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    Lava Jato

    Em CPI, Duque diz saber responder às acusações e ter 'consciência tranquila'

    AGUIRRE TALENTO
    GABRIEL MASCARENHAS
    DE BRASÍLIA

    19/03/2015 15h56

    Sérgio Lima/Folhapress
    O ex-diretor da Petrobras Renato Duque, durante audiência na CPI da Petrobras, na Câmara
    O ex-diretor da Petrobras Renato Duque, durante audiência na CPI da Petrobras, na Câmara

    Apesar de ter adiantado à CPI da Petrobras que permaneceria calado no depoimento desta quinta-feira (19), o ex-diretor da estatal Renato Duque deu breves declarações e afirmou estar com a "consciência tranquila". "Eu vou provar que meus bens têm fundo no meu trabalho", disse ao fim da sessão.

    Duque ainda negou que ele ou sua esposa tenham parentesco com o petista José Dirceu ou que sua esposa tenha procurado o ex-presidente Lula para pedir ajuda para que fosse solto.

    Preso na última segunda-feira (16) pela décima fase da Operação Lava Jato, Duque já havia sido convocado pela CPI e, após a suspensão de um ato da Câmara que impedia a oitiva de presos dentro da Casa, foi conduzido nesta quinta da carceragem da Polícia Federal até a Câmara para ser ouvido pelos deputados.

    Ex-diretor de Serviços da Petrobras, Duque é apontado pelo ex-gerente Pedro Barusco, seu subordinado, como beneficiário do pagamento de propinas de empresas. Segundo Barusco, que assinou delação premiada, Duque recebia parte da propina e ainda repassava outra parte ao PT, por meio do tesoureiro João Vaccari Neto. Ambos negam as acusações.

    Duque começou a falar por volta das 10h30. Ao ser apresentado, já adiantou: "Existe uma hora de falar e uma hora de calar. Esta é a hora de calar, do meu ponto de vista, eu estou sendo acusado, me encontro preso, então por esse motivo é que eu estou exercendo meu direito constitucional ao silêncio".

    Ao fim do seu depoimento, por volta das 14h30, Duque disse que sua defesa já havia avisado à CPI que não falaria e por isso não poderia ser responsabilizado pelo custo do seu deslocamento, mas explicou as razões de não se pronunciar sobre o mérito das questões.

    Ele afirmou que só ficou calado por orientação dos advogados. "Não tenho problema nenhum em discutir qualquer um dos assuntos aqui levantados porque eu tenho a consciência tranquila, sei como responder e tenho argumentos suficientes de rebatê-los. Apenas eu tenho a obrigação de seguir a minha orientação legal. Não é porque eu tema e esteja de antemão me declarando culpado", declarou.

    E completou: "Estou com a consciência tranquila e vou me defender na hora certa".

    Seu advogado, Alexandre Lopes, afirmou à imprensa após a sessão que Duque queria prestar depoimento, mas foi orientado a não falar. "O Renato Duque continua negando a propriedade e movimentação de dinheiro fora do país", disse.

    O advogado afirmou ainda que é "radicalmente contra" delação premiada e que, nas conversas com o ex-diretor, ele nega as acusações e diz não ter o que delatar. "Ele não tem o que delatar e não tem quem delatar", disse.

    Lopes chamou Barusco "mentiroso". "Está faltando com a verdade pra ganhar um prêmio", disse.

    CRÍTICAS

    Provocado, chamado de "corrupto" e criticado por ficar calado, Duque não resistiu quando os parlamentares ameaçaram convocar sua esposa e quando Izalci Ferreira (PSDB-DF) perguntou se havia laços de parentesco dele ou dela com o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, condenado no mensalão, como citado pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa, delator da Lava Jato.

    "Quando eu digo infelizmente [não posso responder], é porque realmente tem determinadas perguntas que não tem nenhum problema de responder. Uma questão de parentesco é uma questão de árvore genealógica, basta olhar a árvore genealógica de um e de outro. Não tem nenhum parentesco, nunca teve", afirmou.

    Também as acusações de que sua mulher teria procurado o ex-presidente Lula ou o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, para pedir ajuda na libertação dele na primeira vez que foi preso. "Minha esposa nunca esteve com o presidente Lula ou com o senhor Okamotto. Não conhece, nunca conheceu", afirmou.

    Em outro breve momento de declaração, negou conhecer o doleiro Alberto Youssef, apontado como operador da propina na diretoria de Paulo Roberto Costa.

    DELAÇÃO

    Os parlamentares tentaram incentivar Duque a falar e lembraram a ele do caso de Marcos Valério, condenado no mensalão, atualmente preso em regime fechado, enquanto Dirceu já teve progressão para o regime aberto.

    O líder do PSDB, Carlos Sampaio (SP), afirmou a ele que "a chance de ser protegido pelo PT é zero". "A postura do senhor Marcos Valério no mensalão foi que 'o PT vai me salvar'. Momentos antes de ser preso, tentou denunciar os envolvidos, e aí sua delação premiada não foi mais acolhida. Resultado: 40 anos de prisão".

    O deputado Paulinho da Força (SDD-SP) foi mais duro e disse que foi vítima do "assalto" de Duque à frente da Petrobras. "Lá atrás quando foi aberta a possibilidade de trabalhadores comprarem ações da Petrobras, eu fui o primeiro metalúrgico a comprar. Eu tinha R$ 36 mil no FGTS e comprei R$ 18 mil, que era o permitido, e fiquei com R$ 18 mil no fundo. Os meus R$ 18 mil, chegaram a valer R$ 298 mil na Petrobras. Hoje, meu último extrato recebido pela Caixa, não passa de R$ 40 mil".

    Também houve bate-boca entre os parlamentares. Petistas citaram casos de corrupção na Petrobras na época do governo Fernando Henrique Cardoso e o deputado Delegado Waldir (PSDB-SP) rebateu afirmando que eles precisavam de "óleo de peroba", o que provocou discussão entre eles.

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