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    Para Cid, combate a corrupção afasta presidente de aliados

    NATUZA NERY
    JOÃO CARLOS MAGALHÃES
    DE BRASÍLIA

    19/03/2015 02h00

    Antes de colocar os pés na Câmara nesta quarta-feira (18), Cid Gomes, ainda ministro da Educação, confidenciou a amigos: "eu não vou me humilhar." Suas duras declarações diante de uma base congressual arredia à presidente da República motivaram sua demissão relâmpago.

    Entre o abandono da tumultuada sessão e o anúncio de sua demissão pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), decorreram menos de 30 minutos.

    Já na condição de ex-ministro, Cid Gomes afirmou a jornalistas ao deixar o Palácio do Planalto que a presidente Dilma enfrenta uma crise na relação com o Legislativo justamente por sua atitude contra desvios éticos. "E é isso que fragiliza sua relação com boa parte dos partidos, que querem isso [corrupção]." A crítica de Cid tinha um endereço claro: o PMDB.

    Nos bastidores, a avaliação de integrantes do próprio governo é de que a petista se rendeu ao ultimato do PMDB. Entre Cid e o partido, Dilma ficou com a segunda opção.

    Um de seus raros defensores públicos antes, durante e depois da campanha presidencial, Cid Gomes deixou a Câmara ciente do término de sua atuação na Esplanada.

    À presidente explicou que jamais poderia recuar de sua opinião sobre partidos e parlamentares, mas entendia que sua permanência causaria constrangimento a Dilma. "Compreendo e lamento", respondeu a presidente.

    Ao deixar o gabinete presidencial, Cid abraçou funcionários: "Estou feliz, tranquilo". O mesmo foi dito a jornalistas que o aguardavam.

    "Tem muito discurso de oposição, muita gente que fala em corrupção. Parece uma coisa intrínseca ao governo, mas o que Dilma está fazendo é exatamente limpar o governo de corrupção que aconteceu no passado. É isso que ela está fazendo. É por isso que a gente vive uma crise."

    Para o ex-ministro, foi Dilma quem demitiu da Petrobras os ex-diretores que agora estão sob investigação na Operação Lava Jato, Paulo Roberto Costa e Renato Duque.

    Segundo Cid, a atual crise "é anterior" à presidente. "Ela, ao contrário, como é séria, está limpando e não está permitindo isso", afirmou. Cid Gomes foi parar no Ministério da Educação por insistência de Dilma e só aceitou após receber a terceira sondagem.

    Na saída do Planalto, o ex-ministro voltou a criticar a composição do Congresso. "Considero o parlamento fundamental para a democracia. O lamentável é a sua composição, e a forma de se relacionar com o poder. Virou o antipoder. Ou tomam parte do poder, ou apostam no quanto pior, melhor, para assumir o poder e muitas vezes fazer as mesmas coisas que se está fazendo, ou pior."

    Com a saída de Cid, o Ministério da Educação será comandado interinamente por Luiz Cláudio Costa, atual secretário-executivo da pasta. O PT já avisou a integrantes do governo que vai reivindicar o controle do ministério.

    "Lamento pela educação do Brasil", disse Cid após entregar o cargo. "Lamento porque tem muito o que fazer, e eu estava muito entusiasmado. Já tinha visitado seis Estados em dois meses e pouco. Iniciamos projetos que são importantes para melhorar a educação pública no Brasil."

    Editoria de Arte/Folhapress

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