militar.

    Segundo organizadores da mobilização, 50 mil pessoas participaram do protesto na orla de Copacabana. Já o comando da PM do Rio se recusou a fazer neste domingo (15) uma estimativa oficial de público na marcha contra a presidente Dilma Rousseff e o governo do PT ocorrida durante a manhã, em Copacabana, zona sul da cidade.

    A Folha entrou em contato com a assessoria de imprensa da PM para ter um número consolidado no final da marcha e recebeu como resposta, por email, que "a Polícia Militar não divulga estimativa de número de pessoas em manifestações". "Sugiro que você solicite este dado aos organizadores do evento", informa a nota.

    Em todo o país, a Polícia Militar é quem faz a estimativa do público em atos públicos. A única exceção no Rio é o réveillon da praia de Copacabana, cujo público é divulgado pela prefeitura.

    Durante as manifestações de junho de 2013 no Rio, coube à PM fazer as estimativas de público. O cálculo de praxe são seis pessoas por metro quadrado. A marcha em Copacabana ocupou as duas pistas da avenida Atlântica por uma extensão de quase três quarteirões.

    Por telefone, a assessoria de imprensa da PM informou que a não-contabilização do público era uma "determinação superior", passada desde que assumiu o novo comandante geral da PM, Alberto Pinheiro Neto, em novembro.

    Os manifestantes de Copacabana concentraram suas críticas à presidente Dilma Rousseff, sem referir ao atual do governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, e seu antecessor e padrinho político, Sergio Cabral. Os dois foram investigados na Operação Lava Jato como beneficiários de propina. Pezão teve pedido de investigaçãofeito pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.

    Eleitores do tucano Aécio Neves compareceram em peso ao protesto. Era possível encontrar também aqueles que votaram em Dilma, mas que agora expressavam arrependimento diante dos problemas na economia e dos escândalos de corrupção revelados nos últimos meses.

    Mesmo com argumentos políticos variados, predominou um ponto em comum entre todos os presentes: a aversão ao PT, alvo preferencial nos cartazes e músicas cantadas em coro ao longo do protesto.

    "Fora PT! Fora PT!" pode ser considerado o coro que deu o tom do protesto deste domingo no Rio.

    "A nossa bandeira jamais será vermelha", cantavam outros.

    Outro exemplo da rejeição ao partido foi constatado no refrão da canção "Para Não Dizer Que Não Falei de Flores", de Geraldo Vandré, que ganhou uma adaptação com ofensas ao ex-presidente Lula: "Dilma vai embora/ Que o Brasil não quer você/ E leva junto o Lula/ Vagabundo do PT".

    Chamou atenção a presença do deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) que caminhou atrás de um carro de som com faixas a favor do impeachment e teve tratamento de celebridade. A todo momento, posava para fotos e fazia selfies ao lado de manifestantes.

    "Vamos despetizar o Brasil para sonhar com um país melhor", disse Bolsonaro.

    Quando convidado a subir no carro de som para discursar, ele se aproximou do veículo e cogitou atender o pedido. No mesmo instante, no entanto, houve reação contrária, com vaias daqueles que não queriam a participação de políticos no ato.

    Editoria de Arte/Folhapress

    HUMORISTA

    Quem subiu foi o humorista Marcelo Madureira, que discursou para a multidão ao redor do carro de som.

    "Não queremos ditadura nem de esquerda e nem de direita", disse Madureira, que mencionou Dilma e Lula. "São aliados do Sarney, do Collor, do Renan Calheiros. Não somos aliados do PT. Somos aliados do Brasil".

    A passeata transcorreu sem violência. Houve, no entanto, um incidente que envolveu um integrante do Sindipetro-RJ, o sindicato dos petroleiros do Estado do Rio.

    Hermes Alves de Moreira, 63, ex-operário da indústria do petróleo, tentou defender o governo Dilma e acabou hostilizado pelos manifestantes, que chegaram a rasgar um cartaz trazido por ele. Também mostraram notas de dinheiro para sinalizar que o militante tinha sido pago para estar ali.

    A Policia Militar teve que escoltar o petroleiro até uma área distante da zona de protestos. "Votei na Dilma, sim. Isso é falta de democracia. Me expulsaram de lá", disse Moreira.

    Celebrado por vários manifestantes, Aécio Neves permaneceu ao longo desta manhã em seu apartamento na orla de Ipanema, bairro vizinho ao local do protestos.

    Vestido com uma camisa da seleção brasileira, ele permaneceu dentro de casa e não chegou a interagir com o público que passava na frente de sua residência a caminho da manifestação.

    INTERVENÇÃO MILITAR

    À tarde, outro protesto pediu intervenção militar no país e reuniu cerca de 500 pessoas na praça da Candelária, centro do Rio. O ato, organizado por um grupo autointitulado "Legalistas", começou por voltas das 15h e partiu em caminhada em direção à Central do Brasil.
    Além dos pedidos que tomam as ruas do país neste domingo (15), como fim da corrupção e impeachment da presidente Dilma Rousseff, eles pedem que os militares assumam o poder no país. Eles rebatem a tese de golpe. Dizem que uma intervenção duraria 90 dias, tempo em que as Forças Armadas fariam uma espécie de "limpa" no país, prendendo políticos corruptos.

    Após esse prazo seriam convocadas novas eleições no país. Ao longo da marcha, o carro de som tocou hinos militares e também o hino do Brasil. Os manifestantes carregavam faixas e bandeiras do país.
    A contadora Cristina Iffa, 52, é uma das que defende intervenção.

    "Não tem candidato melhor para assumir que não os militares. A Dilma tem que ser afastada e investigada e as investigações não vão para frente porque a justiça é muito aparelhada. Não tem jeito", disse.
    O estudante de direito Douglas Santos, 18, também disse ser a favor da intervenção militar. Segundo ele, só os militares teriam condição de moralizar o país.

    "Corrupção tem em todo o lugar, mas os militares têm leis mais rígidas e úteis contra a corrupção". Ele disse que não acredita na renúncia da presidente sem que haja intervenção.

    Quando a marcha chegou ao Panteão de Duque de Caxias, na avenida Presidente Vargas, monumento que fica em frente ao Comando Militar do Leste, um dos organizadores da marcha, o sargento da reserva da Aeronáutica, Tôni Imbrósio, afirmou que "o único exército que o povo confia é no de Duque de Caxias", seguido de aplausos.

    Embora os intervencionistas fossem maioria, nem todo mundo concordava com a intervenção. Um militar da reserva de 71 anos que não quis se identificar afirmou que "as Forças Armadas não querem assumir o governo brasileiro". Segundo ele, os forças irão apoiar o povo nas ruas, mas não partirá dela os movimentos para a queda da presidente.

    O caminho para o Impeachment; Crédito William Mur/Editoria de Arte/Folhapress

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