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    Grupos antigoverno destacam discursos de negros e pobres

    FABIANO MAISONNAVE
    DE SÃO PAULO

    23/03/2015 02h00

    Vistos como representantes da "elite branca", movimentos contrários à presidente Dilma Rousseff (PT) que ajudaram a organizar os atos do último dia 15 vêm ampliando o espaço para negros e pobres nos palanques e em vídeos em redes sociais.

    O caso mais emblemático é de Fernando Holiday, 18. Negro, criado em Carapicuíba (Grande São Paulo), egresso da escola pública e filho de uma auxiliar de hospital aposentada e de um garçom, ele se uniu ao MBL (Movimento Brasil Livre), formado por jovens que pregam o Estado mínimo e defendem o impeachment de Dilma.

    Divulgação
    Fernando Holiday, 18, foi convidado a participar do MBL e discursou em ato no domingo
    Fernando Holiday, 18, foi convidado a participar do MBL e discursou em ato no domingo

    O convite para ingressar ao MBL veio depois que ele mostrou um vídeo caseiro em que ataca o Movimento Passe Livre (MPL), antípoda dos jovens liberais.

    Na Paulista, discursou: "Vamos parar com esse negócio de que só a elite está aqui. Sou negro e pobre e estou pedindo a saída da Dilma".

    Na série de vídeos que passou a gravar para o MBL, Holiday faz críticas que dificilmente um branco teria coragem de dizer em público.

    Ele compara Zumbi dos Palmares (1655-1695), herói do movimento negro, ao líder nazista Adolf Hitler e diz que o governo é racista por ter criado as cotas.

    "Se é assim, vamos fazer cota para gostosa, porque existe na sociedade o preconceito de que toda gostosa é burra", diz.

    Em entrevista via Facebook, não quis responder se havia outro negros no MBL: "Isso soa até mesmo como uma ofensa. Não saímos pelas ruas procurando negros para participarem do movimento, a única característica que une todos os membros do MBL é a luta pela liberdade."

    "Sempre houve casos de negros isolados sendo usados para legitimar a Casa Grande, a escravidão", afirma ativista negra Bel Santos, 47. "Mas é triste ver um menino que fala bem dizendo que não é igual a 'negros pilantras'", completa.

    Para ela, que mora perto da Paulista, a maioria branca era óbvia. "Foram os brancos que tiraram fotos com a PM. Vi mais negros depois do protesto, catando as latinhas", diz Santos, do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (Ibeac).

    Segundo pesquisa Datafolha com participantes do protesto na avenida Paulista, sete em cada dez (69%) se declararam brancos, seguidos da cor parda (20%) e preta (5%). No município, 48% dos paulistanos se identificam como brancos, seguidos por pardos (33%) e pretos (14%).

    Com relação à renda, 41% dos manifestantes informaram uma renda superior a 10 salários mínimos.

    Em São Paulo, o percentual dessa faixa de renda despenca para 9%, sempre de acordo com o Datafolha.

    CATADOR DE LIXO

    No carro do movimento Vem Pra Rua (VPR), que tem empresários no seu núcleo e não defende o impeachment, o estudante negro de desenho gráfico Eduardo Santos Pereira atuou como uma espécie de apresentador.

    Um dos que discursaram foi Marcos do Lixão, identificado como líder de catadores de São Bernardo do Campo.

    O porta-voz do VPR, Rogério Chequer, 46, afirma que nenhum dos dois pertence ao movimento e que não se trata de uma tentativa de criar pontes fora da "elite branca". "Se não, seria superfácil. Se a gente quisesse, a gente colocava só negros para falar o dia inteiro."

    Chequer afirma que Eduardo Santos é um colaborador antigo, atua de forma voluntária e tem "um perfil de animador": "Ele consegue expressar as coisas que a gente quer, embora não seja alinhado em tudo."

    Sobre o Marcos do Lixão, o porta-voz do Vem Pra Rua diz que só o conheceu no dia. O convite para falar ocorreu após uma conversa em cima do carro de som.

    A Folha tentou entrar em contato com o estudante de desenho gráfico via Facebook, mas não obteve sucesso. Apesar de pedidos reiterados, o VPR não passou seu telefone. Marcos do Lixão não foi localizado.

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